O ácido acetilsalicílico, conhecido
popularmente por marcas como aspirina, AAS, bayaspirina, bufferin (aspirina
buferada) e outros, também está presente em inúmeras fórmulas vendidas como
‘antigripais’ e é, talvez, uma das mais antigas entre as maiores descobertas da
medicina.
Papiro de Ebers |
Tudo começou com o uso da casca do
salgueiro usada contra diversas doenças no Egito antigo, de que há registros no
chamado ‘Papiro de Ebers’ (de 1.534 a.C.) No papiro, havia referências a
substâncias medicinais extraídas da casca do salgueiro que eram usadas contra
dores e anti-inflamatório na antiguidade.
Friedrich Bayer (1863) |
No princípio do século 19, cientistas iniciaram estudos para
a criação de uma medicação sintética baseada nos mesmos princípios do salgueiro
(ácido salicílico), o que veio a acontecer em 1850. Os cientistas Friederich
Bayer e Johann Wescott modificaram a descoberta, sintetizando o ácido
acetilsalicílico e batizando-o ‘aspirina’, em 1889, minorando alguns efeitos
colaterais da medicação original.
Infográfico (Site oficial Dr. Dáuzio Varella) |
Em matéria publicada na Folha há algum tempo, o conhecido
infectologista Dráuzio Varella discorre sobre a descoberta da aspirina, com
informações baseadas em seus sempre muito bem embasados estudos. Segundo ele, o
mundo hoje produz 40 mil toneladas por ano do produto, que já foi objeto de nada
menos do que 26 mil ensaios e teses científicas. Usada como antitérmico,
analgésico e anti-inflamatório, a aspirina só teve o maior de seus segredos
revelados em 1970, quando descobriram que sua maior propriedade seria impedir a
agregação de plaquetas. Por conseguinte, a medicação passou a ser vista como
recurso contra a formação de coágulos, assim evitando acidentes
vasculares cerebrais (o AVC, ou ‘derrame’) e cardiovasculares (infarto). (Site oficial Dráuzio Varella: http://drauziovarella.com.br/)
Ácido acetil-salicílico: fórmula estrutural |
Ainda segundo Varella, uma quantidade
de aspirina de até 325 mg (pouco mais de 3 comprimidos) antes de 24 horas após
um infarto reduz em 50% o risco de morte ou de um segundo ataque! Quem está com
sintomas sugestivos de infarto, ele sugere, deve tomar 2 a 3 comprimidos,
enquanto aguarda o auxílio médico - ‘mal não fará’, disse.
Anderson Lima atingido:(UOL esporte) |
Há coisa de 8 anos, fraturei a fíbula (quando estudei,
chamava-se perônio), perto do pé - um ossinho poderoso, do qual depende a articulação
do tornozelo, e até o equilíbrio do corpo. Essa ‘fraturazinha’ jogou ao chão o
lutador Anderson Silva em uma luta, após um golpe do adversário, e mesmo
podendo pagar os melhores médicos, hospitais e cirurgiões dos EUA, ainda está
inseguro para lutar.
Pois
eu fui pessimamente atendido em um hospital particular paulistano, cujos
médicos não apenas exageraram no tempo de imobilização. Segundo um ótimo e
conhecido ortopedista de Tatuí, não seria caso de cirurgia, como os colegas de
São Paulo insinuaram (a clínica cirúrgica particular deles ficava a uma quadra
do hospital onde atendem: uma ‘linha de montagem’ de fazer dinheiro. Fui imobilizado por tempo demais).
Consolidação da fíbula direita |
O ortopedista de Tatuí também me informou que, sem querer
saber por quem ou onde fui tratado, nesse tipo de fratura, assim que começa a
surgir no raios-x a consolidação, deve-se deixar a imobilização para que os
movimentos sejam retomados, juntamente com acompanhamento fisioterapêutico.
Nada disso foi feito, por falta de orientação, e fiquei com sequelas, sendo a
pior, agora sob controle, um edema linfático e venoso, de que só passei a me
cuidar depois de consultar outro ótimo especialista da cidade, que sugeriu um
exame mais complexo.
Doppler venoso colorido: abril de 2014 |
Em abril de 2014 fiz um ultrassom com doppler colorido da
parte afetada (ver ao lado). “Só para vermos se algum ‘vasinho’ foi afetado”,
disse-me ele, sem querer antecipar nada. Foi aí então que descobri que eu
tivera um trombo na veia femoral, e ele havia ficado retido em uma válvula do
vaso até... dissolver-se!!!
Muito antes disso, meu antigo cardiologista de São Paulo,
prof. titular da Unifesp, após exames de rotina, sugeriu-me uma aspirina
infantil (100 mg) todas as manhãs. Isso foi há mais de 15 anos, e mantenho o
costume até hoje, tomando o cuidado de suspender a aspirina alguns dias antes
de uma cirurgia ou mesmo tratamento dentário – qualquer sangramento sob o uso
da medicação dificulta a coagulação.
Embolia femoral e suas consequências possíveis |
Pois no meu caso o trombo poderia ter seguido o caminho da
veia femoral e subir, causando uma embolia (de ‘êmbolo’) pulmonar (ver ilustração ao lado), infarto ou outras complicações. O trombo ‘preso’ fora
dissolvido graças à aspirina! Passei a interessar-me pelo assunto, li muitas
matérias e artigos, textos científicos como o ‘Patient’ (UK), ‘Publimed’,
‘WebMd’ e o ‘Journal of Thrombosis’ (todos dos EUA), entre outros.
O famoso 'durão' Dr. House, ele próprio na cena um paciente , com seu mascote |
Agora, ninguém deve se medicar continuadamente com
aspirina – fora ocasionais simples dores de cabeça e febre baixa – sem orientação médica.
Deve haver cuidado especial em pessoas portadoras de diabetes, insuficiência
renal e hemofilia, entre outros, fora alguns efeitos e doenças colaterais, como
irritações estomacais, a ‘síndrome de Reye’, reações alérgicas e outros.
Não vá cego pela minha opinião, de simples paciente salvo
por aspirina, sem uma consulta ao seu médico especialista. Em tratamento
prolongado por 5 anos ou mais, a aspirina pode salvar e prolongar vidas. Porém,
apesar de simples e popular, ela não deixa de ser uma droga, e portanto somente
deve ser usada preventivamente com a devida recomendação de médico
especialista. E continuo com minha rotina diária de aspirina, minha
fisioterapia por drenagem para reduzir o edema linfático e venoso, meias de compressão e controle
médico. Mas o ponto final disso tudo é que fui salvo pelo uso diário do pequeno e em princípio
inofensivo eventual comprimido infantil.
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