Rayssa Leal |
De medalhas fomos muito bem, obrigado, nessas olimpíadas, apesar da falta de apoio e compreensão do esporte e da cultura como elementos primordiais na formação do sujeito social. Em Tóquio, apesar de inevitáveis decepções, houve vitórias incríveis e até surpresas - como a ‘Fadinha’, Rayssa Leal, de apenas 13 anos, merecedora de uma reluzente prata no Street Skate. A menina, com sua simpatia e passado de luta comum a tantos de nossos atletas, aprendia de improviso na sua vizinhança; o surfista Ítalo Ferreira, praticando sobre a tampa da caixa de isopor em que seu pai levava peixes para vender.
A conquista de Rayssa, segundo pesquisas, foi assistida por mais de 2 milhões de pessoas. É o xodó brasileiro dos Jogos pela técnica, talento precoce e simplicidade. Ao lado de seu colega de surfe Ítalo, ouro, da ginasta Rebeca Andrade, ouro e prata, e das prateadas meninas do vôlei de praia, entre outros, reluzem no peito ambicionadas medalhas. A compensação é que, no “conjunto da obra”, nossa delegação conquistou ainda mais glórias do que na recordista olimpíada anterior, Rio 2016, em que levantou um total de 19 medalhas, sendo 7 ouros. Uma surpresa e tanto para um país sem estímulo, mas pródigo em gênios do esporte por talento nato e obsessão. No final desta olimpíada, festejamos a superação de nossas próprias conquistas: 7 ouros, 6 pratas e 8 bronzes, perfazendo um total de 21: que auspicioso 12º lugar! Salve nossos atletas!
Sem pódio está nossa economia, com a taxa Selic alavancada para 5,25%, provavelmente chegando a 7,5 % até o fim do ano, segundo analistas. Com a taxa de juros nesse patamar, o sonho da casa própria vai se esvaindo, o mercado fica sem rumo e o crédito em geral se torna mais difícil, do pequeno comércio popular de venda em prestações aos grandes financiamentos: tudo é afetado. É o jogo de sempre na quadra em que uma vez na história tivemos oportunidade de levantar a bola e bater a inflação. Melhor: tivemos um Ippon (golpe perfeito do judô) em 1994, o Plano Real, que inverteu as regras do jogo e abriu caminho para uma economia mais bem sucedida e previsível (com desconto para os deslizes de praxe). Nunca é fantasia o risco futuro de um KO (knock out) em um round, como nas lutas de boxe - só que contra nós, por esta adversária indomável, a inflação que tudo devora.
Também não há pódio algum para o desemprego a 14,7%, arrastando ainda muito mais gente para baixo da linha de pobreza; o IGPM (Índice Geral de Preços do Mercado) da FGV em absurdos 33,83%, ignorado amplamente no reajuste de aluguéis – o locador ou perde seu inquilino ou leva calote; melhor ainda, condescendentemente e na defesa de sua renda, chega a não reajustar a locação. Ao contrário, os senhorios às vezes até diminuem o valor do aluguel.
Delta, 4ª da esquerda para a direita |
Desclassificada ficou a condução da política antipandêmica, que teme agora uma adversária perigosa, a variante Delta. Na defensiva, autoridades federais e, por falta de informação, mesmo parte do povo, em geral, também não carregam louro algum; seguimos com escassas recompensas e muitas punições (à parte os devidos aplausos para o atual sucesso da vacinação, descontados os gols contra e protelatórios do executivo federal). Os olhos do mundo se voltam para potenciais novos recordes desta agressiva cepa em nosso Brasil: numerosa população, rincões pobres e com pouca ou nenhuma infraestrutura - um país à deriva no barco do combate à doença, enfrentando o soçobrar do negativismo. Há menosprezo genérico - e até seletivo politicamente - pelas vacinas e medidas protetivas e pela saúde pública em geral.
Como este é um tema que incomoda setores nada olímpicos, no sentido da tradição grega da antiguidade de congraçamento, empurraram-nos goela abaixo uma questão abjeta como o “voto impresso e auditável”, mesmo diante do sucesso de nosso sistema eletrônico de 25 anos – plenamente auditável, aliás -, reconhecido mundo afora. O tema, de derrota previsível, colocou o bode na sala, fez cortina de fumaça, serviu de boi de piranha e tentou esconder a realidade debaixo do tapete, alvoroçando o poder legislativo e ofendendo o judiciário. Instiga a população para uma luta de pugilismo coletivo sem árbitro, como na recente pancadaria baiana atrás do trio elétrico (foto).
Pódio sim, quem diria, para a classe empresarial! Todo-poderosos da mais fina elite, os 500 signatários de uma “Carta aberta à sociedade” expressam seu profundo descontentamento com a condução - ou falta dela - de nossa economia, a “tergiversação” dos males que atingem nossa sociedade, da saúde do povo à tributária e política, passando a “boiada” oculta pelo "voto impresso e auditável". O manifesto da elite econômica traz um número expressivo de signatários, pesos pesados como os Trajano, do Magazine Luiza, Schalka, da Suzano e José Olympio, do Credit Suisse, além de economistas de ponta como Armínio Fraga, Marcílio M. Moreira, Maílson da Nóbrega, Rubens Ricúpero e André Lara Resende, gente que não tem o costume de se manifestar politicamente e não se rende a qualquer segmento partidário – embora entre eles haja vários que se arrependeram de emprestar seu apoio à candidatura vitoriosa na eleição de 2018.
Definitivamente, não é uma manifestação que possa receber a “pecha infamante” de comunista, como diz o famoso manifesto de Marx e Engels, ou sequer “de esquerda”, expressão que hoje serve ao mesmo propósito derrogatório, fugindo às origens históricas no antigo Parlamento da monarquia francesa.
Salve
os nossos medalhistas!
Nenhum comentário:
Postar um comentário