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Rede de arrastão |
A febre das redes sociais, que hoje,
entre muitas outras coisas, administram as movimentações dos protestos no país,
é sintoma do largo uso de um instrumento eficiente, mas frágil e traiçoeiro. Na
verdade, quem quer que seja pode articular o que quiser: basta criar sua
própria “rede” e nela fazer multiplicar seus peixes, ou melhor, seus amigos – tanto
aqueles que conhece quanto a maioria absoluta, que nunca conhecerá.
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Arnaldo Jabor, o real |
Muitas vezes, propostas ou frases
atribuídas a fulano ou sicrano são falsas. Arnaldo Jabor, Paulo Coelho e Jô
Soares são frequentes por terem escrito o que nunca dantes escreveram. O
cuidado deve ser tanto maior quanto melhor a aparência de credibilidade que a
postagem demonstra: uma boa redação, dados técnicos que soam aparentemente
corretos (e que o internauta desconhece), e, mais cuidado ainda, se o texto evoca
um “compartilhe com 20 de seus amigos, pois se cada um deles compartilhar, o
Brasil todo saberá”. Mas saberá o quê? Com que consequência? Essa corrente
valerá alguma coisa?
Um projeto de lei de autoria
popular, como o Ficha Limpa, tem que ter assinaturas reais, documentos que
podem ser conferidos, CPF e outros. Não é muito diferente da criação de um
partido, caso da Marina Silva e sua outra REDE. Portanto, deve-se evitar coisas
como PECs de autoria popular via redes, simplesmente porque elas não existem.
São partes legítimas para propor uma PEC, segundo a Constituição, um terço do
Congresso Nacional, o Presidente da República, via Congresso, ou mais da metade
das Assembleias Legislativas das unidades da Federação, por maioria de votos. A
partir daí, o Congresso analisa sua admissibilidade antes de levar a proposta adiante;
depois de tudo, poderá ser aprovada por três quintos da Casa, em dois turnos.
Aí vem um desocupado,
aproveitando-se da boa-fé alheia, e cria do nada o seguinte texto: “Lei da
Reforma do Congresso de 2011 (emenda à Constituição) – PEC de iniciativa
popular (...) “1. O Congressista será assalariado somente durante o mandato
(...)”. A seguir, lista um punhado de parágrafos e incisos sem pé nem cabeça em
ritmo do chamado “whishful thinking” (difícil traduzir, mas é algo como
“pensamento de desejo”), para ao final conclamar o leitor a compartilhar com
“no mínimo vinte pessoas de sua lista”, pois em poucos dias o país inteiro “ficará
sabendo” (sic). Se alguém repassa para vinte pessoas, e essas para mais vinte,
cada uma, e desses cada um para outras vinte, e daí por diante, os números serão
astronômicos. E daí? Ah, essa “PEC popular” acima é de 2011, tem uma versão
“remasterizada” para 2013, e outras deverão surgir.
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Postagem de má-fé: favor não reproduzir |
Outra mentira das mais absurdas,
simplesmente terrorista, é uma foto da Dilma, com direito a faixa presidencial
e tudo, tendo embaixo uma frase a ela falsamente atribuída: "Quem quer dar aula faz isso por gosto, e
não pelo salário. Se quer ganhar melhor, pede demissão e vai para o ensino
privado". Só que a frase é do Governador cearense Cid Gomes, dita de forma
absolutamente irresponsável durante a greve de professores do magistério em seu
estado, em 2011. Você não gosta da Dilma, não concorda, é contra? Faça oposição
de verdade, mas sem terrorismo. Por isso mesmo, falsear e propagar uma mentira
dessas deveria ser crime.
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Postagem "fake" no Facebook |
Uma outra besteira enorme já bem batida ressurge sempre como o fênix das cinzas:
“Agora
é oficial. Saiu na
mídia. O Facebook acaba de publicar seu preço da adesão, taxa de US$ 9,99 (ou
em euros), para você tornar-se membro ouro e manter sua privacidade como está.
Se você colar isto no seu mural estará livre dessa cobrança. Caso contrário,
amanhã suas publicações podem se tornar públicas. Mesmo aquelas mensagens que
você excluiu ou fotos que não autorizou. Nada custa copiar e colar”. Ora, o
popular “Facebook” já emitiu notas e notas dizendo que nunca vai cobrar nada,
que a notícia é “hoax”, e que quando o indivíduo se associa da primeira vez, ele
clica em uma declaração “li e concordo”. Tudo o que se coloca na web é público -
e por isso mesmo: publicar é tornar público -, salvo raríssimas exceções registradas
com aviso de copyright, que aliás não coíbem ato nenhum.
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Ilha solitária no Pacífico... segura? |
Para quem quer privacidade total, é
claro que deve ficar bem longe de qualquer rede social e do telefone celular (Uma
ilha no Pacífico estaria de bom tamanho). Imagino o dia em que o serviço de inteligência
policial invadir os perfis dessas mídias que guiam os movimentos e protestos Brasil
afora e mandar mensagens contrariando as ordens, criando uma baita confusão e
desarticulando o movimento. A tecnologia é fabulosa, mas é frágil: pois se um
grupo de hackers conseguiu entrar no site da Presidência, o que mais pode
acontecer na Internet? Tudo. Um maluco, sozinho (autointitulado “músico”),
publica uma convocação para greve geral no dia 1º de julho.
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Cristãos mortos em acidente no Congo |
Inescrupuloso também é quem lançou e divulgou uma foto horripilante, de pilhas de cadáveres com dizeres do gênero: "Cristãos queimados vivos na Nigéria por Muçulmanos Sunitas". Ora, a foto se refere a um acidente com um caminhão-tanque desgovernado que arrasou e queimou tudo ao seu redor - inclusive 200 pessoas. Detalhe: nada a ver com muçulmanos sunitas nem Nigéria. O fato se deu no Congo. A quem interessa jogar cristãos contra muçulmanos? Que mente insana? Confira o site Senza, ligado ao Vaticano:
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Carlos Lacerda, Gen. Cordeiro de Farias e Vernon Walters:
A CIA sempre presente |
Não houve greve
alguma, nenhum sindicato foi convocado, nem UNE, nada. Mas provocou um baita tsunami
de conversas desencontradas. Recentemente, fez-se alarde sobre ações da CIA
divulgadas pelo ex-agente Snowden. Preocupante, sim, mas serve de cortina de
fumaça para esconder a crise que racha Brasília: a CIA sempre esteve aqui, ao
menos desde Jango, passando por 1964 em diante (Vernon Walters era “habitué” na
casa do Castello Branco). Desde sempre e para sempre.
O velho e bom Tancredo Neves, que só
conversava com seus interlocutores em pessoa, ou, se o assunto fosse de segredo
mineiro, o fazia andando de sunga ao redor de sua piscina no Lago Sul. Mesmo
assim, teve de desistir do empresário Antonio Ermírio de Morais como seu vice
na eleição indireta para Presidente da República, em 1984. No lugar dele foi
entronizando vice José Sarney, mais “palatável” aos militares. Tancredo desfez
a parceria com Antonio Ermírio (há livros e artigos que contam essa história), por
conta de um risco vazamento da informação, já que se tratava de segredo dos
segredos, segurança nacional. Sarney foi “engolido” porque era uma opção de
possível aceitação pelo regime, contra Paulo Maluf na Presidência, apoiado
pelas forças mais reacionárias.
Por tudo isso, deve-se sempre ter em
conta uma célebre frase da lavra do próprio Tancredo, 30 anos atrás: “Telefone
só serve mesmo para marcar encontro. E em lugar errado”. Velha raposa, o
mineiro. Hoje ele diria o mesmo das redes sociais.