O antigo Solar Monjope |
O Solar Monjope foi um
dos mais belos exemplos da arquitetura neo-colonial brasileira, construído
sobre a Chácara da Bica, no Rio de Janeiro, do outro lado do Parque Lage (antes
Mansão Besanzoni-Lage), esquina da Rua Jardim Botânico com Tasso Fragoso.
Dr. José Mariano, um obsessivo colecionador, recolheu peças do período e da era colonial para a decoração do imóvel, e com o Solar e outras obras passou a ser conhecido como um amante da arquitetura, historiador e urbanista de grande importância, participando de diversas entidades e instituições e influindo na arquitetura brasileira.
Dr. José Mariano, um obsessivo colecionador, recolheu peças do período e da era colonial para a decoração do imóvel, e com o Solar e outras obras passou a ser conhecido como um amante da arquitetura, historiador e urbanista de grande importância, participando de diversas entidades e instituições e influindo na arquitetura brasileira.
Lagoa Rodrigo de Freitas vista do Solar |
O renomado
arquiteto Lúcio Costa detestava o Dr. Mariano, primeiro devido a uma fúria pessoal
contra o ecletismo, e segundo a um certo corporativismo, pelo seu desafeto não ser um profissional. Com
sua sanha modernista, Costa, um dos gênios de Brasília, autorizou ou deixou passar, à frente do
IPHAN, a derrubada de vários prédios antigos da Av. Rio Branco e
casarões da Zona Sul do Rio.
Condomínio "Parque Monjope" |
Assim, de canetada, fez
vista grossa à derrubada do Solar nos anos 1970. Com a construção, foi
derrubado também um grande número de árvores frutíferas e frondosas, um
patrimônio ambiental urbano. No mesmo lugar, surgiu um conjunto de espigões
chamado Condomínio Conjunto Residencial Parque Monjope, símbolo da supremacia modernista
contra um patrimônio nacional.
Minha irmã, Inês, na sacada do "Catetinho" (2012) |
O velho DC 3 |
Cheios de mimos e
suvenires, utensílios indígenas trocados por objetos ‘civilizados’, o pessoal
da imprensa entrou no avião. Ao ver aquele monte de cocares, lanças e flechas,
o comandante da aeronave falou que com aquela traquitana ele não voaria. Entre os candangos e o povo da terra, aqueles
presentes eram “coisa mandada”, davam urucubaca. E ponto. Foi chamado outro
piloto, que inconformado levantou voo, para alegria de todos. Felizes com as lembranças,
os viajantes logo tiveram seu primeiro sobressalto: da cabine, o piloto avisou que
houve pane em um dos motores (era um bimotor...). Não sei onde pousaram, mas
depois de um bom tempo no solo retomaram a viagem, provavelmente em outro
aparelho.
No meio do trajeto do voo,
nervosa e ansiosa para voltar, a turma resolveu improvisar uma mesinha de
pôquer entre os assentos do avião. A tensão aumentou quando dois jogadores
tinham certeza absoluta de poder cacifar a aposta, cada um de seu lado, cada um
com um grande jogo nas mãos, gritando como loucos como qualquer apostador. Naquela
altura, já teria ido no rolo um bom dinheiro. Abertas as cartas, empate! Foi um
desentendimento total, que, aliás, já vindo da tensão do pouso forçado, virou briga
(não sei se às vias de fato, e não vem muito ao caso).
O Aeroporto Santos Dumont, construção original |
Finalmente,
o DC-3 pousa no Aeroporto Santos Dumont. Todos desconfiaram ao ver uma multidão
que cercava a pista de chegada, e uma das jornalistas, se não me engano a
Silvia Lara Resende (cunhada do Otto), foi acudida por colegas que informavam, afoitos, que seu Jornal
do Commercio – tradicionalíssimo e poderoso, na época – estava pegando fogo.
Assim, todos salvos e cada um para seu canto, parecia encerrada a aventura.
Ledo
engano: meu pai passou a ser atormentado por uma forte insônia e angústia à
mercê de uma série de problemas que vinham lhe perturbando. Ele nunca me contou
mais detalhes, mas eu o imagino como Cervantes envolto em seu imaginário, sentado
na sala, quando deu com os olhos naqueles objetos: tacapes, bordunas, arco e
flechas e um cesto de palha forrado com lindas penas de pequenos pássaros:
umas azuis, outras vermelhas, amarelas, verdes...
Arco, flecha e borduna |
Presumo
que foi então que ele, ainda que descrente e nada supersticioso, pegou aquela
parafernália e, de pijama e chinelo, desceu os seis lances de escada, andou uns 200 metros em plena madrugada e jogou tudo sobre o muro, no matagal do Solar. Depois
do ‘descarrego’, voltou para casa, tudo agora iria melhorar, pensara com
certeza. No dia seguinte, porém, logo correu a notícia: o Engenheiro Monjope, o
do Solar, havia morrido naquela manhã.
Depois disso, a vida de meu pai começou a
melhorar, seguiu em frente, e em 1960 a Brasília de Lucio Costa e Niemeyer foi
inaugurada por JK com grande pompa e circunstância, sobre a terra vermelha que havia sido desde sempre dos Xavantes
e Caiapós, talvez assentada sobre alguma enorme, maldita e inamovível mandinga.
Nenhum comentário:
Postar um comentário