Gravura: Templo do Rei Salomão |
Não sou conhecedor da maçonaria,
mas para falar de Mozart e sua “Flauta”, é preciso introduzir um pouco o
assunto, para melhor compreensão desta maravilhosa ópera (assim como outras
obras do autor), com todos os seus símbolos e significados. Às origens: a maçonaria fincaria suas origens
nos egípcios, nos caldeus ou na Mesopotâmia, segundo alguns, ou ainda no
Templo do Rei Salomão, segundo outros tantos.
Na Europa, a maçonaria sempre
esteve associada ao ofício dos pedreiros, reunidos em guildas, espécies de
associações de classe informais. Em francês, maçon, em alemão Maurer,
e em inglês mason, significam
pedreiro, antes mesmo de designar um membro da Franc-maçonerie, da Freimaurerei,
ou da Freemasonry americana.
Essa última, levada para a América
pelos primeiros colonos, com seus símbolos e signos gravados até mesmo na nota
de um dólar: várias alusões ao número 13 e às 13 colônias que ergueram o país,
além da pirâmide e o olho do Grande Arquiteto.
Harry Truman e seu apron (Bib. do Congresso) |
A maçonaria americana chegou a
eleger perto de 20 presidentes, como o venerável Harry Truman, cujo retrato na
Biblioteca do Congresso (EUA) o mostra paramentado com o apron (espécie de avental) da organização.
Stalin, Roosevelt e Churchill |
Para compreender melhor a
dimensão da maçonaria no mundo, basta lembrar que os três grandes homens que se
uniram contra Hitler, derrubando a II Guerra – Stalin, Roosevelt e Churchil -,
eram todos maçons, cada um em sua linha.
O Marquês de Pombal |
No Brasil, a maçonaria chegou a
bordo do Império, com todos os seus símbolos e grande força, tendo no notável
iluminista lusitano Marquês de Pombal um de seus próceres na corte real
portuguesa. Símbolos maçons como o compasso, a letra “G” e a régua ainda são
vistos na antiga capital do Império, o Rio de Janeiro, e mesmo onde o Imperador
deixou sua marca histórica, a aprazível e serrana Petrópolis, no Estado do Rio,
residência imperial de verão (sem falar de Campinas, João Pessoa e outras
cidades).
Maestro Eleazar de Carvalho |
A organização avança na República
de Deodoro, e, mesmo não tendo a força política da Freemasonry americana, ainda assim abriu espaço para muitos de seus
homens no poder. Na música, entre alguns nomes, destaca-se o do grande maestro
Eleazar de Carvalho.
Capa da Die Freimaurer (O livre-maçon), cantata de Mozart |
Pois vamos para
Viena, cidade natal de Mozart e de sua Die
Zauberflöte, ou A Flauta Mágica. O Iluminismo chega à Alemanha em 1776,
fase em que o compositor, aos 20 anos, já tinha escrito dez óperas. Depois
disso, entre inúmeras outras obras, destaca-se imponente a Maurerische Trauermusik, ou Funeral Maçônico.
Schikaneder, o libretista maçon |
Na “Flauta” (1791), vários símbolos
da sociedade secreta da época estão presentes, pois além de Mozart, também
Schikaneder, responsável pelo libreto (texto), era maçon. Outro grande mestre,
o escritor e pensador Wolfgang Goethe, chegou a observar que “as grandes
multidões vão se divertir na ópera, mas sua alta significância não escapará dos
iniciados (na maçonaria).
Tamino e Pamina: Royal Opera House |
A armadura de clave, mi bemol
maior, com 3 bemóis (si, mi e lá) na partitura, as três entradas dos
instrumentos de metal logo no início, três casais, três gênios, três fadas,
três templos (sabedoria, razão e natureza), os três guias de Tamino e
Papageno... tudo o que um bom iniciado gostaria de ir decifrando nessa obra
divertida, que é também uma crítica aos costumes e à política da época. As cenas
se desenrolam em espírito de Singspiel,
espécie de diversão musical germânica como a ópera cômica francesa. Depois
desta, em 1791, Mozart ainda compôs mais duas óperas, mas a “Flauta” parece ter
sido um dos marcos de maior importância na obra do jovem gênio, falecido
naquele mesmo ano.
Papageno e Papagena |
À trama: o Rei do Sol,
Sarastro, sacerdote de religiosos que pregam o amor, consegue raptar Pamina, filha
da terrível Rainha da Noite, a fim de salvá-la da maldade materna. A Rainha
manda o príncipe Tamino resgatar Pamina, missão em que tem como companheiro
Papageno, “o caçador de pássaros”, personagem vestido com uma cômica fantasia
de um desses animais. Não faltam guizos e flautas, inebriando os animais dos
bosques, e até Sarastro, que aparece e perdoa Pamina. Contudo, sobrevém um
inesperado caso de amor: Pamina e o príncipe Tamino se apaixonam, e seguem o
lado do bem de Sarastro. Surgem as provas para Tamino e Papageno, sendo a
primeira a travessia do Templo da Escuridão, em que não podiam violar o mais
absoluto silêncio. As duas outras provas foram as do fogo e da água, que Tamino
e Pamina venceram com a ajuda dos poderes misteriosos da flauta mágica. Diante
disso, os dois são aceitos como iniciados, e brindados com um belo coro: “vocês
conseguiram atravessar as Trevas!” (A Dama da Noite já desaparecera, temente à
luz que resplandecia).
Muito interessante teu texto! Vi essa genial versão da Flauta feita pelo Bergman mais de 20 vezes! É de altíssimo nível técnico e com interpretações extremamente sensíveis! l Abraço!
ResponderExcluirNossa, que leitora de bom gosto! A fita do Bergman é uma obra prima mesmo, interpretações lindas e sem qualquer recurso tecnológico: como tudo foi em Bergman, pura criação, pura arte!
ResponderExcluirObrigado!