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sábado, 16 de março de 2013

MOZART, SUA FLAUTA MÁGICA E A MAÇONARIA



Gravura: Templo do Rei Salomão
Não sou conhecedor da maçonaria, mas para falar de Mozart e sua “Flauta”, é preciso introduzir um pouco o assunto, para melhor compreensão desta maravilhosa ópera (assim como outras obras do autor), com todos os seus símbolos e significados.  Às origens: a maçonaria fincaria suas origens nos egípcios, nos caldeus ou na Mesopotâmia, segundo alguns, ou  ainda no Templo do Rei Salomão, segundo outros tantos.
Na Europa, a maçonaria sempre esteve associada ao ofício dos pedreiros, reunidos em guildas, espécies de associações de classe informais. Em francês, maçon, em alemão Maurer, e em inglês mason, significam pedreiro, antes mesmo de designar um membro da Franc-maçonerie, da Freimaurerei, ou da Freemasonry americana.
Essa última, levada para a América pelos primeiros colonos, com seus símbolos e signos gravados até mesmo na nota de um dólar: várias alusões ao número 13 e às 13 colônias que ergueram o país, além da pirâmide e o olho do Grande Arquiteto.
Harry Truman e seu apron (Bib. do Congresso)
A maçonaria americana chegou a eleger perto de 20 presidentes, como o venerável Harry Truman, cujo retrato na Biblioteca do Congresso (EUA) o mostra paramentado com o apron (espécie de avental) da organização.

Stalin, Roosevelt e Churchill
Para compreender melhor a dimensão da maçonaria no mundo, basta lembrar que os três grandes homens que se uniram contra Hitler, derrubando a II Guerra – Stalin, Roosevelt e Churchil -, eram todos maçons, cada um em sua linha.
O Marquês de Pombal
No Brasil, a maçonaria chegou a bordo do Império, com todos os seus símbolos e grande força, tendo no notável iluminista lusitano Marquês de Pombal um de seus próceres na corte real portuguesa. Símbolos maçons como o compasso, a letra “G” e a régua ainda são vistos na antiga capital do Império, o Rio de Janeiro, e mesmo onde o Imperador deixou sua marca histórica, a aprazível e serrana Petrópolis, no Estado do Rio, residência imperial de verão (sem falar de Campinas, João Pessoa e outras cidades).
Maestro Eleazar de Carvalho
A organização avança na República de Deodoro, e, mesmo não tendo a força política da Freemasonry americana, ainda assim abriu espaço para muitos de seus homens no poder. Na música, entre alguns nomes, destaca-se o do grande maestro Eleazar de Carvalho.
Capa da Die Freimaurer (O livre-maçon), cantata de Mozart
Pois vamos para Viena, cidade natal de Mozart e de sua Die Zauberflöte, ou A Flauta Mágica. O Iluminismo chega à Alemanha em 1776, fase em que o compositor, aos 20 anos, já tinha escrito dez óperas. Depois disso, entre inúmeras outras obras, destaca-se imponente a Maurerische Trauermusik, ou Funeral Maçônico.
Schikaneder, o libretista maçon
Na “Flauta” (1791), vários símbolos da sociedade secreta da época estão presentes, pois além de Mozart, também Schikaneder, responsável pelo libreto (texto), era maçon. Outro grande mestre, o escritor e pensador Wolfgang Goethe, chegou a observar que “as grandes multidões vão se divertir na ópera, mas sua alta significância não escapará dos iniciados (na maçonaria).
Tamino e Pamina: Royal Opera House
A armadura de clave, mi bemol maior, com 3 bemóis (si, mi e lá) na partitura, as três entradas dos instrumentos de metal logo no início, três casais, três gênios, três fadas, três templos (sabedoria, razão e natureza), os três guias de Tamino e Papageno... tudo o que um bom iniciado gostaria de ir decifrando nessa obra divertida, que é também uma crítica aos costumes e à política da época. As cenas se desenrolam em espírito de Singspiel, espécie de diversão musical germânica como a ópera cômica francesa. Depois desta, em 1791, Mozart ainda compôs mais duas óperas, mas a “Flauta” parece ter sido um dos marcos de maior importância na obra do jovem gênio, falecido naquele mesmo ano.
Papageno e Papagena
À trama: o Rei do Sol, Sarastro, sacerdote de religiosos que pregam o amor, consegue raptar Pamina, filha da terrível Rainha da Noite, a fim de salvá-la da maldade materna. A Rainha manda o príncipe Tamino resgatar Pamina, missão em que tem como companheiro Papageno, “o caçador de pássaros”, personagem vestido com uma cômica fantasia de um desses animais. Não faltam guizos e flautas, inebriando os animais dos bosques, e até Sarastro, que aparece e perdoa Pamina. Contudo, sobrevém um inesperado caso de amor: Pamina e o príncipe Tamino se apaixonam, e seguem o lado do bem de Sarastro. Surgem as provas para Tamino e Papageno, sendo a primeira a travessia do Templo da Escuridão, em que não podiam violar o mais absoluto silêncio. As duas outras provas foram as do fogo e da água, que Tamino e Pamina venceram com a ajuda dos poderes misteriosos da flauta mágica. Diante disso, os dois são aceitos como iniciados, e brindados com um belo coro: “vocês conseguiram atravessar as Trevas!” (A Dama da Noite já desaparecera, temente à luz que resplandecia).
Maria Therese da Áustria

Essa a enorme revelação maçônica de Mozart, e de sua visão do bem contra o mal, das trevas contra a luz. A “Flauta”, veladamente, traz a crítica política do compositor: o príncipe Tamino seria o Imperador Joseph II, e sua amada Pamina o povo da Áustria. Já a Dama da Noite, maléfica, representa os piores males obscurantistas, e é na verdade a terrível imperatriz Maria-Therese, mãe de Joseph II e declarada anti-maçônica. No final dos dois atos, o coro canta: Dann ist die Erd' ein Himmelreich, und Sterbliche den Göttern gleich – “A Terra como um reino celestial, e os mortais como deuses”.

Filme de Bargman

Existe uma “Flauta” absolutamente fantástica (1975), dirigida pelo grande cineasta sueco Ingmar Bergman, DVD ainda encontrável nos videoclubes.  Arte e diversão pura. Na ópera, duas árias são insuperáveis: o duo Papageno e Papagena, de graça impagável, que pode ser visto (com legendas em inglês) e ouvido abaixo:

Igualmente fantástica é a ária da Dama da Noite, cujas exigências técnicas não a reservam para qualquer soprano. Adiante, veja e ouça e excelente Diana Damrau, como a Rainha da Noite, à frente da Royal Opera House Covent Garden de Londres. Divirtam-se.

 


2 comentários:

  1. Muito interessante teu texto! Vi essa genial versão da Flauta feita pelo Bergman mais de 20 vezes! É de altíssimo nível técnico e com interpretações extremamente sensíveis! l Abraço!

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  2. Nossa, que leitora de bom gosto! A fita do Bergman é uma obra prima mesmo, interpretações lindas e sem qualquer recurso tecnológico: como tudo foi em Bergman, pura criação, pura arte!

    Obrigado!

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