"O cururu está em extinção, por falta de incentivo do
poder público e até da nova geração, não por culpa deles, mas de falta de
divulgação. Como eles vão valorizar o que não conhecem? Acontece que aqueles
que sabiam da tradição do cururu morreram todos e não deixaram
herdeiros”. (Abel Bueno, em A Província de Piracicaba, 2009).
Região do Médio Tietê paulista |
Sopravam aos ventos que o cururu
estava moribundo. Velhos mestres choravam pelos cantos a falta de apoio e o
pouco interesse dos jovens em aprender a nobre arte de improvisar nascida na
raiz da terra do chamado médio Tietê. Tatuí, Pardinho, Piracicaba, Botucatu,
Iperó, Itapetininga e outras cidades da
região vêm agora ouvindo com mais carinho o vozeirão dos menestréis que têm arrebatado
a cada ano mais e mais admiradores, além de fazer chamariz para a arte do
improviso cantado.
Trovadores da Idade Média |
Em 2009, nasceu o Torneio Estadual de
Cururu, pelas mãos do Conservatório de Tatuí. Porém, antes de tudo, é preciso
separar nossos improvisos de outros improvisos. E digo logo: os repentistas
nordestinos têm seu gênero próprio, bem diferente do paulista, e vêm dos
trovadores medievais. No Nordeste há uma ou duas violas, às vezes também uma
rabeca (ou somente ela), ou um pandeiro (e tão somente ele, na “embolada”). A cantoria
se desenrola após alguma preparação instrumental. Depois dessa introdução, o
som para e surge a voz para contar causos, estórias acontecidas ou inventadas. (Abaixo, repente com gosto de coco de embolada).
Repentistas em capa de cordel |
Zé Pinto e Josué, mestres tatuianos |
Qualquer assunto é assunto e proseio para
cururueiro bom desatar: briga de vizinho, rixa entre cidades ou loas às
próprias origens dos cantadores. Ah, e a política, tempero sempre presente e
novidadeiro, ainda mais se alguma autoridade estiver por perto! Não foi à toa
que Getúlio Vargas oficializou a figura do “músico prático”, cantador e
repentista, gente que ele adorava usar em suas campanhas nas rádios e andanças
políticas, já que não havia TV a invadir com o horário político as casas dos
brasileiros.
Getúlio e o fim da República Velha |
Público no I Torneio |
Pois naquele outubro de 2009, o
cururu surgiu no palco da concha acústica Spartaco Rossi em grande estilo, no primeiro
Torneio Estadual, em Tatuí, com a presença de Geraldo Alckmin, então Secretário
de Estado do Desenvolvimento. No mesmo palco, a praça lotada, dois grandes atos
foram assinados com o Secretário: os acordos entre o Conservatório e outras
entidades, que resultaram no curso técnico superior em Produção Fonográfica, da
FATEC, e o curso técnico em música, parceria com a ETEC Salles Gomes, este
último certificando formandos do Conservatório que tenham cursado as
disciplinas exigidas pela instituição parceira. Foi assim, colorindo com
acordes um grande acordo, que nasceu a primeira disputa do Torneio.
Cartaz do 5º Torneio: arte e montagem de Jaime Ribeiro |
Os anos se passaram, e o cururu volta
com ainda mais força, nesta 5ª edição de 2013. Mudadas algumas regras,
aperfeiçoado o modelo, a primeira eliminatória se deu no dia 15, sexta, às 16h,
sob a bandeira do feriado republicano, apresentaram-se as duplas Zé Pinto e
Zacarias, Paulo Galera e Cascavel, João Zarias e Lino Jacinto, Zé Antonio e
Manesinho. Neste sábado, dia 16, disputam Zé Neves e Celsinho Cururueiro, Izac
e Eliarquim, Buenão e Esmeraldinho, Dito Moraes e Valdir Boiadeiro. Domingo,
17, às 14h, o imperdível encerramento na grande final, a ser disputada entre os
vencedores de cada eliminatória. Todas as fases acontecem no pátio do
Conservatório, uma experiência de sucesso desde 2012, após tentativas em outros
espaços. Entrada franca e traje “a rigor”: muito bem à vontade, valendo bermuda,
chapéu de palha ou tiara e chinelo ou botina.
(para quem quiser assistir ao vivo, pela primeira vez no Torneio, nesses cinco anos, clique em http://new.livestream.com/accounts/6128662)
(para quem quiser assistir ao vivo, pela primeira vez no Torneio, nesses cinco anos, clique em http://new.livestream.com/accounts/6128662)
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