Neste 2014 em que o Conservatório de
Tatuí completa 60 anos, cabe uma breve avaliação do momento histórico em que ele se
encontra, assim como a situação da escola em âmbito do estado de São Paulo e do
Brasil, bem como paralelos com alguns conservatórios do mundo, pontos
fundamentais a este breve raciocínio.
A histórica Escola Nacional de Música, no Rio de Janeiro |
O Brasil tem uma tradição equivocada
de concentrar tudo, especialmente seus melhores equipamentos culturais, nas
grandes metrópoles e capitais, coisa que vem da época colonial, passa pelo
Império e suas capitais até a República, começando em Salvador, instalando-se
no Rio de Janeiro por longo tempo até 1960, quando mudou-se Brasília (esquecendo a bagagem cultural praticamente intacta no Rio). Por
destino ou inércia, a grande estrutura cultural tem raízes sólidas na antiga capital
do Império e da República, o Rio de Janeiro, e em São Paulo, hoje a mais
privilegiada.
Conservatório de Oberlin |
Mas o que acontece nos outros
países? O Conservatório de Oberlin, uma importante instituição dos EUA, aos 180
anos de idade, fica situado na pequena cidade do mesmo nome, com 8 mil
habitantes. Seus excelentes professores vêm de centros importantes,
principalmente da afamada Sinfônica da Chicago. O respeitado Conservatório de
Genebra, na Suíça, antigo como o anterior, fica em uma cidade de 194 mil
habitantes.
Lyon Conservatoire |
Por sua vez, na França, o
Conservatório de Lyon, cidade com pouco mais de 400 mil habitantes (bem menor
do que Sorocaba), também perfila entre os melhores. Nenhum deles fica em
capital, e, no caso de Oberlin, trata-se de uma cidade muito pequena, mesmo
para os padrões do interior paulista. Como eles, o Conservatório em Tatuí é uma gema de
ouro onde deveria estar.
O grande Eleazar de Carvalho |
Nosso maestro Eleazar de Carvalho
disse: “uma orquestra não se faz em dez anos, mas em cem”. E, como andam lado a
lado orquestras e conservatórios, ao bem ultrapassar a metade de um século já
podemos vislumbrar a consistência do Conservatório de Tatuí do outro lado do
pêndulo, já de vento em popa rumo aos 100 anos simbolicamente preconizados por
Eleazar, porvir cujo caminho porsseguirá frutificando, hoje e amanhã, por
gerações e gerações.
Teatro Procópio Ferreira, do Conservatório de Tatuí |
É preciso boas instalações, e não é
uma luta que se resolve de uma vez. Bons instrumentos: muitos chegaram e outros
tantos estarão a caminho. Manutenção, ferramentas para luteria, boas madeiras
para trabalho, condições físicas para o estudo e a prática das artes cênicas. Tudo
com acessibilidade - fora o que é antigo e arquitetonicamente impossível de
mudar. Bons materiais de estudo, mais locais para apresentações – além do Teatro
Procópio Ferreira e o Salão Villa-Lobos, há o novo espaço com o piano Rönish no
salão do chamado anexo 3, e a bela sala de câmara na Unidade 2.
Professores de piano |
Muito mais relevante do que isso, existe
suporte ao trabalho dos professores e instrutores, em geral, pois são eles a
máquina, com seu conhecimento e dedicação missionária, cujo motor impulsiona e
faz do Conservatório uma instituição em movimento de permanente evolução.
Some-se a esse sólido corpo docente uma equipe de produção elogiada por artistas
brasileiros e estrangeiros, assim como a área de comunicação e secretaria, RH e financeiro, entre
outras, que se superam a cada dia, além dos servidores administrativos, de suporte,
portaria e limpeza, que recebem a todos, cada dia, sempre com um sorriso. É preciso controle e
disciplina – afinal, trata-se de uma organização do porte de uma empresa de 300
funcionários, com todas as suas virtudes e mazelas.
Artes Cênicas em ação |
Alunos em performance |
Por fim, mas claro que não por
último, o mais importante: aqueles por cujo ingresso sempre aguardamos com
ansiedade, cuja qualidade para disputar uma vaga de aluno tem sido visivelmente
melhor nos últimos anos, o que inspira e motiva a todos. Como nos
conservatórios do mundo citados e em todos os outros do mundo, as disciplinas
acadêmicas são organizadas em quadros e currículos programáticos bem
elaborados, etapas semestrais a serem vencidas, provas – sim, o mundo da música passa
por aí -, e uma preparação técnica aliada ao estímulo à melhor execução. O
Conservatório é o meio, os alunos são seu grande objetivo.
Hermeto Pascoal, o Bruxo: Painel Instrumental |
Para 2014, na melhor idade,
recebemos da Secretaria de Cultura do Estado um amplo aporte especial que nos
possibilitará organizar a maior temporada artística de todos os tempos – os Encontros
Internacionais (de instrumentos, performance histórica e luteria) acontecerão
em dobro: em vez dos tradicionais cinco por ano, serão dez, movimentando uma
estrutura de pessoal compatível com grandes festivais e casas de concertos e de
shows. A concorrida área de MPB-Jazz terá oportunidade de mostrar o que tem de
melhor, ao mesmo tempo em que trará grandes oportunidades para seus alunos com seus convidados. Não
cabe detalhar e contabilizar números, eles por si não dizem muito, cabe ver os parâmetros de qualidade: Certame da
Canção (do Festival de MPB), Painel Instrumental, FETESP, Cururu, concursos e diversos outros.
Luteria (foto Xpress) |
É raro no Brasil uma escola de
música atingir 60 anos, ainda mais gozando de plena saúde e disposição, mesmo
porque assim deverá prosseguir como nossas irmãs europeias e norte-americanas,
além do século, e muito além de todos, que, braços dados, participam de cada etapa,
fundamental à sua consolidação como uma escola modelo. Por isso mesmo,
cidades do estado de São Paulo e também de outros estados têm vindo pedir
orientação para novas ou existentes escolas de música de todos os tipos e
dimensões, apoio que a equipe do Conservatório empresta sempre graciosamente,
pois que isto é mais do que o espírito republicano, é missão mesmo dos que veem
na música parte fundamental da cultura de um povo e marco indissociável de toda a
civilização.
Parabéns, Conservatório de Tatuí! Parabéns, Brasil!
Parabéns, Conservatório de Tatuí! Parabéns, Brasil!
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