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sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014
THE NEW ENGLAND CONSERVATORY OF MUSIC
Abertura da temporada de inverno de 1871
Durante este ano de 2014, em que o
Conservatório de Tatuí completa 60 de existência, vale lembrar algumas experiências
mundiais consagradas como termo de referência para analisar o que aqui já foi
feito, está sendo desenvolvido e presumivelmente deverá acontecer. Sem inventar
a pólvora: no mundo inteiro aprende-se Teoria e Percepção, Harmonia,
Contraponto, História da Música e outras disciplinas. Pretendo começar a trazer
essas experiências com a New England Conservatory, com a qual tenho grande familiaridade.
Charles River
A NEC situa-se perto do coração de Boston, EUA, em local privilegiado a 300m
da Boston Symphony Hall, casa de uma das maiores sinfônicas do mundo. Não longe,
o belíssimo Charles River, coalhado de pequenos barcos a vela, cuja ponte nos atravessa
para onde ficam dois outros grandes centros, do lado Cambridge do rio: Harvard
University e MIT (Massachusetts Institute of Technology), celeiros do que há de melhor na pesquisa em
diversos ramos do conhecimento, diversos prêmios Nobel no currículo.
Preparando a reforma
A NEC é uma construção cujo
término da primeira grande reforma externa depois de 100 anos presenciei, no
final de outubro de 2009. A cerimônia chamou-se “Unveilling the Conservatory” (desvestindo
o véu – ou ‘revelando’, no sentido figurado), e o presidente da instituição,
com capacete de segurança e megafone, simbolicamente cortou as cordas das telas
de proteção, sob os aplausos de uma festa em plena rua, com bandas e corais.
Estava restaurado o lindo prédio, exatamente como foi inaugurado, em 1870. É o
gancho para falarmos em tradição, nós que começamos a esquecê-la já na
arquitetura, destruindo nossas construções históricas.
Jordan Hall
Há dois auditórios
principais, sendo um o Jordan Hall, considerado uma das melhores acústicas da
Costa Leste, palco de centenas de apresentações por ano. Lá ensaiam a
Filarmônica Jovem de Boston, um grupo fabuloso de jovens que já se apresentou
várias vezes mundo afora, inclusive no Teatro Municipal de São Paulo. Seu
regente, Benjamin Zander, é, além de um maestro excepcional, um líder
incansável. E atenção: esta é a orquestra jovem, cabe frisar, cujos concertos deixam todos com o queixo caído.
Seiji Osawa
Seguem-se a Repertory Orchestra, que
foi regida por Richard Pittman, ex-aluno do nosso Eleazar de Carvalho em
Tanglewood, e a Orquestra Sinfônica propriamente dita, comparável a algumas das melhores orquestras profissionais do mundo. Enquanto a Repertory Orchestra faz um extenuante
trabalho de preparo dos do vasto repertório sinfônico, a Sinfônica também se
desdobra em material mais complexo: Richard Strauss, Wagner, Stravinsky, Boulez
e outros. Possui diversas gravações e convidados como Seiji Osawa,
Rostropovich, Arthur Fiedler, Kurt Masur, um rosário de grandes regentes. (Veja e ouça abaixo o 1º movimento da 3ª Sinfonia de Mahler, exuberante, com a NEC Philarmonia e seus impressionantes jovens músicos. Regência de Hugh Wolf).
O célebre Beethoven dos "post-it"
Os corredores do primeiro
andar do prédio se cruzam em Beethoven, quero dizer, em uma estátua do mestre
de Bonn, sobre um pedestal. É ali o ponto de encontro ou recados de todos, para
qualquer coisa. Como não havia celular e afins, colava-se “stick-ons” ou papeizinhos
com fita adesiva no pedestal e nos pés da estátua para marcar almoços, encontros,
ensaios e, claro, namoros. Retrato da tradição que é conservada indelével há 150
anos. Pois vejamos.
Eben Tourjée
Em 1853, Eben Tourjée, um jovem professor
de música de 18 anos vindo de Rhode Island, reuniu músicos da cidade na
primeira tentativa de ali criar um conservatório nos moldes dos melhores da
Europa. A ideia foi abandonada, devido à Guerra Civil que sacudia o país. Em
dezembro de 1866, Tourjée voltou à carga, até que a New England Conservatory
abriu suas portas oficialmente em fevereiro de 1867, para ocupar seu prédio
definitivo em 1870.
Cartaz da campanha de doação
O Conservatório é mantido
por anuidades, bolsas de estudo dadas por pessoas físicas ou entidades, fundações,
e contribuições de seus Patrons, Sponsors, Trustees, Donnors e outros, intitulados
conforme o valor de seus generosos cheques. Também contribuem, anualmente, via cheques
em envelopes, seus “alumni” ao redor do mundo e a comunidade de Boston. Toda essa corrente chega a
levantar a surpreendente quantia de 20 milhões de dólares em um ano. A participação do governo, via National Endowment for the Arts (NEA), hojé é praticamente nula.
Capa do LP com a gravação do Concerto de Alban Berg
Grande parte dos professores
da NEC pertence aos quadros da Sinfônica de Boston ou são solistas consagrados,
como foi o caso de Louis Krasner, professor do saudoso Aírton Pinto (antigo
spalla da OSESP). Alban Berg escreveu o concerto para violino “à Memória de Um
Anjo”, dedicado a Alma Mahler, por encomenda de seu amigo, o prof. Krasner.
John Coltrane, o mito
Em composição
você pode ter tido a honra de ter estudado com Joe Maneri, que estudou com o mesmo
Alban Berg, ou Di Domenica (ambos meus professores), ex-aluno de Schönberg, o
homem que mudou a música do século 20. No jazz, já houve um Joseph Allard, que
ensinou o mito John Coltrane. Você pode também ter trabalhado com Jack Byard ou
George Russel, que foi assistente de George Gershwin, autor de obras-primas
como Um Americano em Paris, Rhapsody in Blue e Porgy and Bess.
Gunther Schuller
Por fim, você, além dos
créditos obrigatórios, você pode fazer um curso chamado Análise Psicofísica:
Design no Espaço-Tempo, Composição Microtonal ou mesmo dedicar-se à Terceira
Corrente, criada pelo grande Gunther Schuller: música que não é jazz, nem
etnomúsica, nem popular, nem clássica: é o diálogo, por memória e ouvido, entre
todas elas. Visitada a New England, vale um passeio pela linda, moderna e
histórica cidade, terra do famoso Tea Party, que desafiou a Coroa Britânica
rumo à Independência. (Abaixo, gravura representando a revolta dos cidadãos,
despejando chá ao mar, no famosos ato “no taxation without representation” – nada
de impostos sem representação).
Graziela, vi esse comentário seu apenas hoje, e acho que não o havia respondido. Aírton foi um grande amigo, líder e professor. Vou lhe passar uma publicação em blog sobre a morte dele. Eu estava em Boston, em visita, quando Renato Bandel me ligou no quarto com a notícia. Foi muito estranho. Obrigado pela mensagem.
Lembro-me do querido Ayrton falando com o mesmo orgulho do NEC.
ResponderExcluirBela postagem! Obrigada por essa pequena viagem...
Graziela, vi esse comentário seu apenas hoje, e acho que não o havia respondido. Aírton foi um grande amigo, líder e professor. Vou lhe passar uma publicação em blog sobre a morte dele. Eu estava em Boston, em visita, quando Renato Bandel me ligou no quarto com a notícia. Foi muito estranho. Obrigado pela mensagem.
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