Transporte, Renda e
Qualidade de Vida
A enorme malha metroferroviária de Londres |
São 417 Km (igual à distância entre Guarulhos e Rio de
Janeiro de carro) de linhas de metrô distribuídas entre 270 estações, a rede
mais extensa do mundo. A malha metroviária de São Paulo tem 75,5 Km e 73
estações. Há interligações com as linhas de trens e com o sistema de ônibus, como
os chamados ‘duplo decks’, com um andar superior para passageiros.
O 'double-decker' |
São veículos bastante agradáveis e atrativos aos turistas,
que podem ver a movimentação nas lojas e ruas por uma perspectiva de cima. Não
há, em geral, qualquer sistema de acessibilidade para deficientes e carrinhos
de bebês, já que os ônibus param nos pontos a uma altura ligeiramente acima do meio-fio:
levantar um pouco as rodas dianteiras ou traseiras de cadeiras e carrinhos é suficiente.
Colabora especialmente um asfalto quase sempre absolutamente liso e sem
desníveis. Com tudo isso, um sistema chamado ‘oister’ faculta ao usuário usar
um cartão que permite o uso ilimitado do transporte integrado, por prazos variáveis.
Zona de baixa emissão de poluentes: descontos e isenções |
Tudo o que se faculta ao cidadão, em especial esses descontos
de impostos nos automóveis, pedágios, estacionamentos, e especialmente a
impressionante rede pública de saúde é, claro, custeado pelo imposto de renda. Não
há mágica nem proselitismo político: desde a implantação do Serviço Nacional de
Saúde, em 1948, a página de abertura do ato que criou o projeto diz claramente:
“não é caridade, tudo é pago com os impostos de todos”.
Investimentos nas áreas sociais: 67% do total |
O cidadão tem sua renda taxada por faixas, sendo a
máxima de 45%, para quem recebe acima de R$ 50 mil mensais, os mais altos
salários. Há ainda bonificações por faixa etária e outros, e o sistema de saúde
gratuito e previdência são mantidos exclusivamente pelos impostos, e não correm
por conta de uma entidade própria e uma máquina monumental à parte, como é o caso
do INSS brasileiro, dono de uma população enorme de servidores. O cidadão que no
Brasil ganha de R$ 3.743, 19 ou acima disso mensais é taxado em 27,5%, mais o
desconto do INSS de 11%, o que perfaz um total de 38,5%, perto dos descontos
dos maiores salários da Inglaterra, valores acima de R$ 50 mil. Existe uma
taxação básica de 10% até o salário de R$ 11.500,00 mensais e daí em valores
crescentes.
Há flexibilidade na contratação de trabalhadores, como
acordos temporários de duração variável com remuneração horária geralmente mais
alta do que a dos contratos fixos. O salário mínimo é de R$ 25,50 por hora, o
que proporciona ao trabalhador perto de R$ 5 mil ao mês. Por R$ 1.200,00
mensais pode-se alugar um apartamento razoável de um ou dois dormitórios em
bairros tranquilos. Uma refeição simples não é cara, e o custo de roupas e
objetos de uso é razoavelmente baixo para o padrão salarial.
Caixas eletrônicos públicos |
Pensando já em introduzir o assunto do próximo e
último artigo desta série, que versará sobre Monarquia, Constituição e todo o
pensamento britânico, penso em encerrar com o valor da palavra, que é presumida
verdadeira assim como a presunção de inocência e honestidade existem de fato (e
não apenas formalmente, como no Brasil - perdoe-me o leitor pela ironia, aquelas
coisas ‘pra inglês ver’). Há caixas eletrônicos para saques de dinheiro nas
esquinas, nas estações, nos hotéis e em lojas que podem ser usados a qualquer
hora. Em drogarias ou supermercados é comum ver uma placa sobre um caixa
especial informando que, se você não tem dúvidas e sua compra está escolhida,
basta passar os produtos no ‘scanner’, o cartão de crédito ou débito no leitor,
ensacar suas compras e ir embora.
Eu, ao fazer o ‘check-out’ no hotel, perguntei se estava tudo
certo, e a atendente disse “sim, boa viagem”. Curioso, quis saber se o quarto
estava em ordem, pensando nas usuais vistorias dos hotéis brasileiros feitas
nas toalhas, fronhas e frigobar enquanto você paga a conta da estadia. A
inglesinha pareceu surpresa e me perguntou se havia alguma coisa errada no
quarto, sem entender minha preocupação, e ante minha negativa despediu-se e
desejou-me novamente boa viagem.
A tradição dos EUA vem da inglesa: para obter meu visto
permanente, fui ao Serviço de Imigração em Washington. Ante uma agente da
Polícia Federal, levantei a mão sobre uma bíblia, em juramento, e respondi a
uma série de perguntas, advertido de que minha palavra era expressão da
verdade, e que falsas informações são crime. Como na Inglaterra, a palavra,
antes de tudo ela, é a verdade. Sem as firmas reconhecidas e carimbos que fazem
nossa nação ser conhecida como o país das ‘red tapes’ (‘fitinhas vermelhas’), toda vez que
no exterior requeremos documentos para aqui serem registrados. Talvez seja este
último parágrafo uma boa introdução para a próxima e última parte desta série.
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