Desembargador Fausto Martin De Sanctis |
Fausto Martin De Sanctis é um paulistano de 50 anos formado
em direito que cedo ingressou na carreira de magistrado e se notabilizou pelo
caráter, inteligência, propósitos, inovação, obstinação e perspicácia, tudo
isso aliado à sensibilidade musical e social, conforme contarei adiante.
Doutor em Direito Penal pela USP, entre outros títulos,
especializou-se em uma das áreas mais carentes da justiça brasileira:
desmantelar o arcabouço de ilegalidades perpetradas contra os cofres públicos e
a lavagem de dinheiro, manobra de 10 entre 10 crimes de colarinho branco,
aqueles praticados por senhores de terno - ou vestidos elegantes de grife,
tanto faz. Como juiz, ordenou a prisão de um notório campeão do tráfico, um
grande especulador financeiro e um conhecido banqueiro - sem falar em um
ex-chefe de executivo, sem que seja necessário citar nomes.
Defende publicamente a revisão do processo penal
brasileiro que permite que processos contra indiciados importantes sejam
arrastados para muito além dos limites impostos a qualquer cidadão indiciado
por crime. Como nós, eleitores, ele também entende que o excesso de recursos
estende injustificadamente qualquer julgamento. Sabemos que hábeis e caríssimos
advogados trabalham com o sistema e acabam por alongar ou exterminar
prematuramente os processos. Imunidade rimaria com impunidade na poesia, mas na
sua essência são prosa e verso do pior estilo 'chicano' de defender cidadãos
privilegiados.
Gráfico: resumaoconcursos.com.br |
TRF SP: foto: aprovaconcursos.com.br |
Fausto ingressou na carreira de magistrado aos 25 anos de
idade, em 1990, e tornou-se desembargador do Tribunal Regional Federal da 3ª
Região aos 46 anos, após longa missão dedicada à magistratura, exercida na sua
plenitude, jamais se esquecendo do caráter público e neutro da função
judicial, em área delicada, que envolve pessoas de ‘altos
coturnos’.
Excerto da sentença determinando a transferência dos recursos |
Por uma
feliz coincidência, um dia pude conhecer o Dr. Fausto De Sanctis em uma
recepção em São Paulo, e ele, amante da música e pianista amador, propôs
incluir alunos carentes do Conservatório de Tatuí entre os beneficiados por uma
sentença que também colaborava com projetos que tratam de crianças deficientes,
vítimas de paralisia cerebral e inclusão social. A verba malversada pelos réus
foi destinada também à compra de instrumentos musicais. (Fausto omitiu a origem
do confisco e quem era o condenado, pois outra de suas virtudes é a discrição:
apenas o final da decisão com os termos da doação me chegaram às mãos). Feitas
as cotações em fábricas e importadoras, nossa equipe encontrou bons descontos e
a compra foi destinada a 11 alunos selecionados por professores: instrumentos
como oboé e fagote, trompa, trombone, contrabaixo e violoncelo, entre outros.
Rigoroso,
comme il faut, Fausto criou um termo de ajuste nosso com a 6ª Vara Federal:
os alunos deveriam comprovar carência e boa performance, além de concordar que
a posse dos instrumentos era provisória e que, em caso de reprovação,
eliminação ou abandono do Conservatório, teriam de devolvê-los aos cuidados da
escola, para serem repassados a novos pretendentes. Ao se formarem, abre-se o
sinal verde para os termos de doação dos alunos serem sacramentados.
Fausto De Sanctis apresenta os alunos agraciados (Foto: Kazu Watanabe) |
foto: analisedeconjuntura.blogspot.com |
Uma vez
recebidos aqui todos os instrumentos, Fausto veio conhecer o Conservatório na
cerimônia de entrega, no palco do Teatro Procópio Ferreira. Sereno, avesso a
estrelismos, participou até timidamente de fotos com aqueles que, emocionados,
nunca antes poderiam estudar em instrumentos de alta qualidade, de valor sempre
muito alto. (Cabe ressaltar que o magistrado veio dirigindo seu carro
particular, sem a segurança que imaginávamos natural para um prócere da justiça
exercida em terreno mais do que arenoso: lidar com condenados graúdos é campo
de areia movediça pura).
Rafael Frazzato, um dos agraciados, concluindo o curso da UNESP (Fotografia: Mayara Piovezan e Giovana Nunes) |
Foi essa a
única visita de Fausto ao Conservatório, e deixou aqui as felizes lembranças de
sua passagem. Vários dos alunos agraciados estão avançando em suas carreiras, e
em alguns casos até já ajudam suas famílias, sem compreender bem que a reversão
dos valores apreendidos que possibilitou adquirir os instrumentos deveu-se a
uma sentença criminal, graças à sensibilidade de um magistrado moderno. Um dia,
esses jovens vão saber compreender plenamente e dar valor ainda maior à decisão
que os beneficiou.
Mesa-redonda: 14 de agosto de 2011. Foto: Kazu Watanabe |
Uma mesa-redonda acontecida durante a visita de Fausto ao
Conservatório atraiu olhos atentos do público presente: “O Magistrado e a
Comunidade”, em parceria com o juiz da comarca de Tatuí, Dr. Marcelo Salmaso.
Destaco o diálogo abaixo: “O objetivo principal esperado da Justiça Criminal é
obter a condenação ou o reconhecimento da inocência do acusado, mas o foco
não se restringe a isso. O homem visto enquanto ser social não pode ser
esquecido". Todos nós devemos valorizar a geração futura, mantendo um
compromisso com o passado e o futuro”, afirmou o desembargador De Sanctis.
“Hoje vivemos um mundo novo, com problemas novos e precisamos de soluções
novas, pois as antigas não são mais suficientes”, completou Salmaso. (Dos
arquivos do Conservatório de Tatuí, 2011).
STF (foto pt.wikipedia) |
Há alguns dias, a imprensa noticiou que o Desembargador
Federal Fausto estava em uma lista tríplice da AJUFE – Associação de Juízes
Federais – a ser oferecida à Presidente da República para indicação ao cargo de
Ministro do Supremo Tribunal Federal, na vaga de Joaquim Barbosa,
recém-aposentado. Foi uma grata surpresa, assim como para qualquer um que
conhece a trajetória do magistrado. Já é um reconhecimento, mas merece ser
celebrado com a aprovação e a devida e esperada posse no cargo.
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