Parte III - O Sistema Nacional de Saúde
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"Mas não é 'caridade'. Todos estão pagando por isso"
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O NHS
(National Health Service), Serviço Nacional de Saúde, é a versão Reino Unido do
nosso SUS. Trata-se do mais abrangente e antigo sistema de saúde custeado por
fundos públicos existente. Consultas e a maioria dos atendimentos e procedimentos
são prestados gratuitamente a todos os residentes no RU. Desde 1948 os
residentes passaram a receber um número NHS, para acesso a atendimentos rotineiros
e emergenciais. O Serviço é mantido com o dinheiro dos impostos, que não são
baixos, aliás como os nossos, como veremos em um próximo artigo -, e é
considerado muitíssimo bem aplicado. Hospitais e clínicas dispõem de um
“Reclame para Mudar”, sistema que visa a aperfeiçoar o atendimento. Mais do que
simples medicina, entende-se o NHS de forma bastante ampla, por abranger também
o bem-estar, o meio ambiente e a saúde psicológica dos cidadãos.
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Página do "Reclame para Mudar" |
O “Reclame
para Mudar” inclui “dez dicas importantes” para sua reclamação. Pergunta, em primeiro
lugar, a identificação completa do reclamante, o assunto de sua queixa, quando
e onde aconteceu o fato, nomes e cargos dos envolvidos e o porquê de sua
insatisfação. Oferece um serviço de ajuda para os que têm dificuldade de ler, escrever
ou se expressar. Vale conhecer por dentro: estive com minha filha Marta e meu
netinho Thomas em duas clínicas: uma para acompanhamento pediátrico e outra
para vacinação (o sistema usa uma rede de Internet específica que permite
acompanhamento em qualquer unidade médica do país, sempre com horários
marcados). Fomos a um prédio moderno onde você encontra desde mulheres chegando
a pé vestidas de burca e outras carregando ou amamentando seus bebês até alguns
chegados em seu Audi A-8 ou Mercedes-Benz.
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Estacionamento da clínica do NHS |
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Banheiro: Clínica de Brent |
Duvidei da
hora agendada para a consulta, procedimento padrão no NHS. Pois adiantaram nosso
horário em exatos sete minutos. Antes, uma atendente ofereceu água para quem
aguardava. A médica era uma senhora que já havia ido à casa de minha filha para
uma visita, e até se lembrou de familiares que lá estavam na ocasião. O Sistema
entende o atendimento médico como uma cobertura de saúde completa, incluindo
dentistas e acompanhamento de gestações.
O banheiro público (foto acima) é equivalente ao de um bom hotel brasileiro,
limpíssimo e acessível pelo saguão onde há uma recepção agradável, leituras e um
mobiliário moderno.
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Uma "Midwife" do NHS |
Nada melhor
do que a experiência própria de ter acompanhado, mesmo que de início à
distância, mas quase que diariamente, a gravidez e o parto de minha filha. Em
primeiro lugar, há uma concepção filosófica de saúde pública como um todo, que
envolve a proteção imunológica, os aspectos psicológicos e o fazer a gestante sentir-se
bem até após o parto. Assim que confirmada a gravidez, começa o acompanhamento
residencial da gestante com as chamadas ‘obstetrician midwives’, enfermeiras
especializadas em procedimentos de obstetrícia. São elas que acompanham a
gestação, tomam a pressão sanguínea da futura mamãe, e avaliam sua dieta nos meses
que antecedem o parto, conversando e aconselhando.
Tal qual
hoje acontece em diversos países da Europa, estimula-se o parto doméstico –
claro, quando há condições para tal por parte da gestante e a depender das condições
assépticas possíveis na residência da parturiente. As gestantes fazem visitas ‘didáticas’
em turmas ao hospital, onde as salas de parto são chamadas “teatros”, cenários
limpos e muito bem aparelhados. Há cursos especializados que visam a dar às
gestantes maior segurança e naturalidade no processo que vai culminar com o
momento mais importante de suas vidas, a concepção. E vital é o estímulo ao
aleitamento materno como única fonte de alimentação saudável enquanto possível,
desde que não haja restrições médicas.
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Pediatra e prontuário online |
O NHS dá
preferência absoluta ao parto natural, tendo em vista a criança e sua mãe, e
somente procede à cirurgia cesárea em último caso, quando em risco a gestante ou
o bebê. O prazo final de maturidade para a gestação no NHS é de 41 semanas, ao
fim do qual ainda se tenta a indução e outros estímulos. Não havendo sucesso,
cirurgia. O acompanhamento do bebê, após o parto e durante a fase mais delicada
da criança, pode ir até os cinco anos. Exames de rotina e vacinações são
feitos, após um mês de idade, em qualquer clínica do país, via um sistema de
informações online completo. Casos mais específicos devem ser remetidos para o
médico pediatra preferencial da criança.
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Passeio matutino no Regent Park |
A proteção
ao bebê, ressalvadas intempéries como chuvas frequentes, neve ou frio intenso,
se dá nos primeiros contatos com a natureza: havendo tempo bom, os rápidos
passeios começam já após semanas de vida da criança. Depois, a partir de um
mês, os lindos parques são ambiente para um divertido trânsito de carrinhos de
bebês.
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Atendimento de acidentes, emergência e urgência |
Oito por
cento dos ingleses também usam convênios e seguros particulares, porém mesmo a grande
maioria desses se utilizam da rede pública do NHS a maior parte do tempo: um
sistema criado e concebido para todos, fundeado por impostos bem distribuídos e
uma organização impecável. [Prometi-me não tecer comparações diretas com o
Brasil, deixando-as para o leitor. Porém, no assunto saúde pública, não resisto
a alguns números: o Reino Unido gasta R$ 436 bi anuais em saúde pública, e o Brasil
25% disso. Com 64 milhões de habitantes em todo RU, a despesa anual per capita
é de R$ 27.250,00. Já aqui, com 201 milhões de habitantes, gasta-se R$ 542,00
anuais per capita, menos de 2% do que o NHS].
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