PELO ESTADO DE DIREITO
E A ORDEM INSTITUCIONAL
Os feitos de um governador músico
150 ANOS DE NASCIMENTO!
Ministério da Guerra |
Minha filha Marta
foi à casa de meus pais, após o falecimento de Maria Lucia, minha mãe.
Fotografou documentos antigos e muito bem guardados de meu avô Juquinha,
principalmente as correspondências trocadas entre tropas do exército brasileiro
de Minas Gerais enviadas às cidades fronteiriças ou estacionadas no estado de
São Paulo. Ele havia sido enviado de Minas para o Ministério da Guerra, no Rio
de Janeiro, de onde as Forças Armadas comandavam tropas mineiras e legalistas
de São Paulo, contra a chamada revolta de 1924.
A intenção dos
rebelados era depor o presidente da República, Artur Bernardes, e, em São
Paulo, o governador (então presidente do estado) Dr. Carlos de Campos, nascido
em Campinas em 1886, que havia tomado posse apenas dois meses antes da eclosão do
movimento. Um dos telegramas enviados a meu avô (imagem acima), escrito pelo oficial Souza Reis, pediu que fossem passadas às
famílias de alguns oficiais informações sobre seu bom estado de saúde, contendo
os endereços de suas respectivas famílias, na capital paulista, para que essas
ficassem menos aflitas, diante do temor de que poderia sobrevir o pior.
Estação Vila Matilde |
O
Palácio dos Campos Elísios, sede oficial de onde despachava o então governador,
sofreu intenso bombardeio rebelde, e um de seus filhos teve ferimentos por
estilhaços. Campos levou sua família para longe, escolhendo a estação de trem
de Guaiaúna, então da Estrada de Ferro Central do Brasil, como refúgio e sede
provisória de governo. Hoje, a estação se chama Carlos de Campos, na atual subprefeitura da Penha.
Tropas em defesa da Estação Vila Matilde, do governo provisório |
As tropas federais
acampavam nos entornos da estação, sede improvisada do governo. Era nas
plataformas da gare que as forças oficiais legalistas faziam primeiros-socorros
e distribuíam víveres para a população (Revista da Semana, 09/08/1924). No dia
27 de julho, o jornalista Paulo Duarte, amigo e colaborador do musicólogo Mário
de Andrade, intermediou um pedido de cessar-fogo de 48 horas para negociar a
rendição dos sublevados, que queriam em troca a anistia pelos crimes da
rebelião. Carlos de Campos tinha estopim curto, e vendo que a revolta já estava
dominada mandou o seguinte recado (cit. lit.): “Vocês parecem que estão fazendo
causa com os revoltosos... Em vista dos termos desta carta vou mandar aumentar
os bombardeios. A granada será a resposta”.
Carta do coronel Joviano Mello ao meu avô, no Ministério da Guerra |
Bilhete do vô Juquinha (José Carlos) em resposta ao coronel Joviano Mello |
A Coluna de João Cabanas |
Abandonou
a cidade, depois de encurralado pelo cerco da chamada “Coluna da Morte” do
rebelde João Cabanas, que ocupara Itu. A ”Coluna” não tinha um contingente ou
armas em quantidade suficiente para os embates, e sobre ela conta-se um
episódio pitoresco: os rebeldes teriam desfilado em um comboio ferroviário
exibindo armamentos e soldados, tendo à frente um poderoso canhão de 155mm.
Detalhe: feito de uma tora de peroba escurecida com piche, mas que bem servia,
de forma teatral, a uma simulação de poderio bélico.
O ministro da guerra Setembrino de Carvalho |
Meu avô Juquinha, encarregado das comunicações entre as
tropas de Minas e os legalistas de SP, respondeu às indagações do coronel Joviano
Mello, e, de forma bem sucinta, passou por bilhete uma ordem lacônica do
Ministro da Guerra Fernando Setembrino de Carvalho (o documento, infelizmente,
está muito pouco legível). Lembro-me de ouvir de meu avô causos sobre bilhetes
passados às escondidas nos vagões dos trens da estrada de ferro - histórias que
para mim, criança, soavam como filmes de ação, aventura.
Dr. Carlos de Campos (centro), ao lado do general Sócrates, citado por meu avô em carta do Ministério de 22/07/1924,, à frente do Palácio dos Campos Elísios |
Assim, da capital da República, Rio de Janeiro, eram
monitoradas as tropas de Minas, que defendiam o presidente Artur Bernardes, e
especialmente na região davam respaldo ao presidente do estado de São Paulo,
Dr. Carlos de Campos, que haveria de governar a cidade de março de 1924 até sua
morte, em 1927. (Cinco anos depois, em 1932, meu avô, à frente do 12º Batalhão
de Infantaria, uniu-se novamente aos paulistas, na revolução
constitucionalista. Se vivo, Carlos de Campos teria sido, com certeza, um
quadro civil fundamental ao movimento).
Busto de Carlos de Campos, do escultor Ettore Ximenes, do acervo do Palácio dos Bandeirantes |
Homem cultor das letras e
artes, Campos ganhou um busto, hoje exposto no Palácio dos Bandeirantes,
estátua repleta de símbolos, como ramos de tabaco e café e uma harpa, o que bem
ilustra tanto seu civismo quanto cultura. Foi ele quem deu início ao projeto de
construção da estação ferroviária Sorocabana em São Paulo, em 1925, obra inaugurada
em 1938, em plena era Vargas. Posteriormente, o auditório recebeu o nome de
Júlio Prestes, que governou o estado até 1930.
Estação Júlio Prestes, iniciativa do gov. Carlos de Campos |
O governador Abreu Sodré,
honrando
a famosa escola de
drama e música criada por lei
em 1951 e instalada em 1954
na cidade, inaugura o primeiro
prédio oficial do Conservatório:
em 1969, uma placa dá o nome
ao CDMCC, ou Conservatório
Dramático e Musical Dr.
Carlos
de Campos, compositor de
sólida formação, homem que é
página da história
da democracia e da música