Karen Armstrong, autora de The Battle for God (A Batalha por Deus) é uma pesquisadora especialista
em religiões, com ênfase especial para “o fundamentalismo no judaísmo, no
cristianismo e no islamismo”, subtítulo do livro que peguei emprestado para este
artigo (SP: Companhia das Letras, 2001. A publicação parece esgotada, mas
existe em e-book). Karen é inglesa,
OBE (Ordem do Império Britânico, alto título honorífico do Reino Unido) e entende
do riscado: foi freira, mas decidiu trocar o convento pela Oxford University, entregue
ao seu obcecado estudo das religiões, mantendo a fé cristã.
Karen (esq.) e religiosos |
Com seu “Uma História de
Deus – uma pesquisa de 4.000 anos de Judaísmo, Cristianismo e Islamismo” (1993),
a autora aprofundou-se nas três grandes religiões monoteístas. Respeitada scholar, transita muito bem entre Budismo
e Hinduísmo, ora pesquisando e palestrando sobre o judaísmo em Israel, ora no Concílio
Religioso Islâmico em Cingapura. Lecionou em escola de formação de rabinos,
passando a ser uma sumidade bem-vinda em todas as religiões.
Massacre em mesquita no Canadá, 30 jan 17: seis mortos |
Matéria de uma edição da revista Veja da época
do lançamento - em uníssono com várias outras resenhas - considerou Karen uma
das principais autoridades sobre a história das religiões monoteístas e o
fundamentalismo, que, com seus ‘braços armados’, “fuzilam devotos dentro de
mesquitas, matam médicos em clínicas de aborto, assassinam presidentes e até
derrubam governos”. E mais: “democracia, pluralismo, tolerância religiosa,
liberdade de expressão, separação entre Igreja e Estado – nada disso lhes interessa”.
A frase aparece em inúmeras resenhas sobre o livro, ilustrando o fanatismo e
suas funestas consequências. É o mais importante depoimento que li sobre o
assunto, e sua abrangência vai muito além das sinagogas, mesquitas e igrejas,
chega ao âmago da origem e fonte dos radicalismos.
Bush piloto de caça |
O Opus Dei foi criado em 1928 pelo Pe. Josemaria
Escrivá de Balaguer, com o apoio do ditador espanhol Francisco Franco, que via
a oposição juntar-se à Maçonaria. Muito mais tarde, Paul Marcinkus, arcebispo-presidente
do Banco do Vaticano (de 1971 a 1989), que havia se tornado um antro de corrupção, quebrou o caixa. O Opus
saiu em socorro com o Banco Ambrosiano, e sufocou o rombo e o escândalo da
Santa Sé. Em troca, foi entronizado o Papa Paulo II, polonês de perfil bem dócil,
que criou a única Prelazia Pessoal do Vaticano para o Opus. Beatificou e
canonizou Josemaria Escrivá, fundador da organização, no recorde de dois anos.
Sucedeu Paulo II outro Prelado, J. Ratzinger, o Bento XVI, criacionista que
condenou veementemente o jesuíta Pe. Teilhard de Chardin (1888-1955), autor de
O Fenômeno Humano, já censurado pelo Vaticano décadas antes, por crer na possibilidade
de convivência entre evolução, ciência e Fé. Bento XVI condenou as ideias de
Chardin, pensador cristão benquisto no mundo inteiro.
"Papa Francisco 'remenda' o Banco do Vaticano, destruído por escândalo" |
Estamos à espera da indicação de um novo
ministro para o STF, e o presidente do TST, Ives Gandra Martins Filho, é forte
candidato. Contudo, enfrenta resistências dentro e fora da Corte, apesar do
apoio declarado de gente graúda. Ives é casto e celibatário, do alto de seus 62
anos, e contra o aborto - mesmo em caso de ameaça à vida da mãe ou da criança –,
pesquisas com células-tronco, união civil, pílula anticoncepcional e divórcio. Um
peixe fora d’água em várias decisões técnicas do STF.
O Prelado do Opus no Brasil, o jornalista e
dono da Cásper Líbero, ligada à Universidade de Navarra (financiada pelo Opus),
é Carlos Alberto Di Franco, também celibatário e declaradamente adepto do cilício –
prática medieval que consiste em atar uma espécie de corrente de aço com espetos ao redor
da perna durante uma hora diária para lembrar o sofrimento de Cristo.
No mundo de hoje, com Trump, Brexit, EI e
tantos outros, grassa o fundamentalismo, representando um retrocesso radical (ou
belicista) jamais visto. Esperemos que logo a tendência tenha um fim, e prevaleça
a verdadeira obra de Deus.
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