(Ou A Teoria da Probabilidade e a Reforma da Previdência)
Geraldo Pereira e Wilson Batista |
Samba de Wilson Batista e Geraldo
Pereira (1940), narra o sonho de um acertador do prêmio maior do ‘bicho’, e tudo
o que poderia comprar como milionário. Eu, raro jogar qualquer coisa, nem rifa de quermesse
ganhei, mas a Mega Sena acumulou 170 milhões... Não desejei essa quantia absurda,
talvez só uma pequena fatia nesses bolões feitos por computador. Apostei pela Internet
em um site confiável recomendado. Perdi. Também é um 'jogo de azar'.
Loteria Esportiva: "teste" nº 254 |
Desde a primeira loteria esportiva avisam: teste número ‘n’. Claro, o jogo no Brasil é ilegal. Seria, mas aposta-se de tudo, além das loterias e mega senas:
time, eleição, e, até ouvi dizer, quem do grupo vai morrer primeiro (o infeliz perde
a vida e o dinheiro). Cassinos ocultam-se em bairros nobres como o Morumbi
paulistano. Joga-se bingo, pôquer e bridge a dinheiro em muitos clubes, nas
elegantes casas de bingo, e porrinha nas ruas. Nas praças e ruas, há os
prestidigitadores de moedas com forminhas de empada sobre caixotes arrancando
dinheiro de curiosos.
A alucinante Las Vegas |
Pela Internet, joga-se em cassinos
como os de Las Vegas, é só ter ‘estofo’ lá fora e um belo cartão de crédito. Já
na Austrália, 80% da população adulta é jogadora, número preocupante. Uma operadora
de certa linha aérea australiana contou-me de voos fretados por brasileiros riquíssimos
para apostar em cassinos daquele país. Nos EUA, é enorme a jogatina, de caça-níqueis
a bacará, um jogo de cartas controlado por um crupiê esperto e ligeiro. Sem
falar na roleta, atração maior até para quem nunca jogou na vida. Basta apostar,
pagar, e, quase sempre, perder tudo.
"Em outras palavras, quando você joga um dado o número que provavelmente virá depende daquele que você acaba de jogar. Não será completamente ao acaso" (trad. livre do A.) |
Há grupos como o MIT Blackjack (‘vinte
e um’) Team, do Massachusetts Institute of Technology. Alguns especialistas têm
a matemática como parceira, como dois
professores de uma universidade americana que começaram a fazer dinheiro nas
roletas, baseando-se na teoria da probabilidade, que vem sendo amadurecida desde
Blaise Pascal (séc. 17). Na roleta há diversos tipos de apostas, e as
preferidas pelos matemáticos são as mais simples, chance de 50% na primeira
jogada: preto ou vermelho, maior ou menor, par ou ímpar.
Se ao apostar em uma dessas opções na
primeira vez der azar, a chance de perder novamente já é um pouco menor. Na
terceira vez, é ainda mais fácil vingar a mesma escolha. Quatro derrotas seguidas
indicam que é hora de jogar pesado. Mas se perder uma quinta vez, multiplica-se
a aposta para, quase fatalmente, cacifarem altas somas, ante o desespero dos
cassinos. Claro, há teorias com variações diversas sobre o assunto. Segundo estudiosos, elas seriam a Bayesana, mais 'científica' (penso que meio positivista), e a clássica - é claro, rivais.
Há muito anos, resolvi testar a
coisa. Perto de casa, em São Paulo, conheci o Mané, ‘corretor zoológico’ (ironia
para ‘apontador de jogo’). Simpático, sempre de terno e uma bíblia na mão,
emprestou-me seu caderno de resultados. Resolvi jogar nos grupos, que vão de 1
a 25 e levam nomes de animais: do 1, avestruz (grupo 1, 2, 3 e 4), ao 25, vaca (97,
98, 99 e 00). Copiadas as páginas do caderno, escolhi o macaco, que não ganhava
há 17 dias. Jogava sempre no mesmo horário, mesma central, e aposta gorda; se falhasse,
dobrava a mesma aposta e ainda adicionaria um ‘plus’ pela perda anterior. Falhando,
repetiria uma, duas, três vezes, e logo dava.
O cantinho do apontador, bem à vista |
O ‘xerife’ geral da região pediu ao Mané que
lhe telefonasse sempre, logo após eu jogar, para que ele pudesse repetir a
minha aposta, ‘descarregando’ o prêmio. Na ganância, acrescentei um segundo
bicho azarão, depois um terceiro, e com três passei a ganhar com muita
frequência. O ‘banqueiro’, para dificultar, resolveu não aceitar mais meus cheques
e passei a apostar em dinheiro. Apesar do lucro enorme, aquilo já se tornava um
vício, e para não perder o dinheiro empatado passei a não escolher novo bicho a
cada acerto até zerar tudo, no lucro.
Há jogo do bicho em todo o país, provavelmente
em todas as cidades. Bares, lojas de fachada, ou abertamente nas calçadas, como
no Rio, de resultados pendurados, o “deu no poste”. É hipocrisia pura fingir que
não existe o que todo mundo vê, sabe-se até onde se faz aposta. Por isso mesmo, há um projeto para liberação do
jogo tramitando no Senado desde 2014.
O Barão de Drummond |
O Jogo do Bicho foi criado em 1892 pelo
Barão de Drummond, hoje nome de praça na Vila Isabel carioca. Seu zoológico estava
deficitário, daí ele ter inventado uma roleta com as figuras dos 25 bichos,
para ajudar no sustento da ‘prole’. A prática desse jogo sempre foi muito
popular, pois o sujeito que faz sua ‘fezinha’, em geral humilde, aposta o
trocado que puder, e ainda escolhe os números de sua preferência. (Costumam apostar
em sonhos, há até livros sobre as relações entre devaneios e os bichos!) Em
1946, o presidente Dutra proibiu todos os jogos de azar no país. Diziam que a
esposa dele era jogadora compulsiva, apostava e perdia muito. Mais uma vez, o
país dobrou-se diante dos problemas familiares de um governante.
O imponente Teatro do Cassino da Urca |
Cassinos da
Urca, Copacabana Palace, Quitandinha de Petrópolis e tantos outros foram
lacrados, forçando uma bruta queda no ingresso de recursos no comércio e no Tesouro.
Foram 55 mil desempregados (seriam 270 mil, com a população de hoje), entre
eles mais de 2.000 artistas (hoje 10 mil, o país em 1946 tinha só 41 milhões de habitantes!).
Pixinguinha, Carmen Miranda, orquestras como a do Severino Araújo, legiões deles
se projetaram nos cassinos.
Prisão da "casta" do jogo do bicho no Rio, em 1993: Juíza Denise Frossard. |
Não jogo, talvez uma Mega Sena
bissexta, no bicho nunca. Mas que imensidão de impostos seriam recolhidos com a
legalização do que existe de fato (e hoje engorda os cofres dos chefões do crime)!
Bicho, jogos e cassinos salvariam o povo
da ‘derrama’ cada vez maior de impostos e ‘contribuições’, fora um número fabuloso
de empregos diretos e indiretos! Nos EUA, em 2012, o jogo (sem contar a arrecadação também bilionária das loterias) proporciona emprego direto a 120.000 pessoas, sem contar empregos e benefícios indiretos, como turismo e serviços. Chegou a pagar ao Tesouro, naquele ano, US$ 574 bilhões (atualizados), ou R$ 2 trilhões, 267 bilhões em impostos. Em um ano, mais do que o dobro do que se pretende obter aqui com a reforma da Previdência em dez anos!
Arrecadação do jogo nos EUA (fora as milionárias loterias): US$ 564 bilhões, ou R$ 2.216.520.000: |
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