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quinta-feira, 11 de junho de 2020

TEMPOS DE GEORGE FLOYD: MULTIDÕES IGNORAM




O ISOLAMENTO SOCIAL 
E AS BARREIRAS DA POLÍCIA
Em 25 de maio, George Floyd, um negro de Minneapolis com dois metros de altura e aficionado pelo basquete, foi alvo de uma das mais cruéis ações policiais dos últimos tempos nos Estados Unidos. Hoje nome conhecido e evocado no mundo inteiro, Floyd teve o pescoço esmagado contra o asfalto pelo joelho de um policial branco, Chauvin (nome de onde vem chauvinista, que estranha coincidência!). Foram nove longos minutos assistidos pelas TVs do mundo inteiro, o moribundo sussurrando uma frase que se tornaria lema de protestos: I can’t breathe! (“Não posso respirar!”). Outros policiais observavam, cúmplices de sádica tortura e premeditado assassinato.
Floyd tornou-se ícone de um novo movimento e palavra de ordem na luta de milhões de manifestantes pelo mundo. Nos EUA, chamou a atenção o grande número de jovens brancos que participarem dos protestos - um fenômeno, nas proporções em que aconteceu, se comparadas a manifestações anteriores. Houve alguns absurdos vandalismos, por radicais surgidos de uma ebulição estancada, mas os riots foram pacíficos.
Ébano e marfim
Há um diferencial neste que foi mais um dos incontáveis assassinatos raciais pela polícia americana em décadas: uma amiga escritora bem lembrou a música Ebony and Ivory, “ébano e marfim”, de Paul McCartney: (negros e brancos) “que vivem juntos em perfeita harmonia”. Ébano e marfim, dois dos materiais usados nos talões dos melhores violinos: peça que retesa a crina e serve para o instrumentista manobrar a vareta, superando as mais intricadas passagens e suaves nuanças – em alusão poética).
Há também uma particularidade nessa amálgama de ébano e marfim a fazê-la tão especial; outra amiga, ex-jornalista da Veja, trouxe luz à questão. Na manifestação contra a violência de policiais brancos, todos estavam unidos, civilização contra a barbárie, tendo como bandeira de luta um crime racial cujos ecos repercutiram em protestos pelo mundo e até no Brasil. Racismo é muito mais do que ofender e humilhar negros, latinos e muçulmanos, é preteri-los nos empregos e oportunidades, é tratá-los como seres diferentes (daí o black lives matter, “vidas negras importam”).
Martin Luther King, Jr.
Não ouvi o canto lamentoso we shall overcome someday (“nós conquistaremos, um dia”) das marchas de um dos maiores líderes e oradores da história, Martin Luther King Jr., o homem do grande discurso I had a dream, “eu tive um sonho”. O ódio racial, fruto do segregacionismo americano e de tantos países, ressurge mais forte em razão da atual conjuntura política - o fascismo populista que toma corpo tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil. Racismo e fascismo, qual xifópagos unidos por um elo forjado em aço, é liga que deve ser rompida e ambos eliminados já, a qualquer custo.
Inegável que o acúmulo de tensões do isolamento social desses meses elevou a temperatura emocional ao vermelho nos EUA, cujo povo sofre com o avanço recorde da Covid-19. Multidões revoltadas, energias represadas até o limite, cortaram amarras em mais de 400 cidades em 50 dos estados americanos, furaram o cerco de quarentenas, barricadas, policiais armados e toques de recolher. E, mesmo após quase duas semanas, no dia 6, mais de um milhão marcharam pelo país.
Ku-Klux-Klan
O presidente americano vê trincar a maioria que o levaria de volta à Casa Branca, a única coisa que parece importar além de uma prepotente e inepta liderança. Com America First, ofende outras nações, eivado de radicalismos xenofóbicos e preconceituosos sob a égide da extrema direita, até da medievalesca Ku-Klux-Klan. Em busca de bodes expiatórios, Trump conclamou os governadores de seu país a combaterem com energia as manifestações.
Zumbi
Enquanto isso, o que acontecia no Brasil? Sergio Camargo, negro – necessário frisar -, nomeado presidente da Fundação Cultural Palmares, foi exonerado por uma ordem da Justiça, depois revogada. Novamente entronizado no cargo, o pivô da saída de Regina Duarte expressa-se não titular de um cargo, e menos ainda como um negro que dirige uma fundação que honra Zumbi dos Palmares, um quilombola assassinado no século 17. Camargo tornou-se porta-voz negro da direita branca radical e contumaz nos ataques aos seus irmãos de cor.
(Katiadoolodum)
Em tom racista, julgando-se escudado pela cor da própria pele, agrediu: “Zumbi era um filho da puta que escravizava pretos”, “o movimento negro é escória maldita”, enquanto no mundo George Floyd se tornava símbolo da luta pela igualdade de direitos. A uma mãe de santo, parte da rica cultura afro-brasileira, Camargo referiu-se jocosamente como “macumbeira”, e que “macumbeiro não terá um centavo da autarquia” frases amplamente noticiadas pela imprensa - como se o erário público fosse de seu bolso e a seu absurdo critério.  
Sergio Camargo (horadopovo.com.br)
Andreia Sadi, da Globonews, disse na TV: “Sergio Camargo está no governo a despeito de suas falas. No momento em que o mundo se levanta contra o racismo, manter Camargo no cargo é avalizar suas declarações como política de governo”.
Juracy e Castelo
Juracy Magalhães, general-embaixador do Brasil nos EUA de Castelo Branco e Costa e Silva, proferiu uma frase-símbolo, desnudando a subserviência do Brasil de então: “O que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil”. Hoje, vivemos uma caricatura do modelo Trump, apesar de a nação americana ser amiga e não culpada como um todo pelos crimes raciais: há tantas coisas que poderiam nos servir de exemplo! Como, agora, a opção pela civilidade contra a barbárie e um racismo endêmico e belicoso.
George Floyd foi enterrado no dia 9 de julho de 2020.
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3º programa em meu canal do Youtube: 

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