Fefierj, na Praia do Flamengo |
No
início dos anos 1970, cursei Licenciatura em Música na Fefierj (Uni-Rio). A
escolha se deveu à oportunidade de estudar com Hélio Senna e Silvio Mehry,
ambos formados pelo Conservatório de Moscou, e Marlene França, ex-aluna de
Ginastera. Também tive liberdade para escolher o professor de instrumento de minha
preferência. Certo dia, uma porta se abriu para mim nos EUA, e corri para
Boston.
New England Conservatory |
Estudei
por um ano no Berklee College, enquanto me preparava para ingressar em minha
opção primeira, o New England Conservatory, conhecido como uma das três
melhores instituições dos EUA. (Berklee ajudou-me na parte de escrita e
arranjos para jazz, foi uma grande vivência). Preparei-me ao máximo, e obtive
por prova um Financial Aid Award do New England, fundamental à minha sobrevivência.
Lá, estudei contrabaixo por poucos meses com William Rhein, até o encontrarem morto
em circunstâncias sinistras - mas previsíveis. Fiz prova para ingressar em uma
das três vagas na classe especial de Edwin Barker, solista da Sinfônica de
Boston, e passei a estudar ainda mais.
Formei-me
após um pré-recital com banca e um recital público externo. Surgiu então um
convite para trabalhar no Brasil em uma organização sob a liderança de um
grande nome, proposta irrecusável. Decidi-me e comecei a organizar a papelada.
Em uma viagem ao Brasil estive no MEC, no Rio, e a funcionária responsável pela
revalidação de diplomas do exterior me fez uma série de exigências, como um
documento, à parte do diploma com a assinatura do presidente da entidade, no
qual deveria constar uma confirmação da autenticidade do título (pelo mesmo
presidente que assinara o diploma anexado!) Ambos deveriam ser colados com um
selo inviolável com a marca d’água da instituição e outra de um “notary public”
– o correspondente a um tabelião, prática inexistente nos EUA. Sem resistir, o presidente
do NEC deixou escapar: “o país da fitinha vermelha”.
(Foto: qconcursos) |
Retornando
ao Brasil, segui as instruções do MEC e da burocracia. A papelada teve tradução
juramentada, carimbos e selos de acordo com as normas do Ministério. Para encurtar
os dois ou mais anos previstos, protocolei o pedido de revalidação na Unicamp, fugindo
do MEC. Um professor visitante da Universidade de Indiana, Mel Carey, chamado
para atestar a qualidade do curso, resumiu: “fabulous!” Não tardou a burocracia
apontar que faltava em meu currículo escolar um semestre de Problemas
Brasileiros, que a ditadura, já agonizante, havia travestido da velha Educação
Moral e Cívica. Inscrevi-me, fiz o paper final da disciplina e, após quase
três anos de via crucis burocrática, em 1985 recebi a chancela final, assinada
pelo reitor da Unicamp, então Aristodemo Pinotti, número devidamente carimbado.
USP (jornal.usp.br) |
Ingressei
como professor na USP em 1988: tal qual os outros, eu só tinha um diploma
superior. Logo, a Reitoria publicou no Diário Oficial o meu ingresso na
carreira, dando-me até seis anos para apresentar o diploma de mestre. Fiz duas
disciplinas de pós-graduação como aluno especial que foram aproveitadas no curso.
Ingressei oficialmente na área de Artes Plásticas, uma vez que ainda não havia
mestrado em música na USP. Preparação de dissertação, o temível exame de
qualificação e finalmente a defesa pública – ambas perante uma banca já no
Departamento de Música, com mestrado na área já oficializado. Concluí o curso em
Artes Plásticas: sete disciplinas de três horas semanais cada - o tal
“superdoutorado”, enquanto um candidato a doutor tinha o ‘privilégio’ de
concentrar-se a fundo no trinômio pesquisa-tese-defesa e a exigência de apenas quatro
disciplinas.
Após
breve recesso, vi que teria de enfrentar o doutorado, desta vez em Artes Cênicas. ainda não existia o curso na Música. Disciplinas, muitas horas
de trabalho e um projeto de pesquisa bem mais amplo, com mais exigências e bem mais
árduo: muita bibliografia,
correspondências, entrevistas, idas a bibliotecas, procuras por fontes, etc.
Tudo isso para um certo dia, material pronto, submeter-me à decisiva banca de
qualificação. Um semestre depois, preparando a oratória e estudando com muito
afinco, imprimi os dez exemplares, cada um com quase trezentas páginas, e fui à
banca em audiência pública com a participação de convidados estranhos ao corpo
docente da Universidade. Foi uma longa sessão de perguntas, questionamentos, olhares
clínicos e pequenas armadilhas, mas estava preparado para a ocasião.
Vinte
e um anos depois da expedição do diploma de doutorado, sempre lendo e pesquisando,
achei que talvez fosse hora de um grande alto, o pós-doutorado, ou simplesmente
pós-doc. A ideia me fascinou, mesmo sabendo do trabalho árduo que teria pela
frente: informações sobre minha atuação profissional e acadêmica, publicações, tudo
desde o início da carreira até os dias de hoje, qualificado e quantificado. Softwares
para contabilidade de citações de meus trabalhos em livros e produções
acadêmicas, detalhes de toda uma vida. E um projeto em que se privilegia a
pesquisa no mais alto nível, algo que possa ser útil ao país, à comunidade
acadêmica e à pesquisa em geral.
Adicionar legenda |
A
obtenção de títulos verdadeiros e reconhecidos no Brasil não é brincadeira. Não
é um pendurar de papeis sem lastro e emoldurados na parede e o decorar do
currículo com títulos para fazer bonito. Como dizia meu professor nos EUA, nada
é feito para ser fácil, muito pelo contrário. Mas há um caminho a ser evitado:
falsear e plagiar são habilidades fúteis e traiçoeiras: é como armar uma bomba-relógio que
um dia lá na frente vai estourar na sua mão.
***
Canal no youtube: MPB DE NOVO! https://www.youtube.com/watch?v=Jg9uvoiPk6E&fbclid=IwAR3cUdtvd4Zc2tnUE5sDgziL8SAyGwaQhWN91YI5BBn3RlvBwdWH4aLsqW0
Para todos os programas: youtube.com/autrandourado
Livro (encomenda): Memórias de Isolamento - Saudosos velhos Amigos: memoriasdeisolamento@gmail.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário