Em uma rede social, surgiu uma discussão sobre o uso da expressão “nossa pátria”. Houve quem sugerisse até mesmo um absurdo: “mátria”, na contramão da onda machista que assola o país. Mas pátria vem do latim “pater” (terra, solo), e só passou a significar “país” na idade média. Alguns torcem o nariz também para patrimônio, embora a palavra deva sua origem à parte da terra (pater) de cada um, ou seja, sua propriedade. Patrimônio vem daquilo que na antiguidade se referia a propriedade (terra), e não ao homem, o macho. Já “mãe” veio de “mater” (vida, em latim). “Pater” e “mater”: terra e vida, assim como Adão e Eva, em hebraico. No Código Civil brasileiro, “pátrio poder” é a coleção de direitos e deveres de ambos os pais (homem e mulher) sobre filhos menores. Não sabem os mais afoitos que Adão e Eva, que em hebraico também significam terra (Adamah) e vida (Avaah) e são simbolizados por aquela moça de longas madeixas (à frente de uma árvore com uma serpente enrolada), a mostrar na mão o fruto proibido sob o olhar curioso de um rapaz, ambos com suas partes “pudorentas” cobertas apenas com folhas de plantas, momento do pecado original, entre os cristãos.
Fertilizando in-vitro |
Lembro ainda um neologismo, tanto no jargão médico, da genética, familiar ou jurídico: o pai não-biológico, aquele que não participou da conjunção carnal para a concepção, apenas assumiu o papel de pai de um filho, muitas vezes com enorme esmero, tornando-se pai de filhos por toda sua vida. O pai adotivo, que assume o papel paternal ao lado de uma viúva, ou talvez de uma mulher abandonada por seu parceiro, aquele que adota uma criança ou ainda o padrasto, podem ser fiéis pais de coração. Pai é quem cria, no final das contas, com dedicação e esperança, os filhos que deverão continuar a missão de povoar o mundo, em nome da permanência da espécie.
Allãh |
Todas as religiões monoteístas, incluindo aí o judaísmo e o
islamismo, fazem referência e reverências ao Pai; em todas elas, ele é o
Senhor, e este é sempre o bom Pai. Alá (Allãh) é o nome de Deus, em árabe, e Maomé
seu último profeta, que ditou os preceitos do Islã. Os que seguem o islamismo
são chamados muçulmanos. Muçulmanos, assim como os judeus, consideram Cristo um
dos profetas. Dirigem suas preces diretamente ao Pai, divindade máxima,
infinita e única. O judaísmo também é uma religião abraâmica, e teve em Moisés o
introdutor de suas leis, dos mandamentos e do Torá, sua bíblia sagrada. “Ouça,
Israel, Adonai, nosso Deus, é único”. Não há ninguém além dele. A conversa dos
judeus é com o Pai, seguindo preceitos religiosos que estão entre os mais
antigos e intocáveis de nossa civilização. (Adonai significa “meu senhor”,
porque o nome de Deus, Jhwh - Javé - não deve ser pronunciado).
Voltaire |
Fiz essa digressão para abordar alguns pontos bem básicos
(não sou especialista na matéria, sou apenas um curioso incansável) para minha
conclusão. Ela é o leito onde deito a reflexão deste artigo, no momento a que
nos remetemos neste dia exato do ano aos nossos pais. Dos pais conhecidos e desconhecidos,
dos que desapareceram nas guerras ou sob coturnos e torturas, e as vítimas de
crimes. Dos pais exemplares aos que são pouco presentes, mas que lá têm alguma virtude.
Aos nossos filhos homens, quando forem pais, e aos filhos deles, pais de tantos
outros futuros pais, e assim por diante até o final dos tempos (será, então, quando
nos encontraremos todos, pais?). E especialmente aos pais que hoje, por uma razão ou
por outra, ou por desígnio impenetrável de Deus, não puderam comparecer para
nos confortar com sua presença.
Autran Dourado, em caricatura genial de Bruno Venâncio O Progresso em Revista www.oprogressodetatui.com.br |
Nenhum comentário:
Postar um comentário