Engarrafamento em São Paulo |
Há poucas décadas, um bom apartamento de três dormitórios em
São Paulo ou Rio tinha 150 m2 (ou mais). Hoje, vemos anunciadas
obras de 57 m2 para o mesmo tipo de moradia. O que
acontece, então? Claro, as cidades cada vez mais comprometem seu espaço com a
verticalização, além de despejarem dezenas ou centenas de automóveis em um espaço onde
antes havia apenas um ou dois por casa. Sem a expansão horizontal, derrotada
pela industrialização, as cidades crescem desordenadas e sufocadas. E ainda assim a vida encarece.
Casas simples em Fairfax, Virginia, EUA |
Soluções de impacto na economia são tomadas pelos governos para
gerar de supetão o esperado aumento no índice de empregos nas obras, facilitando o crédito e encolhendo os impostos sobre os materiais de
construção – sem falar no aumento de R$ 500 mil para R$ 750 mil no teto do FGTS
para utilização na aquisição da casa própria. Tudo para “aquecer a economia” e
o emprego. Com esse impacto, sob maior demanda e oferta ainda não suficiente, caminhamos
para um cenário nada confortável. E tome incentivo para multiplicar o número de automóveis nas ruas, opção histórica do brasileiro em detrimento dos trens, metrô e ônibus.
Cingapura |
Em Cingapura, um amontoado de ilhas cuja área (712 mil m2)
é de apenas dez vezes a do terreno do alojamento de alunos do Conservatório de
Tatuí, espremem-se 5 milhões de habitantes em ínfimos espaços. E quais são as
soluções ou panaceias adotadas por aquele país insular asiático? Limitar ao
máximo o crescimento demográfico, até mesmo - pasme – erguendo a espada de Dâmocles,
a demissão do emprego da mulher que engravida. E mesmo assim, para conter esse
pânico populacional, pensa-se em expandir a área do país – só que para baixo, na forma
de imensos subterrâneos.
"Dormitório" em Tóquio |
Castelo de 3,6 milhões em Toulouse |
E no Brasil? Aqui, com o avanço das empreendedoras,
crédito fácil e demanda estimulada, chega-se a ocupar o antes inocupável, oferecendo moradias a preço baixo via projetos governamentais de alcance frequentemente mais
político do que habitacional. Neste 2013 que já quase termina, gastou-se zero
com a reforma agrária. Mas a classe alta já “emergida” estimula um mercado que
não tem mais limites nos recantos da alta sociedade: um apartamento de luxo em
Moema ou Vila Olímpia, na capital paulista, chega a custar absurdos 20 milhões,
valor que paga alguns castelos na França, segundo matéria recente da
Folha. (Só que lá tem que pagar motoristas, para manobrar as quase 30 vagas da garagem
palaciana, além governantas e mordomos. Coisa de palácio, “noblesse oblige”).
Estarrecedor, não? E veja isto: na Rua 25 de março, centro
de São Paulo, o metro quadrado chega a custar 12 mil – sim, onde tem aquelas portinhas
que empilham produtos dentro e fora das lojas. Uma lojinha meia-boca de 100 m2
pode valer 1,2 milhões. E vamos ao Rio: especialmente com a proximidade
da copa, os preços enlouqueceram de vez. Nos entornos da orla e nas praias de
Ipanema e Leblon, por exemplo, o metro quadrado construído chega a 65 mil. Isso
mesmo. O que quer dizer que um típico apartamento de alto luxo ali, com uma
área útil de 400 m2, chega a custar a bagatela de 26 milhões. E apartamentos
nos subúrbios também pululam na capital fluminense, alçando preços nunca antes
imagináveis.
Planta do apartamento de 19m2 |
A supercampeã é uma construtora que está para entregar um
prédio de fino acabamento na Vila Olímpia, em São Paulo, oferecendo, a módicos
R$ 266 mil reais, apartamentos para executivos ou estudantes. Ótimo bairro,
comércio fino, bons restaurantes, lugar de grife mesmo. O problema é a metragem do
apartamento: 19 m2, uma palafita vertical de luxo. Um
cubículo para entrar e dormir. O conceito do bom padrão de vida e moradia tem
sido devastado pelo casamento poligâmico entre especulação, trânsito, medidas
de impacto político e descontrole administrativo, caminho certo para vivermos uma
vida cada vez pior, salvando-se apenas os que podem pagar muito alto pela
praticidade e conforto. A Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio detectou
que, em cinco anos, o tamanho médio dos lançamentos em São Paulo caiu 28,4%, enquanto
o preço subiu 124%. “Eu quero uma casa no campo”, cantou Rodrix, lembra? E Você? Não?
Casa no Campo, de Zé Rodrix, por Elis Regina
[Sobre esse “cadeião vertical” da Vila Olímpia, acesse: http://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2013/10/04/inspirada-em-toquio-construtora-lanca-apartamento-de-19m-em-sao-paulo.htm?mobile]
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