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sábado, 19 de outubro de 2013
O NOBEL DE ECONOMIA E A “BOLHA BRASILEIRA”
Cambridge University, Campus
A economia é uma ciência bastante inexata, e sujeita a
correntes teóricas e filosóficas de diversos matizes. A começar pelo escocês
Adam Smith (1723-1790), economista e filósofo, pai do liberalismo; Keynes
(1883-1946), o homem da macroeconomia da escola de Cambrigde – sim, por divergirem
eles têm escolas instaladas nas grandes universidades -; Kenneth
Galbraith (1908-2006), também da linha de Cambridge, foi assessor do presidente
Kennedy e publicou uma severa crítica à economia norte-americana (A Sociedade
Opulenta, de 1958). Seu livro A Era da Incerteza (The Age of Uncertainty) foi
transformado em um dos mais belos filmes sobre economia: a moeda, o crescimento da
economia mundial e o capitalismo. (Abaixo, o 6º capítulo de A Era da Incerteza –
Dinheiro, com John Kenneth Galbraith, fascinante!).
Karl Marx
Antes dele, o alemão Karl Marx (1818-1883) abraçou mais
ramos do conhecimento, além da economia: filosofia, história, ciências sociais
e literatura. Muito embora tenha sido um dos ideólogos do comunismo, Marx criou
teorias empregadas até mesmo pela chamada direita: mais valia e menor valia,
poder econômico e poder político, entre tantas outras.
MIT, Campus
A teoria econômica tem diversas “escolas”, mas o rigor
científico nelas é o das propostas, e não a conclusão matemática final – seja sobre
assunto passado (história), a análise do presente e, quanto ao futuro, aquilo que
presumivelmente deverá acontecer. O Brasil tem grandes economistas formados no MIT
(Massachusetts Institute of Technology), como André Lara Resende e Pérsio
Arida, um dos pais do Plano Real, além de nosso ex-secretário de cultura e
ex-vice-diretor do BID, João Sayad. A pomposa Harvard University nos deu Gustavo
Franco, ex-BNDES, assim como Henrique Meirelles, ex-Bankboston e ex-Banco
Central. Mas as disputas hoje ficaram entre Chicago e Yale.
Nobel de Economia 2013: os vencedores
O prêmio Nobel de Economia 2013 foi dividido em 14 de
outubro entre dois baluartes da Universidade de Chicago, Eugene Fama, 74, o
festejado Lars Peter Hansen, 60, e um da Yale University: Robert Schiller, 67. Vou
me deter em Schiller, que tem pesquisado o mercado de ações, além de ser um estudioso
do mercado imobiliário brasileiro.
O Index de Schiller, na crise americana: um gráfico tenebroso
The Housing Bubble: a "bolha americana")
Diz ele que os preços do mercado de imóveis no Brasil, muito
especialmente no Rio e em São Paulo, são alarmantes. Pensa que o fenômeno
japonês de 1980 pode se repetir, ou ainda a famosa “bolha imobiliária” que
estourou nos EUA em 2005/6, ameaçando a volátil economia americana e sacudindo o
mundo inteiro. Schiller havia alertado sobre o risco da “bolha” americana, e
foi atacado. Hoje, passado o tsunami da “bolha”, Schiller é merecidamente
contemplado com o maior prêmio que um cidadão do mundo pode receber.
Schiller: o título para Yale
Na semana passada, neste mesmo espaço, escrevi o artigo “A
Pior Qualidade de Vida em Poucas Lições”. Eu não conhecia Schiller, e menos
ainda poderia adivinhar o resultado do prêmio Nobel. Tratou-se de uma
coincidência entre minhas intuições amadoras e a erudição de um gênio em um ramo
que não “toco” nem “de ouvido”. Na
coluna, tratei do excesso de aberturas ao financiamento, por parte do governo,
de uma queda nos juros que foi (e já não é mais tanto) atrativa, da ampliação
do uso do FGTS, da queda do IPI para estimular a indústria da construção -
resumindo, um estopim para o “estouro” de uma possível bolha brasileira (se
Schiller não garante, como disse ele, quem seria eu, pobre mortal?).
O Capital: Crítica da Economia Política
Se o preço dos imóveis no Rio e em São Paulo começar a
desabar, haverá fuga do mercado, inadimplência e o abandono de prestações
altíssimas para imóveis cujo valor pode cair em queda livre, ao estilo do fenômeno
americano, com uma deterioração nos preços finais dos imóveis que poderia por
em risco a economia do país. O velho Marx dizia que a história se repete, e da
segunda vez como farsa. Tomara que não.
São Paulo
No texto, citei os apartamentos de luxo de mais de 20
milhões na Vila Olímpia, em São Paulo, e dos que ficam na orla de Ipanema e
Leblon, no Rio, que chegam a R$ 26 milhões para os “top”, enquanto um castelo
em Toulouse, na França, é anunciado por R$ 3,6 milhões. Passamos pela Rua 25 de
março, no centro de São Paulo, onde uma lojinha de 100m2 pode valer
R$ 1,2 milhões, até o suprassumo do absurdo: um apartamento de R$ 266 mil na
Vila Olímpia com ótimo acabamento (perto de restaurantes finos, vizinhança de
primeira, comércio chique) – só que com míseros 19m2 – barracos dos
menores empilhados em uma favela vertical de luxo. Nos últimos 5 anos, em São
Paulo, o tamanho médio dos apartamentos caiu 28,4%, mas o preço subiu 124%,
uma alta de quase 150% no preço final.
Esse tratamento de altíssimo risco para conter o índice de desemprego,
desovar material de construção, estimular a aquisição de imóveis e ampliar o
uso do FGTS para a compra de moradia própria, tem sido o combustível de boa
parte das cifras de nossa economia. Porém, volto ao Schiller, com sua argúcia e
precaução: essa ciência, economia, é a história do passado, o cálculo e
observação do presente e a filosofia do futuro (e não a ‘futurologia’ de que
falava um grande economista, fiel soldado da ditadura, Delfim Netto). Por isso,
Schiller nos deixa o benefício da dúvida quanto à “bolha” brasileira, dizendo
que “não cravaria isso”. Porém, quem vê esse momento, mesmo que com óculos de
amador, sabe que é impossível os preços subirem mais. Quando muito, cairão a um
patamar aceitável. Resta esperar e torcer para que a suposta “bolha” seja como
aquelas que dão no pé, quando o sapato é apertado: incha, estoura, dói um
pouquinho mas logo passa.
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