Há outros empecilhos à negociação com a Pfizer, principalmente a necessidade de se armazenar o produto a uma temperatura de absurdos -70ºC, o que provavelmente descarta a totalidade das geladeiras dos postos de saúde, quase todos os SUS e afins. O país tem 5.570 municípios, muitos deles bastante pequenos, e várias metrópoles, como São Paulo e Rio, sem falar no campo e nas aldeias indígenas, que ficariam de lado. A Bahia já se adiantou e comprou certo número de freezers especiais, mas parece que será suficiente para pouco além da capital, Salvador. Se para os menores municípios do país três ou cinco deles poderiam servir, quantos, somente na área urbana da capital paulista, seriam necessários?
O mundo corre 'no vácuo’ do Reino Unido, que já enviou por ferrovias vacinas para centros estratégicos para começar a imunização em massa no dia 8 de dezembro, após aprovação que o assessor para saúde norte-americano Anthony Fauci (foto) – cuja permanência no cargo já foi anunciada por Biden, declarou apressada e perigosa. Os valores em real mencionados no parágrafo anterior mostram que esta vacina seria para uma abastada elite urbana e ‘ungidos’: a US$ 40 (R$ 210) pelas duas doses, mais transporte e freezers para armazenamento de milhões delas, chega-se a um custo estratosférico.
O tipo de freezer que a vacina da Pfizer requer existe em centros de pesquisa, como o Butantan, a Fiocruz e outros, e já são utilizados para experimentos, guarda de órgãos destinados a transplantes, fora as instituições privadas de reprodução assistida, ou seja, congelamento de esperma, óvulos ou embriões (foto), ‘hospedagem’ ridiculamente cara, acessível apenas a uma casta muito rica. Se vários centros não poderiam esvaziar suas geladeiras, outros não abririam mão das fortunas que auferem privadamente, portanto deve haver apenas mais alguns centros, como o HC, o Emílio Ribas e outros públicos, além de Hospitais como o A. Einstein e alguns laboratórios, que também não podem simplesmente esvaziar seus conteúdos.
Cada freezer desses custa US$ 20 mil (mais de R$ 85 mil), fora o transporte, o que lançaria as cifras a níveis exorbitantes. Existe a possibilidade de se adquirir maletas especiais para até 15 dias de transporte, o que somado ao preço total seria impagável. Enquanto isso, a celebrada AstraZeneca/Oxford teve de suspender seus testes e recomeçar devido a uma falha de protocolo, o que atrasa ainda mais nossa batalha particular.
Correndo por fora, a chinesa da Sinovac, CoronaVac/Butantan, que tem custo dez vezes menor e funciona em dose que esperamos única, com eficácia a ser numericamente comprovada, e pode ser armazenada entre 2 e 8ºC em simples geladeiras de postos de saúde ou do SUS. O governo do estado de São Paulo comprou e já recebeu um lote pronto e insumos para envase pelo Instituto Butantan, ficando grandes volumes para mais adiante. O Butantan sofreu uma reforma (foto acima) e se prepara com a ajuda da Fapesp e do Todos pela Saúde (Itaú-Unibanco).
Contudo, aparentemente, há um impasse. O presidente da República já reiterou que não comprará a vacina chinesa, pura e simplesmente, não se sabe se por questão ideológica ou outro motivo desconhecido. Técnico-científico, sabemos que não é, fora bravatas como a do ministro da Economia, sobre “evidências empíricas” (sic), coisa desprovida de sentido cientifico (Estadão, 3/12). E a Anvisa, a ser dirigida por Jorge Luiz Kormann (foto), um tenente-coronel olavista nomeado pelo presidente cujo nome deverá ser ratificado pelo Congresso no dia 19 de dezembro, já vem obstruindo e procrastinando o ingresso da vacina chinesa há tempos.
Porém, um fato recente parece esquecido: Em 6 de fevereiro deste ano o presidente sancionou lei nº 13.979, decretada pelo Congresso, ante a iminência da catástrofe anunciada. Diz o preâmbulo: “Dispõe sobre as medidas para enfrentamento da emergência de saúde pública (...) decorrente do coronavírus responsável pelo surto de 2019” (sic). E, no caput do Art. 3º: “poderão ser adotadas, entre outras, as seguintes medidas”. Entre elas, diz o inciso VIII: “autorização excepcional (...) para a aprovação de produtos sujeitos à vigilância sanitária sem registro na Anvisa, desde que: a) registrados por autoridade sanitária estrangeira”.
Em
tempo: cavalgada ou cavalhada vem de cavalgata, um desfile que representa o
duelo de lanças e espadas entre azuis e vermelhos, cristãos e mouros, do sul do
Brasil a Minas e Bahia, tradicional folguedo introduzido no país, como tantos
outros, por influência da ocupação mourisca da Península Ibérica.
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