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terça-feira, 8 de novembro de 2011

MAESTROS X SOLISTAS

MAESTROS E SOLISTAS: UMA BRIGA DE FOICE
Claudio Abbado, ex-poderoso da Filarmônica de Berlim,
rompe parceria com Hélène Grimaud

Os desentendimentos começaram quando Abbado não gostou de saber que Hélène tocaria a cadenza (parte do concerto em que a orquestra para e o solista exibe sua criatividade e virtuosismo) original de Mozart, em um concerto do compositor (o de No 23), e sim aquela escrita por Busoni, que o grande Horowitz havia gravado. Houve discussões, e enfim Abbado pediu para ouvi-la depois no piano do camarim. Helène foi, e cumpriu com a vontade do maestro, tocando só para ele, no piano do camarim, a cadência original.

Mal sabia ela que Abbado mandara gravar a cadência que preferia, para montagem no CD da prestigiosa Deutsche Gramophon. Deu zebra. O CD foi para o espaço, o contrato foi rompido e assim as duas estrelas descruzaram seus caminhos. Disse Hélène: “cadenza é território do solista e eu não negocio”. Aconteceu em maio deste ano.

Birgit Nilsson , famosa soprano sueca, também estrelíssima, não gostou quando o poderoso Herbert Von Karajan mandou-a seguir o tempo dele. Birgit não aceitou, dizendo que ela simplesmente era a solista, e o andamento musical era dela. Para encerrar a pendenga, Karajan perguntou: “quem paga quem? Eu pago você, ou você me paga?”. Virou-se para a orquestra, disse “outra vez” e nem se importou com a cantora.

Eleazar de Carvalho, nossa estrela maior da regência (15 anos de falecimento este ano, 100 anos de nascimento em 2012), simplesmente conduzia a orquestra no seu tempo, obrigando o solista a acatá-lo.

Já Leonard Bernstein (que, aliás, foi co-assistente de Koussevitzky juntamente com Eleazar, na Sinfônica de Boston (ver reprodução da capa de programa de concerto em Tanglewood, com o nome de ambos), fez um divertido discurso dizendo o porquê de acatar o andamento de Glenn Gould, um dos maiores pianistas da história. Bernstein saiu-se bem e cedeu ao capricho do solista. Mas deixou uma pérola: “vocês vão ouvir uma interpretação não-ortodoxa do Concerto de Brahms, uma peformance totalmente diferente, com a qual eu jamais sonhei e nunca ouvi (...) Não posso dizer que concordo com a concepção de Gould, e isso me leva a uma questão: o que estou fazendo aqui? Apenas uma vez na vida me submeti a um solista que tinha um conceito incompatível com as minhas convicções, e este solista foi o próprio Glenn Glould. Então, eu me pergunto: por que estou aqui regendo? Porque me fascina ter a oportunidade de presenciar uma nova visão de uma obra muito executada”.

A gravação deste divertido depoimento está disponível (em inglês) neste vídeo:

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