Chico Buarque quis exaltar a velha malandragem e decepcionou-se: “Eu fui fazer um samba em homenagem / à nata da malandragem / (...) Eu fui à Lapa e perdi a viagem / que aquela tal malandragem / não existe mais”. Mas Chico, o samba de breque “O Último Malandro”, de Moreira da Silva, foi apenas uma licença poética: o ‘malaco’ vive, e bem, apenas troca amiúde de endereço. [Veja e ouça abaixo].
Talvez esse costume do ‘toma-lá-dá-cá’ tenha aportado no Brasil com as caravelas, os indígenas recebendo espelhos em troca de passagem para os portugueses; tempos depois, viria a ‘recompensa’ dos senhores de engenho ao escravo ou mucama servil e obediente – dois réis, um escapulário, um retalho de linho. Essa cultura chegou à legalização informal com a famosa “Lei de Gerson”, ‘sancionada’ em 1976 por uma propaganda de cigarros em que estrelava o meia-armador da Seleção Brasileira, campeão mundial de 1970. Até hoje, a “Lei de Gerson”, em seu parágrafo único, dispõe o mote da antiga propaganda, em que o jogador mostrava um pacote de cigarros e afirmava: “o brasileiro gosta de levar vantagem em tudo!”. [veja e ouça abaixo a propaganda]
Arte sob efeito da mescalina: Max Reed. |
Assim, quem é ‘espírito de porco’ joga para o espaço a ética e os direitos dos demais. Essa é a filosofia de introdução aos maus caminhos, “as portas de corrupção” (brinquei com o título de um livro de Huxley, “As Portas de Percepção”, e não por acaso: o escritor inglês relata que ingeriu mescalina, droga alucinógena, e viu portas se abrindo para o infinito, onde tudo é possível, e as coisas materiais existem apenas por si).
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