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domingo, 26 de agosto de 2012

IV – A “Tristeza do Jeca” e o novo sertanejo, criado in vitro.


Enquanto isso, os que se renderam ao apelo do “vil metal”, esquecendo-se de suas origens, foram seduzidos pela breguice dos programas de auditório da TV. Tendo o sertanejo migrado para as zonas industriais e cada vez mais para os grandes centros urbanos, passou a bastar apenas uma nova geração para que as raízes ainda presentes no sangue dos primeiros migrantes se esvaneçam nas veias de seus filhos, que não conhecem a “Tristeza do Jeca” (1918). De autoria de Angelino de Oliveira, inspirada no livro “Urupês”, de Monteiro Lobato, “Tristeza” foi cantada por dez entre dez duplas sertanejas. A pedido da Folha de São Paulo, um júri de 16 especialistas elegeu “Tristeza do Jeca” a melhor música caipira de todos os tempos – exatos 90 anos depois de composta. [Veja e ouça gravação de “Tristeza do Jeca”, na voz caipira de Tonico e Tinoco no link abaixo]
No velho sertanejo, sempre houve lugar para uma pitada de amor nas letras, e esse nobre sentimento, que toca fácil o coração de todos, passou a conquistar mais e mais espaço. Tudo bem, mas e daí, onde fica a tristeza do jeca? Pois foi trocada pela dor de cotovelo, o amor platônico, o abandono, a traição. A cultura popular tem uma casca maleável, risco para a sobrevivência de sua própria tradição: o abandono, a traição e a dor de cotovelo são os novos ingredientes que, apimentando o caldeirão já temperado com o tema do amor, não mais deixam sentir o gosto da raiz: mais e mais novas duplas são concebidas ao canto da sereia da fama e fortuna. Essa é a fórmula mágica para a criação “in vitro” do “novo” sertanejo: o que é sem nunca ter sido, garotão de topete espetado e o cobiçado “kit fama”: corrente de ouro, carro importado e loira na cama. 

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