CAIXA ECONÔMICA TIRA PROPAGANDA DO AR
Anúncio gera polêmica com Machado de Assis “branco”
Depois de repercussões negativas e pressões, a “Caixa” retira anúncio em que o maior escritor brasileiro aparece caracterizado como branco. Ora, já vi – literalmente - esse filme antes. Lembra-se da polêmica sobre o Mário de Andrade ‘branquelo’? Coisa de mau gosto, que despertou a ira do Emanuel Araújo, Diretor do Museu Afro-brasileiro e gerou polêmicas na imprensa. Mas não é preciso TV ou ‘photoshop’ para ‘embranquecer’ grandes nomes que deveriam ser honrados nas suas origens. Padre José Maurício Nunes Garcia (1767-1830), filho de escrava - na ilustração com uma medalha no peito - foi devidamente ‘maquiado’ pelos pintores oficiais do Império.
O pior, no caso do ‘falso branco’ Machado, é que não apenas tentaram mostrar que ser branco é ser ‘bonito’, honesto e bom cliente; junto, veio um desastrado golpe na possibilidade de um ator negro ou mestiço ocupar espaço e obter trabalho na TV, dominada pelos brancos robustos e branquelas lindas.
O chamado ‘politicamente correto’ (que muitas vezes é muito mais reacionário do que o ‘normal’ do dia a dia) viola às vezes alguns direitos. Ser afro-descendente não evita que o sujeito seja catalogado como ‘pardo’, o que é muito pior. “Black is beautiful” foi um movimento negro surgido nos EUA, na esteira do “Black Power”, e que, no Brasil, teve inúmeras repercussões, como a música de Marcos Valle eternizada por Elis Regina, que leva o mesmo título (“Black is beautiful”). Wilson Simonal, apesar de combatido pela ‘esquerda’ da época, cantava “Tributo a Luther King”, homenagem ao líder norte-americano brutalmente assassinado em um comício: “Sim sou um negro de cor / meu irmão da minha cor / o que te peço é luta sim / luta mais! / que a luta está no fim”. E Caetano Veloso faz o elogio do sangue que batizou sua própria mistura racial: “É negra, negra, negra, a tua presença”.
Agora, uma pergunta: custava, além de respeito aos nossos irmãos brasileiros, ter sido fiel à história? O anúncio foi de péssimo gosto,
Apenas um cuidado: enquanto aqui os chamados afro-descendentes defendem, em sua maior parte, o termo ‘negro’, nos EUA chamar alguém de ‘nigger’ é encrenca certa. Nem ouse. É ‘black’ mesmo, e eles o dizem com muito orgulho.
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