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domingo, 9 de dezembro de 2012

A MÚSICA NA BÍBLIA SAGRADA - I



Jeremias, por Aleijadinho
Há nos textos religiosos diversas menções à maneira de se cantar e executar os Salmos. Muitos desses remetem a harpas, flautas e instrumentos de cordas (falaremos sobre os nomes desses instrumentos mais adiante). A Bíblia é pródiga em referências à música e seus instrumentos, parte que era da cultura religiosa judaica desde os tempos do Antigo Testamento. Logo no Gênesis (4:21), há a primeira referência: “e o nome de seu irmão era Jubal, que foi pai  [N.A.: leia-se: professor] dos que tocam cítara e órgão1”. Em Jeremias (7:34), está escrito: “e farei que não se ouça nas cidades de Judá e nas praças de Jerusalém voz de gozo e voz da alegria, voz de esposa e voz de esposo, porque a terra será posta em devastação”.
Samuel: Hann Elkanah
Samuel (II, 1:17) faz referência à música funeral: “Fez pois David este cântico fúnebre sobre Saul, e sobre Jônatas, seu filho, e ordenou que ensinassem aos filhos de Judá o arco2, conforme está escrito no livro dos justos”. 
Shofar
Instrumentos como trombetas sempre tiveram um significado bélico, de comunicação entre soldados. A saudação de um trompete servia para anunciar um novo rei, como em Samuel2 (II, 15:10): “Então Absalom mandou mensagens secretas às tribos de Israel, dizendo: quando ouvirem o som dos trompetes, podem dizer que Absalom é o rei de Hebron!” Em Levíticos (23:24), a música triunfal: “Fala aos filhos de Israel: no sétimo mês, o primeiro dia do mês será para vós sábado, eles devem ter o descanso do Sabbath, memorável pelo soar das trombetas3 tocando, e se chamará santificado” (o dia).
Isaías por Aleijadinho
Trompetes e trompas também são associados à presença de Deus, assim como ao poder. Isaías (27:13): “Também acontecerá que naquele dia soará uma grande trombeta4,  e os que tinham ficado perdidos virão da terra dos assírios, e os que se achavam desterrados na terra do Egito, e adorarão ao Senhor no monte santo, em Jerusalém”. No Novo Testamento, Mateus (9:23): “e depois que Jesus chegou à casa daquele príncipe, e viu os tocadores de flautas e uma multidão de gente que fazia reboliço...”. Ainda em Mateus (24:31): “E Ele vai mandar Seus anjos com um som forte de trompetes, de um lado do céu ao outro”.
Kinnor
Na verdade, quando há referência a instrumentos, desde o Gênesis (4:21), não se trata de instrumentos como conhecemos hoje (harpa, trompas e trompetes e flautas, conforme algumas traduções bíblicas). David arpejava seu kinnor, e estabeleceu as regras da música judaica em Jerusalém quase mil anos antes de Cristo. Os cantores principais eram chamados chazanim. O que hoje se traduz por harpa era o nevel, pequena lira de seis a dez cordas, ou o kaithros.
Abraão, Isaac e o carneiro
A hazozra hoje é mencionada como trombeta, por guardar certa semelhança com o instrumento mais recente, cujo nome é popular. O shofar, tocado nas cerimônias do Hosh há-Shaná (Ano Novo judaico), é feito com chifre de carneiro – simbolizando o animal que foi sacrificado no lugar de Isaac, filho de Abraão -, mas costuma ser traduzido como trompa, pela semelhança no modo de se produzir o som. Já entre os árabes, no Alcorão Sagrado há normas para os cânticos, chamadas Haddith lahwa, mas a própria Haddith determina que, fora esse limites restritos, a música era proibida nas mesquitas, pois estava associada a “beber vinho e fornicar” (sic).
Notas: [1] Outras versões diferem da de Almeida, mas entre as traduções é comum a referência ao órgão, o que é nada provável. O órgão de fole foi introduzido por Bizâncio, já no século 10. Já a cítara mencionada no texto se refere ao nevel. [2] Nas fontes do hebraico, não existe menção a instrumentos de arco, apenas aos de cordas dedilhadas. Nem mesmo entre sumérios, egípcios e gregos. Provavelmente os textos se referem a arcos de guerra, mesmo, como se pode depreender da frase “e ordenou que ensinassem aos filhos de Judá o arco, conforme está escrito no livro dos justos”. Na tradução de Almeida esta referência ao “arco” não aparece.  [3] Provavelmente a hazozra, semelhante a uma trombeta. [4] Aqui as traduções se referem com certeza ao ùgav, algo como um pífaro, mas em forma ainda mais primitiva de flauta. [5] Kinnorot e Nevalim, grandes trombetas.

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