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Jeremias, por Aleijadinho |
Há nos textos
religiosos diversas menções à maneira de se cantar e executar os Salmos. Muitos
desses remetem a harpas, flautas e instrumentos de cordas (falaremos sobre os
nomes desses instrumentos mais adiante). A Bíblia é pródiga em referências à
música e seus instrumentos, parte que era da cultura religiosa judaica desde os
tempos do Antigo Testamento. Logo no Gênesis (4:21), há a primeira referência:
“e o nome de seu irmão era Jubal, que foi pai
[N.A.: leia-se: professor] dos
que tocam cítara e órgão1”. Em Jeremias (7:34), está escrito: “e
farei que não se ouça nas cidades de Judá e nas praças de Jerusalém voz de gozo
e voz da alegria, voz de esposa e voz de esposo, porque a terra será posta em
devastação”.
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Samuel: Hann Elkanah |
Samuel (II, 1:17) faz
referência à música funeral: “Fez pois David este cântico fúnebre sobre Saul, e
sobre Jônatas, seu filho, e ordenou que ensinassem aos filhos de Judá o arco2,
conforme está escrito no livro dos justos”.
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Shofar |
Instrumentos como trombetas sempre
tiveram um significado bélico, de comunicação entre soldados. A saudação de um
trompete servia para anunciar um novo rei, como em Samuel2 (II,
15:10): “Então Absalom mandou mensagens secretas às tribos de Israel, dizendo:
quando ouvirem o som dos trompetes, podem dizer que Absalom é o rei de Hebron!”
Em Levíticos (23:24), a música triunfal: “Fala aos filhos de Israel: no sétimo
mês, o primeiro dia do mês será para vós sábado, eles devem ter o descanso do
Sabbath, memorável pelo soar das trombetas3 tocando, e se chamará
santificado” (o dia).
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Isaías por Aleijadinho |
Trompetes e trompas também são
associados à presença de Deus, assim como ao poder. Isaías (27:13): “Também
acontecerá que naquele dia soará uma grande trombeta4, e os que tinham ficado perdidos virão da
terra dos assírios, e os que se achavam desterrados na terra do Egito, e
adorarão ao Senhor no monte santo, em Jerusalém”. No Novo Testamento, Mateus
(9:23): “e depois que Jesus chegou à casa daquele príncipe, e viu os tocadores
de flautas e uma multidão de gente que fazia reboliço...”. Ainda em Mateus
(24:31): “E Ele vai mandar Seus anjos com um som forte de trompetes, de um lado
do céu ao outro”.
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Kinnor |
Na verdade, quando há referência a
instrumentos, desde o Gênesis (4:21), não se trata de instrumentos como conhecemos
hoje (harpa, trompas e trompetes e flautas, conforme algumas traduções
bíblicas). David arpejava seu kinnor,
e estabeleceu as regras da música judaica em Jerusalém quase mil anos antes de
Cristo. Os cantores principais eram chamados chazanim. O que hoje se traduz por harpa era o nevel, pequena lira de seis a dez cordas, ou o kaithros.
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Abraão, Isaac e o carneiro |
A hazozra hoje é mencionada como trombeta, por guardar certa
semelhança com o instrumento mais recente, cujo nome é popular. O shofar, tocado nas cerimônias do Hosh há-Shaná (Ano Novo judaico), é
feito com chifre de carneiro – simbolizando o animal que foi sacrificado no
lugar de Isaac, filho de Abraão -, mas costuma ser traduzido como trompa, pela
semelhança no modo de se produzir o som. Já entre os árabes, no Alcorão Sagrado
há normas para os cânticos, chamadas Haddith
lahwa, mas a própria Haddith
determina que, fora esse limites restritos, a música era proibida nas
mesquitas, pois estava associada a “beber vinho e fornicar” (sic).
Notas: [1] Outras versões diferem da de Almeida, mas entre as traduções
é comum a referência ao órgão, o que é nada provável. O órgão de fole foi
introduzido por Bizâncio, já no século 10. Já a cítara mencionada no texto se
refere ao nevel. [2] Nas fontes do
hebraico, não existe menção a instrumentos de arco, apenas aos de cordas
dedilhadas. Nem mesmo entre sumérios, egípcios e gregos. Provavelmente os
textos se referem a arcos de guerra, mesmo, como se pode depreender da frase “e
ordenou que ensinassem aos filhos de Judá o arco, conforme está escrito no
livro dos justos”. Na tradução de
Almeida esta referência ao “arco” não aparece.
[3] Provavelmente a hazozra,
semelhante a uma trombeta. [4] Aqui as traduções se referem com certeza ao ùgav, algo como um pífaro, mas em forma ainda
mais primitiva de flauta. [5] Kinnorot
e Nevalim, grandes trombetas.
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