Como ocorre em diversas profissões,
o músico não poderia ficar de fora da brincadeira, da ironia e, às vezes,
claro, da simples maldade de um ou outro profissional. Coisa de instrumentistas
e destes sobre os cantores, e todos juntos sobre os maestros. Algumas anedotas
nasceram verdadeiras, mas passaram à história como parte do folclore musical.
Spalla cumprimenta regente |
Na orquestra, no primeiro posto,
logo abaixo do maestro, está o spalla
(“ombro”, em italiano), ou o violino solista. Aí vem aquela série de piadas
sobre lâmpadas, como aquela que diz que necessários 30 violinistas para se
trocar uma lâmpada: um de pé sobre a cadeira e 29 para discutir o melhor jeito
de fazê-lo (os movimentos de arcos e os chamados golpes, maneiras de
executá-los, etc.).
Viola e violino |
Depois dos violinos, temos as
violas, primos pobres cujo som fica espremido (apesar de, a bem da verdade,
encorpando todos) entre violinos, contrabaixos e violoncelos. Por seu tamanho
maior, ante a pergunta sobre qual é a diferença entre a viola e o violino, a anedota
diz que “são de igual tamanho, a cabeça do violista é que é menor”. Já os
contrabaixos são alvo nato de boa parte das ironias, entre os instrumentos de
cordas, como por exemplo “qual a diferença entre o contrabaixo e o caixão? É
que no contrabaixo o defunto fica de fora” (aliás, cá entre nós, é o meu
instrumento). E “ao se jogar um contrabaixo e uma viola de cima de um prédio,
qual se arrebenta primeiro? E que diferença faz?”, seria a resposta.
Prokofiev |
Uma verdadeira: um contrabaixista
estrangeiro de São Paulo preparava-se para o famoso solo do Tenente Kije, de Prokofiev. Como não
ouvia o instrumento, o maestro, italiano, volta-se para o músico e pergunta: contrabasso, che succede? Tu sei protagonista!” Irritado, o músico
deixa seu contrabaixo no chão e caminha para o pódio, dedo em riste, devolvendo
ao maestro: “protogônio é sua mãe!”.
Entre os sopros, as trompas são as
principais vítimas. Pululam piadas do
gênero “como você faz uma viola soar como uma trompa? Faça-a errar todas as
notas”. “Por que a trompa é um instrumento divino? Porque quando o músico a
sopra, só Deus sabe o que vai sair”. A maldade também se estende à percussão:
“como você chama os que acompanham os músicos nas baladas?” Resposta:
“percussionistas”.
Sir Thomas Beecham |
Cantores também são alvos,
especialmente os solistas, e mais ainda sopranos e tenores. As primeiras, por
serem divas, os segundos, estrelas um pouco sufocadas por elas em boa parte dos
papeis. Outra verdadeira: o grande maestro Sir Thomas Beecham, inveterado piadista,
recebe após um ensaio uma reclamação do tenor a respeito da longuíssima morte
de Violetta, papel da soprano da ópera La
Traviata, de Giuseppe Verdi. Abaixo, assista à morte de Violetta, com Renée
Fleming (soprano). Los Angeles Opera, 2006. Regência: James Conlon.
O tenor estava inconformado porque
a cantora se estendia demais na ária final, agonizando vítima da tuberculose
que acometera sua personagem. E reclamou que assim a soprano “roubava” a cena.
Sir Beecham respondeu, com paciência: “senhor, infelizmente nenhum cantor morre
tão rápido quanto eu gostaria”. E mais uma sobre os tenores: em uma loja de
cérebros (existem tantas nas anedotas!), o freguês pergunta: “por favor, pode
me explicar essas placas? Cérebro do Einstein, mil dólares, cérebro de tenor,
cem mil? Como pode?” O vendedor: “é que o do tenor nunca foi usado”.
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