É sabido que muitas das grandes
descobertas científicas, obras de arte e ideias de grande envergadura da mente
humana foram concebidas, em sua maior parte, sob intenso sofrimento e angústia,
o de se estar chegando a uma grande conclusão, uma grande criação, momento em
que o criador, artista, filósofo ou cientista leva sua neurose à ebulição, ao
final de um trabalho exaustivo e desgastante. Se foi assim com Einstein e a Teoria
da Relatividade, também o foi com a 1ª Sinfonia de Brahms, a 9ª Sinfonia de
Beethoven e, especialmente, com o Réquiem de Mozart.
Bíblia do Rei James |
Assim também foi com a
monumental obra Messias, de Georg Friedrich Händel (1685-1759), composta sobre um
texto de Jennens sobre a Bíblia do Rei James, acrescido dos salmos do livro de
pequenas orações (não constantes da tradução oficial). Com texto em inglês, a
obra estreou em 1742, um ano depois de composta e também um ano antes de Händel
deixar a Inglaterra, após 40 longe de sua Alemanha natal. A première se deu em Dublin, capital da
Irlanda, e acomodou 700 pessoas na plateia, um público recorde. A imprensa do
Reino Unido assim saudou a obra: “... de longe, ultrapassa qualquer coisa que
tenha sido apresentada neste e em qualquer outro Reino”. Ao final da partitura,
Händel faz a dedicatória-símbolo da obra: SDG,
Soli Deo Gloria (“A Deus toda a
Gloria”, em tradução livre).
Requiem: autórgadfo |
O texto passa da Profecia de Isaías
sobre a Salvação (Parte 1, Cena 1), à Paixão de Cristo (Parte II, cena 1),
Morte e Ressurreição de Cristo (Cena 2), Ascensão e, na Cena 44 da Parte II, o
popularíssimo coral Alleluia, de que falaremos adiante. Gloriosa, com trompetes
e tímpanos casados (juntos), como era costume na época, este coral passou a ser
mundialmente utilizado nas celebrações de Natal, dado o espírito de glória e
alegria que evoca. Para o Reino Onipotente do Senhor Deus é cantada pelo coro
em uma só voz, potente hino ao Salvador.
A
parte final, Rei dos Reis, para todo o sempre, é entrecortada por intermissões
de fortes conclamações à alegria, Aleluia!!! O último texto do coral bem
exclama: Aleluia! Para o Reino Onipotente do Senhor Deus! O reino deste mundo
será o reino do Senhor e Seu Cristo, e Ele deverá reinar para todo o sempre!
Rei dos reis, Senhor dos senhores, Aleluia! Quem quiser ver e ouvir o trecho
mais conhecido do Messias, o Aleluia!, com duração de apenas 4 minutos: pode
clicar abaixo. A apresentação está a cargo da excelente Academy of Ancient
Music, sob a regência de Stephen Cleobury:
Interessante lembrar que um grande
astro do Rock, George Harrison, dos Beatles, que sempre se envolveu no mundo
espiritual, como em sua descoberta do sitarista indiano Ravi Shankar (recém-falecido),
também se inspirou na alegria do Coral Aleluia, de Händel, em uma de suas obras
primas: My Sweet Lord (Meu Doce
Senhor): “Meu doce Senhor / hummm, meu Senhor / (...) Eu quero muito te ver /
quero muito estar convosco / eu quero realmente estar convosco / realmente
quero vê-lo, Senhor / mas demora tanto, Senhor / (...) Oh, meu doce Senhor /
(coro) Aleluia! / humm meu Senhor / (coro) Aleluia! / humm, meu Senhor / (coro)
Aleluia! / meu doce Senhor / Aleluia!”. Harrison morreu em 2011, e em sua
homenagem uma constelação de músicos se reuniu em show espetacular, contando
com o filho de George, jovem guitarrista, o incrível Billy Preston, fabuloso no
comando, na voz e nos teclados, Paul McCartney, Ringo Starr, Tom Petty e coro,
uma apresentação simplesmente emocionante. Recomendo a audição:
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