Johann Sebastian Bach, nascido em Eisenach
em 1685 e falecido em Leipzig em 1750, foi um dos chamados três “bês”
germânicos da música universal, ao lado de Beethoven, essencialmente clássico,
e Brahms, já verdadeiro romântico. (Como o mapa da Europa mudava volta e meia,
o que hoje é Alemanha na época de Bach fazia parte do Sacro Império
Romano-Germânico). Bach trabalhou exaustivamente, indo muito além de sua missão
de Kantor da Igreja luterana de Santo
Tomás, de Leipzig. Seu trabalho era não apenas compor, cantar, tocar órgão,
cravo, violino, dirigir orquestra e coro e ensinar. Para complementar sua renda
também fazia por fora seu “extra”, para ajudar a sustentar sua prole: teve 20
filhos. O próprio Bach veio de uma extensa genealogia de ascendentes musicais,
havendo dezenas deles registrados. Assim como na família, o mestre de Leipzig
foi prolixo em sua obra, deixando uma coleção imensa de grandes composições.
Igreja de São Tomás |
Talvez por isso mesmo, assumindo
esse perfil de operário da música, Bach tenha escrito, entre outras obras, três
Oratórios, quatro Paixões (das quais restam duas: Segundo João e Segundo
Mateus, esta última com 78 seções e horas de duração), 4 suítes orquestrais,
centenas de cantatas, 53 concertos, sonatas, partitas, 48 prelúdios e fugas,
inúmeras suítes, e por aí vai. Enquanto mestre de capela em Leipzig, Bach
compôs uma peça para cada domingo ou feriado do ano.
Lutero |
Para tomar posse do cargo, Bach passou
por uma sabatina absurda, que incluía, além de música, claro, exigências como
domínio de línguas e diversos outros assuntos – o que não foi difícil, pois o
compositor havia estudado desde os oito anos de idade na Escola Latina de
Eisenach, mesmo lugar onde Lutero, dois séculos antes, obteve sua formação.
Dominava o alemão, o grego, o latim, o hebraico, além de geografia, história,
lógica, prosódia, retórica e filosofia, disciplinas da rígida escola de sua
cidade natal.
Partitura original da Paixão Segundo Mateus |
Dentre as composições citadas,
sugiro uma audição da Paixão Segundo Mateus (Bach escreveu o título em latim: Passio Domini Nostri J. C. Secundum
Evangelistam Matthaeum), a agonia e morte de Cristo. A obra foi estreada na
sexta-feira da paixão de 1727 na Igreja de São Tomás, em Leipzig. Para quem não
conhece, vale a pena ouvir ao menos um pouco. Para quem já é iniciado, esta
primeira parte leva 1h16 e foi gravada pelo Concentus Musicum de Viena e o Coro
do King’s College de Cambridge, sob a regência de Nikolaus Harnoncourt, um expert no gênero (veja e ouça abaixo).