Vinicius de Moraes, o bardo de Ipanema |
“Filhos,
melhor não tê-los. Mas, se não os temos, como sabê-los?”, cantou o bardo
Vinicius de Moraes, “professor de ciências naturais”, como dizia meu pai
rimando, em tom de chacota. Pois não é que a genialidade aparentemente singela
do poeta criou um significado muito mais amplo do que qualquer outro enunciado,
qualquer redação politicamente correta da frase? Não fosse da lavra de um
artista, o verso poderia ter sido escrito: “se não os temos, como sabermos?”.
Mas a poesia é maior do que todas as vãs filosofias e gramáticas, ela abre
caminho para múltiplos entendimentos. Filhos, nós os sabemos, e só os sabemos
quando os conhecemos. Mas, perdoem-me se estou me perdendo entre os diversos
sentidos das palavras, nossos filhos só os conhecemos se os temos, e mesmo assim quando os recebemos com o
coração rasgado pela felicidade, pois se assim não fosse, filhos, em nosso
pequeno mas acolhedor coração, como cabê-los?
Ao
conhecer nossos filhos, compreendemos que eles serão parte de nossas vidas como
fomos para os nossos pais, que nos souberam, e os pais de nossos pais e os
futuros filhos de nossos filhos, quando todos souberem. E passamos a
conhecê-los quando, bebês engraçadinhos, em um átimo de tempo fazem o passe de mágica
da adolescência: tornam-se perspicazes, espertos, curiosos, questionadores,
descobridores do mundo e da vida – coisas que eles fazem, aliás, exatamente
como nós fizemos. Quando nos soubemos. Em determinado momento, e não se pode
definir quando, abre-se a porta para o ser adulto: analítico, crítico, já
ciente dos vícios e maldades do mundo, mas preparado para enfrentá-los na vida.
E
salve! Eles se mostram desde já atraídos pelas utopias que povoaram as mentes
do mundo desde o princípio, depois do Verbo, utopias sem as quais não faria
sentido vivermos. Temos de participar das transformações, já que todas as
filosofias caminham na direção de uma simples porém inatingível justificativa
para a vida, e vários pensadores o fizeram na busca vã de tentar explicar o
mistério sem a luz da existência divina. A vida do homem serve para
transformá-la, a si própria, e à humanidade rumo ao Paraíso. Por isso tudo,
queremos, sim, saber nossos filhos lutadores, independentes, guerreiros e
finalmente vencedores nos caminhos que escolherem.
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