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sábado, 17 de novembro de 2012

A MARÍLIA DE JOSÉ DIRCEU – I

Marília, por Alberto da Veiga Guignard

Marília: “Ali Dirceu esperava / para me levar consigo / e ali sofreu a prisão. / Mandarás aos surdos deuses / novos suspiros em vão”. Dirceu: “Por morto, Marília, aqui me reputo / mil vezes escuto / o som do arrastado e duro grilhão”. Os célebres versos de Tomás Antonio Gonzaga (1744/1810), grande poeta do arcadismo luso-brasileiro nascido em Portugal, figura ímpar da Inconfidência Mineira, foram endereçados a Maria Dorotéia Joaquina de Seixas, sua “Marília de Dirceu”, no ano em que o poeta foi exilado e partiu para Moçambique, onde viria a morrer.


Marília é cantada como a pastora Amarilis desde Virgílio, poeta romano (70/19 a.C.),  e recontada pelo italiano Guarini (1538/1602), cuja “Marília” o havia ensinado a “amar amargamente”! O nome Marília já fora, bem antes de Gonzaga, o da musa inspiradora de um século inteiro.
Veja e ouça a diva Cecilia Bartoli, cantando a Amarilli de Giulio Caccini (1551-1618)

Dirceu: foto Abril/Veja
José Dirceu de Oliveira e Silva, nascido em Passa-Quatro, MG, é homem estudado: cursou direito na PUC/SP, embora não tenha concluído. Mas a paixão do jovem, na verdade, inclinava-se fortemente para a política. Seduzido pela resistência à ditadura desde 1965, leu Marx, Engels, Lênin e Trotski, e deixou-se encantar por Carlos Marighella, afinado com a guerrilha de Fidel e Che.
O incendiário Daniel Cohn-Bendit, "Le rouge"
Tendo como ídolo o alemão Daniel Cohn-Bendit (conhecido na França de 1968 como “Dany, o vermelho”), que ateou fogo nos estudantes de todo o mundo com seu charme revolucionário, Dirceu, então presidente da UNE, foi preso no Congresso de Ibiúna - um encontro de organização tão incompetente que se esqueceu de que o comércio local não daria conta da explosão absurda da demanda por pães, margarina e provavelmente muita mortadela e cerveja para mais de 1.200 jovens, o que chamou a atenção da polícia.
A prisão dos estudantes no congresso da UNE em 1969
Preso ali, em 1968, ele foi moeda de troca do resgate do embaixador americano Charles Burke Elbrick, ação espetacular de um grupo armado que culminou com a libertação de 13 presos políticos. (Dirceu, portanto, nunca foi “expatriado”, como diz, e sim libertado para Cuba por seus companheiros de luta).
Clara Becker,. a "Marília" de José Dirceu. Foto de  Marco Rodrigues
Em 1971, reingressou ilegamente no país, mudando de feições após uma cirurgia plástica feita em Havana. Com novos documentos, foi para Cruzeiro do Oeste, no Paraná, onde se casou com Clara Becker – com o mérito absurdo de, com frieza e inteligência, com ela ter convivido maritalmente sem revelar seus segredos, tarefa praticamente impossível para qualquer homem comum. Pois Clara foi, por anos, a Marília de José Dirceu. Clandestino, o dândi da estudantada nunca deve ter empunhado uma arma. 

3 comentários:

  1. Correção: Ele estudou direito na PUC-SP, porém não chegou a concluir o curso, e justamente por isso não terá direito a prisão com cela especial.

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  2. Agradeço e retificarei. Quanto à prisão especial, ele não teria direito de qualquer forma, porque este é um instituto da prisão tenporária ou preventiva. Condenado em última instância (caso do Dirceu) o cidadão "especial " passa à cela comum.

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