O discreto charme da boemia talvez resida também naquela coisa machista de o marido sair para a ‘noite’, enquanto a mulher fica em casa esperando, submissa e resignada (coisa em franca decadência: a mulher agora vai junto). Por isso, incorporando a mulher de boêmio, Caetano cantou em sua linda “Esse Cara” os versos: “(...) ele está na minha vida porque quer/ eu estou pro que der e vier/ ele chega ao anoitecer/quando vem a madrugada ele some/ ele é quem quer/ ele é o homem/ eu sou apenas uma mulher”.
Paulo Vanzolini, em sua popular “Ronda”, evoca o mesmo estilo passivo de mulher de malandro: “De noite eu rondo a cidade/ a te procurar sem te encontrar/ no meio de olhares espio/ em todos os bares/ você não está/ volto pra casa abatida/ cansada da vida...”
A famosa “A volta do boêmio”, de Adelino Moreira, é antológica. E foi de onde tomei emprestado o primeiro dos versos para o título dessa série de postagens: “Boemia, aqui me tens de regresso...” A música é associada ao vozeirão de Nelson Gonçalves (ver vídeo abaixo, com o clássico Arthur Moreira Lima ao piano!), e repisa no mesmo mote, cantando o conformismo da mulher do malaco, resignada: “Meu amor, você pode partir/ não esqueça o seu violão/ (...) vá sonhar em novas serenatas/ e abraçar seus amigos leais/ (...) pois me resta o consolo e a alegria/ de saber que depois da boemia/ é de mim que você gosta mais”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário