Contardo Calligaris, articulista da Folha, escreveu um inteligente artigo intitulado “Pra que servem as fantasias?” (Ilustrada, 23/02/2012, pág. E10). Começa pelo cheiro de mofo das fantasias malcheirosas de sua adolescência no carnaval de Milão, passa pelas máscaras narigudas do carnaval da Veneza antiga (foto), até abordar a ideia generalizada de que, com uma fantasia, e “com o impulso da cerveja”, libertaríamos nossos desejos libidinosos reprimidos.
Calligaris traz à luz um dado científico: enquanto o Ministério da Saúde continua advertindo contra tudo e todos nas campanhas milionárias de sempre, a Revista da Associação Médica Brasileira já havia publicado uma pesquisa (vol 56, N° 4, 2010), mostrando que no Carnaval, ao menos no que se refere ao quesito sexo, não acontece nada de muito diferente do que sempre, pois “não há aumento de doenças sexualmente transmissíveis nem gravidezes indesejadas”.
Calligaris conclui que “a ideia de que o Carnaval seja um momento orgiástico é apenas um sonho de sermos um pouco diferentes do que somos – ou seja, é apenas mais uma fantasia de Carnaval”. Em miúdos: fazemos estardalhaço condenando, naqueles três dias, aquilo que boa parte do povo faz permissiva e diuturnamente o resto do ano.
Nenhum comentário:
Postar um comentário