A MORTE DE LAMARTINE, BOM DE COPO, O ‘KIT-FAMA’ E O PERÍODO DE ‘SECA’ NAS ARTES.
Cheio de amor em suas marchas, Lamartine só veio a se casar aos 47 anos, sofrendo um infarto fulminante apenas 12 anos depois. A morte, que tanto citara, lhe foi caridosa, caiu ‘como um passarinho’. Em “Cicatrizes”, Lamartine havia retomado o tema, talvez por causa de alguma desventura do passado: “Cicatrizes são feridas atrozes/ matando olhares e vozes/ e o desejo de viver”.
Os tempos de Lamartine foram chamados “A época de ouro”: atuavam no Rio Ari Barroso, Noel, João de Barro, Assis Valente, Vadico, Orestes Barbosa, Sílvio Caldas, Almirante, Carlos Galhardo, Moreira da Silva, Carmem Miranda... a lista é enorme! (Na foto, Lamartine e Cartola, de pé, Sinhôzinho, J. Efegê, Lan, Marcel Camus -isso mesmo, acredite! Para as filmagens de "Orfeu" - e assistente, e Da. Zica, esposa do Cartola).
Não, eu não vivi aqueles tempos, mas toquei muita coisa dessa época quando era novo, início de carreira, nas boates de Copacabana (Na foto, onde era o antigo “Beco das Garrafas”, berço da Bossa-nova). E aprendi a gostar. Para mim, houve dois divisores de águas da música popular: a “Época de ouro” e a bossa-nova – depois, o tropicalismo, que derrubou de vez as fronteiras entre diversos gêneros, como o rock, a Jovem-guarda, mesclando tudo isso com o antropofagismo cultural apregoado pela Semana de Arte Moderna de 1922.
Ai de quem me chamar de velho ao comparar esses bons tempos com os dias de hoje. Se tínhamos o Manga que pegava no gol para a molecada na saída do treino, hoje jogador famoso recebe logo o chamado “kit-fama”: corrente de ouro, carro importado e loura na cama – e talvez um iatezinho. Garrincha, o gênio, morreu miserável. Os da seleção de hoje ganharam status de estrelas pop americanas, e nossos mais medíocres expoentes musicais cantam mal, se vestem mal, compõem mal... mas têm uma “cachoeira” (palavra de amplo significado, nos dias de hoje) para gastar com os luxos mais estúpidos. Claro que não são todos, mas é a maioria deles.
Se a idade nos desperta a saudade dos bons tempos, não é porque estamos velhos: é porque já não há ‘bons tempos’ como no passado – que, pegando emprestado do Drummond, “é apenas um retrato na parede, mas como dói!” Seja no futebol, no samba, onde for, estamos em franca decadência há uns 30 anos. Mas isso não é exclusividade brasileira: as ideologias que os homens demoraram tanto para construir até o início do séc. 20 foram queimadas e suas cinzas espalhadas ao vento, e com elas o que tinha de melhor nas artes. É um ciclo da história. Mas que o Brasil precisava de mais “Lamartines”, na bola e samba no pé, ai, precisava sim! Para finalizar, por que não ouvir a ‘politicamente incorreta’ “O teu cabelo não nega”, gravada ao vivo pela Banda Imagem, em pleno carnaval de 2009 em... Brasília?
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