A música na universidade
Voltemos à erudição, e aos novos jeitinhos. O Conservatório de Música do Rio de Janeiro (1848) passou a Instituto Nacional de Música (1890), e depois, em 1931, foi incorporado à Universidade do Rio de Janeiro. Em 1937, passou a se chamar Escola Nacional de Música da Universidade do Brasil, e, em 1965, por decreto, Escola de Música da UFRJ (Foto). Com os músicos e professores brasileiros sem diploma superior (já que não havia tal curso até então), como é que eles seriam admitidos na universidade sem o devido diploma? Ora, recorreu-se à figura do ‘notório saber’, para justificar essa intrusão dos poetas da arte dos sons nas cátedras eruditas – todas encasteladas e isoladas do mundo, imersas no mais profundo saber da pesquisa acadêmica.
Com essa terminologia mágica, foi estendido aos músicos o mesmo padrão dos sábios arautos catedráticos do direito, da economia e da medicina, todos de toga e capelo (capa e capuz dos titulares das grandes e antigas universidades).
Ora, o professor da música de Mozart (ilustração ao lado) e Beethoven não era um sambista que tocava ‘de ouvido’, pensaram, justificando o ingresso deles no seleto clube acadêmico. Daí, criou-se para eles o título de ‘músico erudito’!
Verdade seja dita: o Rio de Janeiro, onde o termo ‘música erudita’ surgiu, foi um dos primeiros estados que, há uns bons anos, o aposentou. E adotaram duas denominações para o gênero: ‘música clássica’ – como nas demais línguas, no mundo inteiro -, ou ‘música da concerto’, sendo a primeira quase consenso. Assim, a música do Rio afinou-se com a música do resto do mundo na denominação ‘clássica’. Se é assim no mundo inteiro, por que haveria de ser diferente no Brasil?
Um gozador norte-americano, chamado Peter Schickele, publicou um livro em que mostra sua descoberta de partituras originais de um certo PDQ Bach, certo filho - que nunca existiu - renegado de Johann Sebastian Bach. É um esculacho total à ‘erudição’ musical. Veja pela capa do livro, ao lado.
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