Bem
antes disso, após o golpe de 1964, escritores, intelectuais, músicos e
políticos passaram anos de sobressaltos. Um certo dia, meu pai recebe um aviso
da portaria do prédio para que descesse. Parecia alguma coisa oficial. Antes de
sair, alertou minha mãe de que poderia ter chegado a vez dele de ser enquadrado
pela repressão.
Chegando na portaria, certamente suando frio, encontrou um
sujeito com um “polícia” escrito em caixa alta na testa. A conversa foi mais ou
menos assim: vim aqui para prendê-lo, mas o senhor se lembra de mim? Ante a
negativa, o agente foi falando que o havia conhecido ainda no Palácio do
Catete, onde meu pai trabalhava como secretário de imprensa de JK. E que um dia
havia pedido um emprego para a filha dele, que estava desesperada. Meu pai,
então, lembrou o agente, conseguiu uma vaga para ela no antigo Iapetec, encampado pelo INSS em 1960. Vim
dizê-lo, prosseguiu o sujeito, que em retribuição àquele gesto não vou
prendê-lo.
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