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sábado, 13 de outubro de 2012

V – 1955. Chegando ao Rio. A mansão Lage e as molecagens de infância. A soprano italiana, o mensalão e o homem Autran Dourado.

Mansão Lage, hoje Parque Lage

Por fim, mas ainda antes de tudo isso, aos dois anos de idade, chego ao Rio de Janeiro com a família. Moramos por uns bons anos em um prédio de três andares sem elevador – o nosso era no terceiro pavimento -, um apartamento modesto, em frente ao hoje Parque Laje, que no passado foi residência do milionário Henrique Lage, casado com uma cantora lírica italiana,  Gabriella Besanzoni, sua “Callas”. 
Rua Jardim Botânico, 295 ap 301. Predinho branco do meio.

Gabriella Besanzoni como a Carmen, de Bizet
(Ali, antes de virar parque, era apenas uma enorme mansão abandonada em um alqueire de terra, onde eu e meus amigos moleques íamos aprontar, depois de pular o muro e entrar em masmorras, na monumental banheira da sede e nas cavernas, com direito a estalactites, morcegos e riachos internos que o empresário havia construído, pequeno mimo para sua diva). Voltando ao assunto, ali, naquele prédio alugado, morava o homem que falava em nome da Presidência da República do país, dono de uma Kombi e uns poucos ternos. Não ficou rico, nem um pouco.
Joaquim, Celso e Gilmar. Foto: blog do Nordeste
Digo isso para que sirva à reflexão sobre os dias de hoje, em especial para o que tem sido exposto roto, rasgado e esfarrapado em praça pública pelo STF. Lembrando uma frase lapidar do ministro Ayres Britto, “é como uma toalha suja que quanto mais se torce, mais encarde”. Com loas ao voto do tatuiano Celso de Mello, de todos o mais contundente, cortante, um verdadeiro libelo contra a corrupção bandida e endêmica que é doença terminal do país, um desabafo costurado com palavras ácidas e afiadas pelo ministro.
Pronto. Não escrevi uma linha sequer sobre literatura, já que a imprensa do país tem esmiuçado a obra de meu pai de forma tão ampla e ostensiva nos últimos dias - diferentemente dos anos de perfil recolhido que lhe era característico. Mas isso faz parte dos inúmeros vícios da cultura brasileira; o que me importou aqui foi o homem e bastidores muito pouco conhecidos. A obra, aos que se interessam, devem procurar lê-la. 

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