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sábado, 5 de abril de 2014

THE CURTIS INSTITUTE OF MUSIC - PHILADELPHIA

The Curtis Institute
No ano em que comemoramos o 60º aniversário do Conservatório de Tatuí, iniciei nesta coluna uma série de visitas a grandes instituições de ensino da música pelo mundo. Iniciando pelos EUA, cujas Juilliard School de NY e New England Conservatory, de Boston, já pudemos conhecer, em suas organizações, excelências e paradigmas dos grandes centros mundiais que norteiam os rumos da música ocidental. Cada uma dessas escolas tem suas peculiaridades, suas excelências e seu encanto, e assim não poderia deixar de ser também o pequeno, mas afamado modelo que é o Curtis Institute of Music, da Philadelphia, EUA.

Mary Louise Curtis Bok
Curtis é uma escola relativamente recente, para os padrões dos grandes conservatórios, mas já madura o bastante aos 90 anos (foi criada em 1924). Mary Louise Curtis Bok homenageou seu pai, Cyrus Curtis, após articulações com grandes nomes da música, como Joseph Hofman e Leopold Stokowski (lendário regente da Sinfônica da Philadelphia, uma das maiores orquestras norte-americanas). Mary Curtis adquiriu, ela própria, três casarões, reformou-os e lá teve início o Instituto, seguindo a tradição americana de financiar projetos artísticos e, principalmente, musicais. Ela deixou a módica quantia de 12 milhões de dólares para o Instituto. Perto de 162 milhões de dólares em valores de hoje, algo como 400 milhões de reais.  

Novo prédio em construção: mantendo o original perfeito
O Curtis Institute é focado basicamente no ensino de instrumentos de orquestra sinfônica, mas também oferece vagas para pianistas, compositores, cantores e outros, necessários aos conjuntos de câmara e orquestra. É a única escola de música norte-americana que oferece todos os cursos gratuitamente, o que,  ao par da altíssima qualificação do corpo docente, faz do concurso para ingresso de alunos um certame altamente competitivo e de altas exigências. Por isso mesmo, apesar da procura, o que mantém a excelência é a permanência nos cursos de no máximo 170 alunos, no total. De acordo com levantamento realizado pelo US World and News Report, o Curtis Institute tem o índice de aprovação mais baixo nos EUA, o que o torna de longe o mais competitivo: apenas 4% (média) dos inscritos são aprovados, sendo que para certos instrumentos a proporção chega a ser menor do que 1%, para as poucas vagas anuais.

Roberto Díaz, atual presidente
O Curtis Institute teve entre seus diretores nomes com Joseph Hoffman, Randall Thompson, Efrem Zimbalist, Sr., e Rudolf Serking. Atualmente, a escola é presidida pelo violista chileno Roberto Díaz, que também estudou (e foi meu colega de orquestra) na New England Conservatory, de Boston. Antes de assumir a Presidência, Díaz foi por dez anos viola solista da Orquestra da Philadelphia.


Marcel Tabuteau, o grande mestre
O Curtis Institute tem personalidade única, pois foi lá que praticamente surgiu e se consolidou a escola de sopros norte-americana, pelas mãos preciosistas de expoentes como o fagotista Sol Schoenbach (1915-1999), o flautista Julius Baker (1915-2003, considerado o melhor solista de orquestra de todos os tempos) e o oboísta Marcel Tabuteau (1887-1966), que foi professor do nosso saudoso Walter Bianchi, talentoso oboísta que ingressou no Teatro Municipal de São Paulo aos tenros 12 anos de idade. Bianchi trouxe para a nossa Escola Municipal de Música, enquanto lá lecionou até seus últimos dias, o método de interpretação de Tabuteau: detalhista, exageradamente perfeccionista, mas passagem de importância inegável para os que com ele puderam estudar. Tabuteau tinha discos sobre interpretação gravados, e com seus colegas, como disse, deu origem à grande escola da sopros norte-americana. Nosso Alex Klein foi aluno de Richard Woodhams, também da 'dinastia' Tabuteau, antes de conquistar o posto de primeiro oboé da Sinfônica de Chicago.

Ed Barker, herdeiro da tradição
Mas não foram apenas os sopros as conquistas do Curtis Institute: Torelló, precursor da escola norte-americana do arco francês do contrabaixo, estudou na Espanha com Pau Casals, e formou Henry Portnoi, que foi solista da sinfônica de Boston e orientador de meu professor, Edwin Barker, na New England. Curtis se expandiu e avançou com seus prodigiosos alunos.

Darrin Milling, da OSESP (foto: Erica Viggiani)
Outro brasileiro de adoção, além de Walter Bianchi, brasileiro de nascimento, também passou pelo Curtis Institute, o trombone baixo solista da Osesp, Darrin Milling. Entre os estrangeiros, um elenco estelar: Hillary Hahn, violinista, o virtuose do piano Lang Lang, além de Leonard Bernstein, Samuel Barber, George Szell, Lukas Foss, Nino Rota, Jaime Laredo  e outros.

Entrada do Instituto (2009)
Em 2009, a convite, fui ao Curtis Institute, revisitar o prédio antigo em ótimo estado de conservação, e sua estrutura e funcionamento. No Curtis Institute, busca-se excelência na execução - e não uma “fábrica de virtuoses”, como por exemplo a escola de Novosibirsk, na Sibéria, que desde 1970 é dedicada a pequenos gênios. Além de adolescentes superdotados e altamente treinados, a produção de solistas na escola siberiana é enorme. Que o digam Maxim Vengerov e Vadim Repin, entre outros. Há uns 15 anos, recebi na Escola Municipal de Música de São Paulo uma pequena orquestra de jovens virtuoses de Novosibirsk, liderada pelo violinista Fihtengoltz, que estudou com ninguém menos do que o mito Oistrak. Um assombro.  

Auditório, órgão ao fundo
Mas voltemos ao Curtis Institute. O auditório não é muito grande, mas tem um belíssimo órgão, e é de acústica excelente. As salas de aula são aconchegantes, algumas bem decoradas ao estilo da época da fundação, com belos pianos de cauda, tapetes antigos e até lareiras.
Sala com dois pianos: ao estilo


A vizinhança é das mais agradáveis, com rotisseries, bistrôs e simpáticas casas de bons vinhos, ruas limpíssimas e calmas. O entorno do Instituto é absolutamente condizente com o alto nível de estudos ali realizados: até nas ruas, os alunos parecem felizes e amigos, e, mesmo distraídos a observar a rua, permanentemente concentrados e contemplativos, se é que se pode descrever assim. É um exemplo de obstinação de gerações de dirigentes que deve ser seguido e, se possível, multiplicado pelo mundo.


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