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sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

FIGURAS MUSICAIS QUE TODOS DEVERIAM TER CONHECIDO - OSVALDO LACERDA

Osvaldo Lacerda
Poderia ser um sacerdote, um físico da USP, um filólogo, um desembargador. Um juiz, um psicanalista, talvez. Mas o bacharel em direito (último pedido de seu pai, segundo nosso assessor e seu ex-aluno Antonio Ribeiro) ao invés de ser pianista seguiu o conselho de seu mentor, Camargo Guarnieri, para se dedicar à difícil arte da composição. Uma trilha árdua, sem grandes esperanças de fazer dinheiro no Brasil, especialmente para gente como ele, que nunca cedeu aos apelos do dinheiro fácil, às aspirações popularescas e exposição na mídia.

Osvaldo não foi seduzido pelo canto da sereia do Koellreuter, movimento para o qual debandou quase toda a juventude compositora dos anos 1950. É autor de uma obra coesa, trabalhada, artesanal. Se Guarnieri foi vanguarda de si mesmo, quando quis, sem abraçar modismos e inovando aqui e ali, seu aluno foi obcecado. Não seria demais conceder-lhe o título de ‘o nacionalista número um’ da composição brasileira.

Eudóxia de Barros
Ao se casar com Eudóxia de Barros, uma excelente pianista e sua ex-aluna, encontrou em sua cara metade o par perfeito. Até hoje, seu Centro de Música Brasileira é ‘tocado’ por Eudóxia, que é uma batalhadora incansável pela obra de Osvaldo e de todos os brasileiros.

Aaron Copland
Se parecia sisudo demais, era pura impressão, pois tinha um humor levemente irônico nos cantos dos lábios. Os óculos de lentes grossas deixavam seu olhar ainda mais longe, o que simbolicamente para seus alunos criava o distanciamento necessário à autoridade em classe. Irritava-se com estrangeirismos, apesar de ter sido agraciado com uma bolsa da Fundação Guggenheim para estudar com ninguém menos do que Aaron Copland e Giannini, nos EUA. Deles, aprendeu a técnica do ofício (a ‘carpintaria’, falava meu pai), mas nunca o idioma musical, que lhe era brasileiríssimo.

O mestre Guarnieri, em seu estúdio
E dizia que, apesar desse currículo, quem foi seu verdadeiro mestre foi o quase-autodidata Camargo Guarnieri, com quem estudou por dez anos. Osvaldo entrou para a história como um compositor que traçou seu caminho e perseguiu-o com seu estilo próprio de compositor nacional por excelência. Foi uma formiguinha, no melhor sentido do trabalhador perseverante e metódico.

O famoso fusca 70, que já levou grandes nomes da música
Conheci Osvaldo em 1985, ao ser contratado como professor da Escola Municipal de Música de São Paulo, e mesmo após eu me tornar diretor, em 1989, nosso relacionamento foi direto e franco. Ele era crítico quando queria, mas com a educação de um gentleman ‘de altos coturnos’. Aposentou-se em 1992, decisão pensada. Sua aposentadoria, perdidos os ‘penduricalhos’ de Prefeitura, que pareciam engordar o salário, sumiram na inatividade: o valor era ridículo. Uma escolha pessoal, apesar de uma perda monumental para nós; mas foi bom para se dedicar ao seu ofício, sua missão, por mais quase vinte anos. Sua simplicidade era absoluta na escrita musical, na economicidade e na tapeçaria sem exageros de sua obra, o que simbolicamente transparecia em suas roupas simples e seu bem cuidado fusca, primeiro e único carro da vida.

Big band da EMM, com Jorge Salim na regência
Houve vários episódios divertidos, alguns vindos ironicamente por sua honestidade de princípios: no aniversário dos 25 anos da Escola, no Centro Cultural São Paulo, sentou-se ao meu lado com o programa musical da comemoração e, folheando-o, viu algumas peças que seriam executadas pela big-band. Osvaldo nunca foi marxista, mas dividia com Adorno suas opiniões quanto às formações norte-americanas: o filósofo e musicólogo alemão chamava o som das jazz-bands de “eunucóide”. Ao ler alguns títulos de standards americanos no programa, Osvaldo perguntou-me: “mas vão tocar isso?” Pois ao final da primeira parte, ele sumiu. Nunca reclamou, apenas ignorou o que incomodava e saiu.

Gostava de escrever-me cartõezinhos – computador não era coisa para o Osvaldo, que compunha com lápis e papel –, que eu me orgulho de guardar. Praticamente um ano antes de nos deixar, escreveu-me um desses recados, em que dizia: “Seu pai é um frequentador um tanto assíduo das palavras cruzadas... P.S.: Em todo desjejum, decifro duas palavras cruzadas. Sistematicamente. É o que me ajuda a manter a memória”. Sua lógica era sábia.

Nos entreveros dos anos 1950, em que a corrente arrebanhada por Koellreuter se digladiava com os defensores da música brasileira – chamada nacionalista -, Osvaldo não poupou seu humor cáustico ao dar sua opinião musical: compôs algumas peças em que brincava com os ‘modernizadores’: o “Metrônomo Dodecafônico” e o “Sambinha Dodecafônico”, fora algumas incursões na ‘música de programa’ (a que descreve pessoas, coisas, fatos ou objetos), como a “Máquina de escrever” (para piano), com os toques percussivos das teclas e sininhos da alavanca de tabulação, e o “Ping-Pong”, para piano, que simula lindamente o jogo de mesa.

Osvaldo deixou para o mundo uma vasta obra e se faz sempre presente em recitais.  De Eudóxia de Barros, pianista de ponta, ex-aluna, viúva e baluarte na luta pela música brasileira, recebi o exemplar de um livrinho que o mestre não havia terminado, e que ela digitalizou em tempo recorde. Recebi um exemplar dessas “Curiosidades Musicais” com uma carinhosa dedicatória com que Eudóxia me fez ouvir como fossem palavras de Osvaldo, e elas me tocaram fundo, bem vivas: “Ao caro Henrique, esta última recordação de nosso Osvaldo, que lhe devotava uma grande admiração e estima. Abraço amigo, Eudóxia. São Paulo, 31 de março de 2012”.


(A admiração é muito mais minha, embora a estima seja mútua, caro Osvaldo. Fique na sua paz, porque com sua música nos conforta)

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

AFINAL, O QUE VEM A SER CRIME NO BRASIL?

Rádio Galena 'modernizado'
Quando criança, fuçava em tudo. Lembro-me de que ganhei de meus pais um carrinho de bombeiros movido a pilha, daqueles que batem na parede e voltam. Mas preferi usar o motor do carrinho para construir um barquinho. Logo arrumei umas revistas básicas de eletrônica, e fiz com um amigo a primeira lição: um rádio galena, que ninguém hoje sabe o que é. Fácil: um cristal que, por meio de um fio atado a uma agulha em contato com uma lâmina de barbear presa a uma tábua, captava sinais de rádio. 


Já o irmão mais velho de meu amigo estudava eletrônica em um cursinho mequetrefe, e logo aprendeu a guardar peças velhas e quebradas. “Mas pra quê?”, perguntaram os dois curiosos aprendizes. “Porque depois de um conserto, você mostra quantas peças trocou mesmo que troque nada, daí você ganha em cima”. Claro que foi um choque para mim descobrir isso, um truque simples que ainda é prática comum em diversos ramos de ‘consertos’.

Também descobri que o garoto de entregas da quitanda surrupiava alguma fruta ou legume no caminho. E que o porteiro do prédio cobrava um ‘pedágio’ do empregado que as famílias pagavam para lavar seus carros. Nascia um empresário: o porteiro subiu na vida, comprou um táxi, depois montou uma frota, teve uma banca de jogo do bicho, e sua filha estudou na mais cara universidade particular do Rio. Na nossa esquina houve uma leiteria daquelas que recebiam aqueles latões enormes para encher garrafas de vidro para entregas em domicílio. Seu dono havia enriquecido à custa de uns 20% da água com que ‘malhava’ o produto. (O mesmo que ‘malhar’ a gasolina com álcool e o metanol com água: era o lucro com ‘adicional de pilantriculosidade’). E aprendi que os táxis do Rio, em sua maioria, davam passeios, rodando a bandeira. Uma cantora cega conhecida percebeu que o taxista estava fora do caminho (cegos têm um poderoso ‘GPS’ interno) e pediu que a largasse na rua. Foi assaltada e estuprada.

Puma, o luxo da época
Fui aprendendo com a vida, meus pais e o bom senso. Ao dar de cara com a ditadura, aos 15 anos, em 1968 – já era do grêmio do colégio, bem politizado -, aprendi quantas mordomias indecentes tinham alguns de nossos colegas filhos de oficiais, brigadeiros até, empresários ligados ao regime e investigadores do terrível SNI. Os da caserna eram modestos funcionários públicos, mas a mosca azul do poder havia contaminado parte deles com todas as facilidades lhes eram oferecidas: ora para fechar os olhos, ora para sumir com alguém incômodo, em troca de um simples mimo ‘sem esperar nada de volta’. Havia até colega menor de idade com um Puma O Km – e que ainda dava ‘carteirada’ porque o pai era 'agente da informação'.

Jovens músicos carentes. Foto: Agência do Bem, Vargem GRande
Vinte anos depois, já diretor da Escola de Música do Teatro Municipal de São Paulo, recebi o dono de uma escola particular de música. Buscava apoio para supostamente conseguir bolsas de estudo para jovens carentes. Eu, crédulo, entreguei-lhe uma linda carta de recomendação. Mas desconfiei quando abri o ‘book’ da escola e vi nomes de pessoas que, procuradas, disseram que deram apenas uma ou duas palestras – havia na lista até uma professora falecida anos atrás. Dias depois recebi um chamado do Manga, assessor da Secretária de Cultura. Lá, ele me mostrou um pedido de comodato (cessão gratuita por uns 90 anos) de um imóvel da Prefeitura para a escola de música do sujeito, e no processo estava minha recomendação, que retirei com ódio.

Entrada da Creche Tenente Paulo Alves: R. José de Camargo, 259
Chegando na Escola, deparei-me com uma grande caixa que ele havia mandado entregar. Abri, e era um pequeno lindo piano de cauda cromático, presente para meu filho Lucas, na época com uns 4 anos. Levei o piano para casa, atravessei a rua, onde existe uma creche municipal chamada Tenente Paulo Alves, na Vila Mariana. Entreguei-o com um ofício para doação, e as professoras festejaram. Ato contínuo, passei um telegrama ao ilustre doador interesseiro: “Recebi seu gentil presente, mas como não posso aceitá-lo, doei-o à creche de nome tal e tal. Porém, sinto muito, não poderei servi-lo”. Quem lida com dinheiro público tem limites legais para mimos. Na Inglaterra, os congressistas podem receber até 140 libras (pouco mais de R$ 500,00) em presentes. A diferença entre a avaliação oficial e o limite legal deve ser depositada na conta do Tesouro, ou o ‘agrado’ será devolvido.

No Brasil tudo começou desde os primeiros tempos, quando nossos 'descobridores' trocavam com os índios espelhinhos por pedras preciosas, as vantagens dos fiscais das derramas dos tempos de Inconfidência, o saque generalizado ao nosso pau-brasil, ouro e borracha, portos abertos para sermos gatunados pela ‘matriz’. As 13 colônias americanas foram criadas por imigrantes que se estabeleceram para construir uma nação. Mas nossos ‘colonizadores’ (ou saqueadores?) estupravam as nossas índias, e nossos senhores de engenho e nobres fornicavam (ou ‘fulecavam') com as escravas negras, tudo variações sobre o assalto pela violência.

Gerson: o campeão que, usado, involuntariamente
tornou-se símbolo da pilantragem.
Quando a ‘Lei de Gérson’ justifica sonegação de impostos - ‘por que vou pagar para ser roubado?’ -, quando o dinheiro corre ‘por trás das cortinas’ no Brasil inteiro, quando cidadãos se gabam de trabalhar sem carteira assinada para receber a ‘bolsa família’, quando o dinheiro do país escorre no esgoto podre do ‘caixa dois’ e os mimos para os grandões são caríssimos e vêm junto com grandes vantagens e retribuições, o triste é ver o povo pensar, conformista: “estoy acostumbrado a todas esas cosas...”. Afinal, se a doença é endêmica e a origem cultural, nada mais escandalizará o brasileiro: moral e lei perdem o sentido. A impunidade corre solta ou à meia-sola, com penas simbólicas, muito bem, obrigado. Moral e Lei parecem valer apenas para os programas policiais da TV, com eventuais comentários ao arrepio da lei. Pois então, afinal, o que vem a ser crime no Brasil?

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

SALVO POR UMA ASPIRINA

O ácido acetilsalicílico, conhecido popularmente por marcas como aspirina, AAS, bayaspirina, bufferin (aspirina buferada) e outros, também está presente em inúmeras fórmulas vendidas como ‘antigripais’ e é, talvez, uma das mais antigas entre as maiores descobertas da medicina.


Papiro de Ebers
Tudo começou com o uso da casca do salgueiro usada contra diversas doenças no Egito antigo, de que há registros no chamado ‘Papiro de Ebers’ (de 1.534 a.C.) No papiro, havia referências a substâncias medicinais extraídas da casca do salgueiro que eram usadas contra dores e anti-inflamatório na antiguidade.

Friedrich Bayer (1863)
No princípio do século 19, cientistas iniciaram estudos para a criação de uma medicação sintética baseada nos mesmos princípios do salgueiro (ácido salicílico), o que veio a acontecer em 1850. Os cientistas Friederich Bayer e Johann Wescott modificaram a descoberta, sintetizando o ácido acetilsalicílico e batizando-o ‘aspirina’, em 1889, minorando alguns efeitos colaterais da medicação original.

Infográfico (Site oficial Dr. Dáuzio Varella)
Em matéria publicada na Folha há algum tempo, o conhecido infectologista Dráuzio Varella discorre sobre a descoberta da aspirina, com informações baseadas em seus sempre muito bem embasados estudos. Segundo ele, o mundo hoje produz 40 mil toneladas por ano do produto, que já foi objeto de nada menos do que 26 mil ensaios e teses científicas. Usada como antitérmico, analgésico e anti-inflamatório, a aspirina só teve o maior de seus segredos revelados em 1970, quando descobriram que sua maior propriedade seria impedir a agregação de plaquetas. Por conseguinte, a medicação passou a ser vista como recurso contra a formação de coágulos, assim evitando acidentes vasculares cerebrais (o AVC, ou ‘derrame’) e cardiovasculares (infarto). (Site oficial Dráuzio Varella: http://drauziovarella.com.br/) 

Ácido acetil-salicílico: fórmula estrutural
Ainda segundo Varella, uma quantidade de aspirina de até 325 mg (pouco mais de 3 comprimidos) antes de 24 horas após um infarto reduz em 50% o risco de morte ou de um segundo ataque! Quem está com sintomas sugestivos de infarto, ele sugere, deve tomar 2 a 3 comprimidos, enquanto aguarda o auxílio médico - ‘mal não fará’, disse.

Anderson Lima atingido:(UOL esporte)
Há coisa de 8 anos, fraturei a fíbula (quando estudei, chamava-se perônio), perto do pé - um ossinho poderoso, do qual depende a articulação do tornozelo, e até o equilíbrio do corpo. Essa ‘fraturazinha’ jogou ao chão o lutador Anderson Silva em uma luta, após um golpe do adversário, e mesmo podendo pagar os melhores médicos, hospitais e cirurgiões dos EUA, ainda está inseguro para lutar.

Pois eu fui pessimamente atendido em um hospital particular paulistano, cujos médicos não apenas exageraram no tempo de imobilização. Segundo um ótimo e conhecido ortopedista de Tatuí, não seria caso de cirurgia, como os colegas de São Paulo insinuaram (a clínica cirúrgica particular deles ficava a uma quadra do hospital onde atendem: uma ‘linha de montagem’ de fazer dinheiro. Fui imobilizado por tempo demais).

Consolidação da fíbula direita 
O ortopedista de Tatuí também me informou que, sem querer saber por quem ou onde fui tratado, nesse tipo de fratura, assim que começa a surgir no raios-x a consolidação, deve-se deixar a imobilização para que os movimentos sejam retomados, juntamente com acompanhamento fisioterapêutico. Nada disso foi feito, por falta de orientação, e fiquei com sequelas, sendo a pior, agora sob controle, um edema linfático e venoso, de que só passei a me cuidar depois de consultar outro ótimo especialista da cidade, que sugeriu um exame mais complexo.

Doppler venoso colorido: abril de 2014
Em abril de 2014 fiz um ultrassom com doppler colorido da parte afetada (ver ao lado). “Só para vermos se algum ‘vasinho’ foi afetado”, disse-me ele, sem querer antecipar nada. Foi aí então que descobri que eu tivera um trombo na veia femoral, e ele havia ficado retido em uma válvula do vaso até... dissolver-se!!!

Muito antes disso, meu antigo cardiologista de São Paulo, prof. titular da Unifesp, após exames de rotina, sugeriu-me uma aspirina infantil (100 mg) todas as manhãs. Isso foi há mais de 15 anos, e mantenho o costume até hoje, tomando o cuidado de suspender a aspirina alguns dias antes de uma cirurgia ou mesmo tratamento dentário – qualquer sangramento sob o uso da medicação dificulta a coagulação.

Embolia femoral e suas consequências possíveis
Pois no meu caso o trombo poderia ter seguido o caminho da veia femoral e subir, causando uma embolia (de ‘êmbolo’) pulmonar (ver ilustração ao lado), infarto ou outras complicações. O trombo ‘preso’ fora dissolvido graças à aspirina! Passei a interessar-me pelo assunto, li muitas matérias e artigos, textos científicos como o ‘Patient’ (UK), ‘Publimed’, ‘WebMd’ e o ‘Journal of Thrombosis’ (todos dos EUA), entre outros.

O famoso 'durão' Dr. House, ele próprio na cena um paciente , com seu mascote
Agora, ninguém deve se medicar continuadamente com aspirina – fora ocasionais simples dores de cabeça e febre baixa – sem orientação médica. Deve haver cuidado especial em pessoas portadoras de diabetes, insuficiência renal e hemofilia, entre outros, fora alguns efeitos e doenças colaterais, como irritações estomacais, a ‘síndrome de Reye’, reações alérgicas e outros.


Não vá cego pela minha opinião, de simples paciente salvo por aspirina, sem uma consulta ao seu médico especialista. Em tratamento prolongado por 5 anos ou mais, a aspirina pode salvar e prolongar vidas. Porém, apesar de simples e popular, ela não deixa de ser uma droga, e portanto somente deve ser usada preventivamente com a devida recomendação de médico especialista. E continuo com minha rotina diária de aspirina, minha fisioterapia por drenagem para reduzir o edema linfático e venoso, meias de compressão e controle médico. Mas o ponto final disso tudo é que fui salvo pelo uso diário do pequeno e em princípio inofensivo eventual comprimido infantil. 

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

NIRVANA: PARAÍSO OU INFERNO?

 Do sânscrito ‘nirvã a’, nirvana é um conceito presente em várias religiões e filosofias, e em diversas línguas, como o pali, o bengali, o chinês, o japonês e outros. O significado da palavra é amplo, mas gira sempre em torno de salvação, liberação. Presente no budismo e nas religiões indianas, é o estado de libertação do ciclo humano: nascimento, vida e morte (reencarnação). Seria um estado imperturbável da mente, isolada de desejos e ódios: um estágio de contemplação descrito até na Bíblia Sagrada, conforme veremos adiante.

O estado contemplativo é velho conhecido dos antigos monges da Igreja Católica, como bem descrevem os exercícios espirituais de um anônimo monge beneditino inglês do século 14, em escritos dirigidos a iniciados: ‘The Cloud of Unknowing’, ou ‘A nuvem do desconhecimento’ (publicado em português como ‘A nuvem do não saber’). O autor cita textualmente o conhecido trecho do Evangelho segundo Lucas, 10, 38-40, em que Cristo se refere ao estado contemplativo de Maria, em contraste com a representação da vida terrena, na pessoa de Marta (“Maria escolheu a parte certa" disse Ele). A mãe de Cristo estava, segundo o evangelista, em estado contemplativo, desligada espiritualmente dos laços terrenos, sob a ausência de pensamentos.

Muito antes disso, o 24° capítulo do Êxodo descreve Moisés recebendo um chamado divino, para que galgasse o caminho ao topo de uma montanha, onde foi encoberto por uma densa nuvem -  a do desconhecimento -, e ali ficou por ela envolto por seis dias, em estado de absoluta contemplação. Em 398 d.C., em suas confissões, Santo Agostinho também menciona a ‘nuvem’.

Mahatma Gandhi
O brahman-nirvana é o encontro da liberação do ego humano com o deus supremo da existência, Brahman, em diversas passagens do Baghavad Gita que citam os ensinamentos de Krishna. O grande líder Mahatma Ghandi (1869-1948), exemplo de uma das maiores espiritualidades que conhecemos, foi o fundador do estado moderno da Índia e defensor do Satyagraha, a revolução pela não-violência. Ele aponta diferenças de conceitos do nirvana entre religiões hinduístas:  para os budistas, seria o vazio (‘shunyata’), enquanto no Baghavad Gita ele representa a paz divina, sendo por isso chamado brahman-nirvana.

Estátua de Shiva
No Brahman-Kumaris, o nirvana seria o estado mais alto de três universos, onde fica a alma suprema, chamada Shiva. O termo nirvana vem de uma junção de três fonemas sânscritos (‘ni’, distante, sem; ‘va’, um sopro como o do vento, o exalar de um perfume; e ‘na’ carrega um sentido de negativa: nunca, não, nada).

Kurt Cobain: Nirvana
Em 1987, formou-se em Aberdeen, estado de Washington, EUA, uma banda de rock, chamada Nirvana, liderada pelo cantor e guitarrista Kurt Cobain e o baixista Krist Novoselic. Tornou-se um dos mais importantes grupos de sua geração, arrebanhando fãs e admiradores em todo o mundo, um ícone como Guevara. O primeiro disco, ‘Smells like teen spirit’ (‘Cheira a espírito adolescente’), fez algum sucesso. Mas logo depois, ‘Nevermind’ (‘não importa’), de 1991, popularizou de vez a banda como ‘porta-voz de uma geração’, até a tragédia: em 1994, aos 27 anos de idade, Cobain matou-se com um tiro na cabeça e uma grande quantidade de drogas no sangue. (Veja abaixo a animação sobre depoimento de Kurt Cobain, colaboração do amigo Felipe Cherubin)

Ainda existem especulações quanto a esse fim, que comoveu milhões de seguidores de Cobain pelo mundo inteiro. A mãe dele, também compondo o retrato da tragédia, carregava as cinzas do filho quando escorregou com a pequena urna, no aeroporto de Heatrow, em Londres, esparramando parte do conteúdo para dentro do respiradouro da calefação. Cobain havia interpretado à sua maneira alucinada a filosofia do nirvana: ‘libertação da dor, do sofrimento e do mundo exterior’.

Em depoimentos, Cobain falou de seu relacionamento com a mulher, Cortney Love, também musicista, regado a um consumo sem limites de drogas de todos os tipos, do LSD aos opiáceos, indo além dos limites ao beber solvente (álcool destilado de madeira, capaz de matar com a ingestão de simples 30 mL), que atacava seu estômago de tal forma que chegou a se dopar com heroína por três dias seguidos, sem dormir, para suportar a dor. Sucediam-se crises de depressão, ideias mórbidas e de suicídio.

Courtney Love
Não faltaram tentativas para ele e Courtney Love procurarem ajuda, após saberem que seriam pais de uma criança. Em vão. As apresentações em que se acidentava (ou se automutilava?) eram aterrorizantes, mas, sem sentir dor, gritava, para o delírio da plateia ensandecida pelo espetáculo selvagem: “eu sou um circo humano!”

Capa do LP Aneurysm
Apesar das crises de depressão, excesso de drogas e um histórico familiar de problemas mentais, depressão e suicídios, Kurt Cobain tornou-se ídolo de uma juventude que desconhecia o real significado da palavra nirvana e o inferno pessoal de seu astro. Títulos das músicas, como ‘Aneurysm’ (doença vascular cerebral), ‘Lithium’ (remédio para depressão bipolar) e seus poemas eram odes de caráter mórbido e deprimente: “estupre-me, estupre-me, amigo, estupre-me novamente”. “Minha inspiração interna favorita / eu vou beijar suas feridas abertas / agradeço sua preocupação / você vai feder e queimar” (em ‘Rape me’). Do punk ao punk-rock e de lá ao grunge de Seattle, Cobain deixou uma discografia historicamente importante para o rock. Porém, como ser humano e ‘pensador’ (sic), foi um lixo desqualificado e prestou um enorme desserviço a pelo menos duas gerações hipnotizadas.


Foto da perícia do local da morte de Kurt Cobain obtida com teleobjetiva

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

FIGURAS MUSICAIS QUE CONHECI II – JOE MANERI

Joe Maneri, sem a peruca
Joseph Maneri (1927-2009) era uma figuraça e tanto. Baixinho, peruca meio cor de acaju, meio louco. Minto, inteiramente louco, mas tinha seu fã-clube, pela figura quase mítica que representava. Falava besteiras com seriedade, como chamar o compositor austríaco Schubert (1797-1828) de “Galochabird” (‘pássaro galocha’). Toda semana, prometia contar sobre o ‘chapéu de Wagner’, grande compositor de óperas alemão, promessa nunca cumprida que lembrava a peça de teatro de Samuel Becket, ‘Esperando Godot’ – Godot era ‘o’ personagem que nunca aparecia, deixando os demais à sua espera (em Becket, Godot seria o apelido de ‘Gotter’: Deus, em alemão). Voltando ao Joe Maneri, nada de chapéu de Wagner, ele sempre adiando o assunto. E não era isca de pescador para a prender a atenção dos alunos, sua figura carismática já bastava!

Leinsdorf à frente da Sinfônica de Boston: temperamento impossível. 
Sentia-se à vontade em todas as linguagens, de Bach a Stravinsky, ele mesmo um dos herdeiros de Alban Berg, da chamada ‘Segunda Escola de Viena’, com Schönberg e Webern, dos mais importantes compositores do século 20.  Maneri recebeu encomenda do grande Erich Leinsdorf para compor para a Boston Symphony Orchestra, uma das maiores do mundo, e a peça chegou a ser ensaiada, mas nunca executada, devido aos costumeiros severos atritos com a orquestra. Maneri temperava seu gosto bastante eclético com sua origem jazzística, gênero em que foi exímio clarinetista. Lembro-me de um improviso que a plateia aplaudiu de pé, emocionada, aos gritos e urros, um delírio. Cansado de se curvar para agradecer, Maneri prostrou-se de joelhos diante do público, como que se ofertasse em humildade sua arte aos que ouviram sua música com tamanha emoção.

Piano de 1/4 de tons, dois teclados
Foi com Joe Maneri que tive um contato mais sério com a técnica dodecafônica (um sistema que emprega doze sons – teclas brancas e pretas do piano – em séries de combinações matemáticas). Compus uma ou duas peças, apenas como necessidade acadêmica: afinal, acho difícil alguém produzir alguma coisa razoável com aquilo. E se os ‘doze sons’ foram uma curta experiência necessária ao meu estudo, logo Maneri ingressou-me em outro universo, dividindo os sons não apenas entre aqueles 12 das teclas pretas e brancas do teclado do piano: ele procurava de início dividir cada tom não em meios-tons (teclas brancas e pretas), mas sim em ¼, ou seja, cada teclado de piano, a se seguir esta teoria, teria não as 88 teclas-padrão, mas 176 (houve exemplares, ver foto acima). E não parou aí. Introduziu o 1/6 de tom, que forçaria um piano eventualmente preparado para essa técnica ter 528 teclas! Porém, maluquice das maluquices, chegou a 1/12 de tom, o que faria um virtual pianista usar 1.056 teclas, e do afinador de instrumento um sujeito maluco a passar dias inteiros em um único instrumento, caso ele existisse.


Monocórdio moderno, para microtons. 
Para essas aulas Maneri usava o monocórdio, que, como se pode deduzir do nome, possui apenas uma corda. Algumas marcações na madeira permitiam criar essas divisões menores, e ele tentava fazer com que cantores, flautistas e violinistas executassem algumas ‘peças’ (leia-se: poucas notas!) com essas migalhas de tons (chamadas microtons); mesmo ao ouvido mais treinado, divisões de 1/12 são praticamente imperceptíveis. Ele confessava que executar aquilo era impossível, mas o fato era que, segundo ele, essas partículas sonoras estavam dentro de todos nós (por isso, a crítica o tinha como ‘o gênio que desafinava’, mas Maneri não lhes dava a mínima). O monocórdio era o instrumento que o grego Pitágoras (770 a 495 a.C.) já empregava em suas aulas e estudos, há mais de 2.500 anos! (Em arte, toda vez que ‘avançamos’ longe demais, ainda mais temos que retomar o passado para uma revisão). Progresso em arte, dizia meu pai, não existe. Ela está acima do tempo, apenas se transforma. E volta.
Esperando Godot
O 'chapéu de Wagner' talvez fosse o ‘Godot’ do Joe Maneri, aquele que nunca vinha. Décadas após deixar Boston, recebi um documento sobre o compositor. Qual não foi minha surpresa, não era apenas eu que usava o nome dele em meu currículo: na lista dele, eu figurava entre seus discípulos - e não imagino o porquê da distinção. Encheu-me de orgulho e de boas lembranças daqueles tempos, tempos repletos de grandes artistas e suas músicas. Mas a memória nos trai, e sempre que revolvida, como a terra, aflora algo como uma semente de nosso próprio crescimento interior, que germina revivida.

Louis Krasner, gravação com a BBC: Berg, "À memória de um anjo"
2009 foi um ano especial para mim: voltei a Boston, escala de uma visita a mais de duas dezenas de instituições musicais, a convite do Departamento de Estado dos EUA. Mas vou me deter apenas sobre a parte que me levaria a reencontrar Joe Maneri. Após o primeiro dia de visitas em Boston, recebi no hotel um telefonema do violista Renato Bandel, dando conta que Aírton Pinto havia morrido. Fomos amigos na Osesp, onde Aírton fora spalla (solista dos violinos e líder da orquestra), e ambos, com trajetórias semelhantes, respeitadas as diferenças de idade: na New England, Aírton havia estudado com Louis Krasner (à minha época uma lenda, apesar de já bem velhinho), simplesmente o responsável pelo mesmo Alban Berg de Joe Maneri ter escrito seu único – e lindíssimo – concerto para violino e orquestra, intitulado ‘À memória de um anjo’ (para Manon Gropius, a filha de Alma Mahler e o grande Walter Gropius, da Bauhaus, falecida de polio aos 18).

Wagner e seu chapéu, 'nosso Godot'
Aírton também foi professor da NEC e músico da Sinfônica de Boston por muitos anos. Mas ao indagar sobre Joe Maneri, olhares entristecidos me contaram que se ele acabara de nos deixar. Talvez tenha ido em busca de seu ‘Godot’, que nunca lhe apareceu em vida, encontro que deve ter acontecido lá no céu, três meses antes daquele mesmo dia da triste notícia. Fiquei sem ver o mestre e com ele o mistério do chapéu de Wagner.

(Veja e ouça abaixo a interpretação exclusiva e louca de Joe Maneri, em excertos de concertos em sua homenagem em Cambridge, MA)


sexta-feira, 14 de novembro de 2014

A OUTRA CRISE DA USP

Evolução de gastos nas três universidades públicas de São Paulo (FSP)
Matéria recorrente na imprensa, o gasto com a folha de salários da Usp chega a mais de 105% do orçamento, ou seja, há 5% negativos para manutenção e investimentos. É o sinal vermelho. Mesmo o reajuste salarial de 2,57%, neste segundo semestre, resultou em muito pouco alívio para os professores, mesmo com nova sangria nos cofres uspianos. Como agravante, é óbvia a previsível queda na arrecadação do ICMS em São Paulo em 2015 devido à crise econômica (as três públicas estaduais sobrevivem com 9,5% da arrecadação do Imposto sobre Consumo de Mercadorias e Serviços).

Pior: em 2013 as contas da Usp só foram ‘fechadas’ (sic) com créditos suplementares via decretos do governo: R$ 300 mi no primeiro semestre e 180 mi no segundo. São números impressionantes, mas é ainda muito pouco diante do orçamento de mais de 5 bi anuais e do enorme e crescente déficit. Resta acompanharmos atentos os que têm o conhecimento crítico e técnico e os que têm o controle da máquina, na busca de rumos para o futuro.

Os 'Bixos'
Isto dito e sabido, pretendo agora voltar-me a outra crise preocupante, o papel da Usp na sociedade. A Folha de São Paulo publicou, há poucos dias, duas matérias reveladoras: 50% dos calouros da Usp estão entre os 20% mais ricos do país (dados: Usp), o que significa que a universidade tem sido ocupada cada vez mais pelos mais ricos, deixando os demais, cidadãos comuns e os mais pobres, com espaço mais encolhido ao sol da formação de excelência.

Prouni:divulgação oficial
Essas cifras formam uma curva que vem se acentuando nos últimos anos de maneira perceptível. Mas qual o porquê dessa maior concentração de ricos? Guardem a bola de cristal e atentem para duas siglas: primeiro, o Prouni (Programa Universidade para Todos), criado em 2005, que concede bolsas integrais ou parciais para alunos de origem mais modesta no ensino superior privado, que recepciona 74% dos alunos de faculdades e universidades de todo o país. Por meio dele, é possível aos felizes contemplados (quase 10% dos alunos ingressantes) fazer um curso superior sem a maratona vestibular das chamadas ‘públicas’, facultando-os ainda estudar à noite para poder trabalhar de dia (pobre que é pobre, frise-se, tem que cavar seu sustento, papai não pode mantê-lo com seu parco salário). Esse programa tem se tornado um golpe na supremacia hegemônica das chamadas públicas – e, para que se faça justiça, informo que o Prouni foi criação, em 2005, do ex-ministro da educação Tarso Genro, no primeiro governo Lula (quem acha que 100% de tudo foi certo ou errado em um ou outro governo ou é cego ou, como diria o Mário de Andrade, “uma reverendíssima besta”).

Enem: divulgação oficial
Novo fator a se agregar a essa crescente elitização da universidade ‘pública e gratuita’ (mote da comunidade uspiana desde sempre) também foi revelado pela mesma Folha nesta segunda semana de outubro: em 2014 houve uma queda de 37,5% (dados oficiais) nas inscrições para o Fuvest (que realiza o exame vestibular) entre os alunos egressos de escolas públicas – em geral, vindos de classes menos favorecidas, que não podem pagar pelas caríssimas escolas particulares e cursinhos para ingressar nas pública estaduais. Mas haveria ainda outra razão desse ‘tombo’ de quase 40%? Vamos a outra sigla: o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), programa de avaliação que somente fica atrás do sistema chinês – comunista, aliás, mas cujo ensino não é gratuito, diga-se de passagem. Ainda outra vez, por justiça, o que é de César: o Enem foi gestado a partir de 1998, pelo então ministro Paulo Renato de Souza, do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Fies: divulgação oficial
Com o avanço do Enem, 53% (tendência crescente) das universidades públicas federais em 2014 já empregam o exame para seleção de candidatos, boa parte deles em vias de concluir o curso médio em escolas públicas. Prouni e Enem, juntos, já trazem algumas luzes sobre o visível escoamento de candidatos pobres e clara elitização da universidade pública (no caso aqui, a maior do país, a Usp). Mas não é tudo: o Fies (programa do MEC) financia cursos a simpáticos juros de 3,4% ao ano, para que o aluno possa pagar com menor sacrifício seu estudo em uma particular; ironicamente, em prejuízo das públicas cada vez mais elitizadas e engordando cofres privados. Agora pela última vez, cabe a César o que lhe é de direito: o Fies foi criado em 1999, no mesmo governo Fernando Henrique, pelas mãos do ex-ministro Paulo Renato de Souza. O modelo do Fies guarda muitas semelhanças com o crédito universitário americano, da mesma forma que entre o Enem brasileiro e o SAT (Scholastic Aptitude Test), criado em 1926.

Aluno de ensino médio em prova de SAT nos EUA
Com o resultado do SAT em mãos, o aluno norte-americano tenta ingressar na universidade de sua escolha. Porém, para estudar em certa universidade média no ranking, a nota mínima exigida é, vamos supor, 7, mas com essa pontuação, independentemente de poder pagar a anuidade ou não, o aluno não pode sonhar com uma cadeira na Harvard, só para citar uma das maiores.

Concluindo, a universidade brasileira, mesmo pública e gratuita, aparenta ser cada vez um nicho da mais elevada elite social, e esses 20% dos brasileiros mais ricos que hoje ocupam metade dos bancos escolares uspianos, nessa progressão, em breve ocuparão algo como 60% dos assentos universitários. Os mais pobres ou menos favorecidos custeiam com seus impostos o estudo gratuito dos mais ricos. Agora, peço atenção para os mais apressados: nem de longe entrei aqui no mérito da discussão-tabu, ‘a universidade paga’, e sim à 'outra crise', a que me refiro e que precisa ser pensada sem bandeiras de quaisquer cores: a Usp é de todos nós, docentes, alunos e da comunidade paulista, que a sustenta.