LIVROS

LIVROS
CLIQUE SOBRE UMA DAS IMAGENS ACIMA PARA ADQUIRIR O DICIONÁRIO DIRETAMENTE DA EDITORA. AVALIAÇÃO GOOGLE BOOKS: *****

sexta-feira, 30 de março de 2012

COMO ERA GOSTOSO O MEU CINEMA FRANCÊS! Parte 1 de 4

e o italiano, o espanhol, o brasileiro... Parte 1 de 4
(Publicado em O Progresso em 31 de março de 2012)


HOLLYWOOD, O MONOPÓLIO E GODARD

Desde que Hollywood e o ‘Oscar’ monopolizaram de vez a chamada ‘sétima arte’, nos anos 1980, impôs-se um padrão americano para o cinema. A criação cede aos artifícios técnicos, que batem nossas carteiras. Não importa se o ator é bom ou ruim: uma linda atriz, uma cena de sexo, um crime e bons efeitos sonoros podem fazer de um texto medíocre um enorme sucesso.
Quem se lembra do franco-suíço Jean-Luc Godard e obras-primas como “A chinesa”? (1967): 5 estudantes discutem a revolução socialista, confinados quase todo o tempo em apartamento pequeníssimo em Paris (um reality-show?). Em “Duas ou três coisas que eu sei dela” (1967), “ela” é Paris, a “Cidade-luz”. Jean-Paul Belmondo e Ana Karina, dois ‘queridinhos’ de Godard, foram as estrelas de Alphaville (1965), um lugar cujos habitantes são vigiados por um supersupercomputador (Na cena abaixo, o herói Lemmy Caution declara seu amor por Natacha Von Braun, que não sabe o significado da palavra, abolida da nação fictícia).



Já o greco-francês Costa-Gavras foi o crítico das ditaduras, como em “Z” e “O desaparecido” (1982) – este, acerca do ‘sumiço’ de um jornalista americano na ditadura chilena de Pinochet, em 1973. (Veja abaixo trailer oficial do filme Missing – “O desaparecido”).


COMO ERA GOSTOSO O MEU CINEMA FRANCÊS! - Parte 2 de 4

e o italiano, o espanhol, o brasileiro... Parte 2 de 4

O BAIANO GLAUBER ROCHA E FELLINI

Glauber Rocha (1939-81) e uma penca de brasileiros vieram no repuxo dessa “Nova onda” (Nouvelle vague) francesa. Os filmes “O dragão da maldade contra o santo guerreiro” (1969, com Odete Lara) e “Terra  em transe” (1967, com Paulo Autran e Jardel Filho), foram obras-primas difíceis de serem tragadas pelo Regime Militar. Glauber levou vários prêmios em Cannes, mas nunca um Oscar. Em “O dragão”, a câmera é propositalmente confusa, o discurso idem. Glauber era um patrimônio cultural. Era ‘cult’ frequentar a pensão da mãe dele, no Botafogo carioca.
Veja abaixo a famosa cena do primeiro duelo entre o matador Antonio das Mortes e o Capitão Coirana:



 
O italiano Federico Fellini (1920-93) era surreal, grotesco, destilava a dramaticidade e o exagero italianos, temperando-os com sua paleta de pintor de filmes. Antológica é a cena em que uma senhora ‘afoga’ um adolescente contra seus seios, do tamanho de duas melancias! (Seria em La nave va?). “Noites de Cabíria” (1957), foi estrelada por uma de suas prediletas, a esposa Giulietta Massina. Em Satyricon (1969), Fellini investiu nos escritos de Petrônio, do século 1, com direito a pedofilia e perversões: era a degradação da antiga sociedade romana vista com os olhos de hoje. “Ensaio de orquestra” é de todos o mais divertido: uma caricatura de músicos em ensaio, tendo à frente um “maestro”, que, após uma rebelião, acaba substituído por um enorme metrônomo (aquela bugiganga de marcar o tempo: tec-tec-tec...). A anarquia não prospera, e a ordem retorna, austera, com a autoridade do regente. (Uma recaída do lado fascista de Fellini). Veja abaixo as cenas iniciais de “Ensaio de orquestra”, com lances que beiram o ridículo – mas nem por isso irreais:



COMO ERA GOSTOSO O MEU CINEMA FRANCÊS! - Parte 3 de 4

e o italiano, o espanhol, o brasileiro... Parte 3 de 4

O TEOREMA DE PASOLINI E A REPRESSÃO ITALIANA

Italiano também era Pier Paolo Pasolini, endeusado pela esquerda, cuja obra-prima talvez tenha sido “Teorema” (1968), com Terence Stamp e Silvana Mangano nos papeis principais. Um visitante (Stamp) hospeda-se na casa de uma típica família burguesa italiana. O ambiente, a família, representam a sociedade, campo livre para Pier ridicularizar a burguesia. O cineasta era homossexual assumido, comunista e meio louco: assaltou uma loja à mão armada, para se sentir um personagem bandido. O também italiano Antonioni foi o autor de Blow-up (“Depois daquele beijo”, 1967), filmado em Londres e logo tornado ‘cult’. Um fotógrafo, ao ampliar fotos clicadas por uma linda cliente (Jane Birkin), percebe no fundo de uma das ampliações uma cena de assassinato; daí flui a trama, entre o mistério do crime e a beleza de Jane. Elio Petri filmou “Investigação sobre um cidadão acima de qualquer suspeita”, com Gian-Maria Volonté no papel de um temido chefe da repressão italiana. O policial faz um jogo com pistas do assassinato de sua esposa (no papel, a atriz brasileira Florinda Bolkan), e ao final termina um discurso com uma frase de fazer arrepiar: “repressão é civilização!”
Abaixo, uma famosa cena de “Teorema”, de Pasolini, em que a coadjuvante Silvana Mangano não resiste à tentação e seduz o jovem visitante (Terence Stamp):



Espanha nos deu Luís Buñuel, cujo título que mais me marcou foi “O estranho caminho de Santiago” (La voie Lactée, 1969). Na fita, dois peregrinos vagabundos caminham rumo a uma ‘Meca’ católica, Santiago de Compostella. Buñuel expõe suas críticas ao que considera grandes contradições e heresias da Igreja Católica. Há um momento cruel: os dois peregrinos, mortos de cansaço, sentam-se sob uma árvore, desesperados, e chegam à conclusão de que “os dogmas de Deus são impenetráveis”. A cena simbolizaria o limite para a busca de explicações para tudo.
No vídeo abaixo, os peregrinos creem ter visto um milagre de Cristo – que, na realidade, não aconteceu:




COMO ERA GOSTOSO O MEU CINEMA FRANCÊS! Parte 4 de 4

e o italiano, o espanhol, o brasileiro... Parte 4 de 4

DE MACUNAÍMA A BERGMAN E MOZART

Voltando ao Brasil, outro grande nome foi Joaquim Pedro de Andrade (1932-88), com o histórico “Macunaíma”, que começa com Grande Otelo, no papel principal, sendo “parido” de cócoras por sua mãe indígena - e caindo no chão. Andrade  também é autor  de “Garrincha, alegria do povo”, um balde de água fria na empáfia de Pelé e Maradona. Em “Como era gostoso meu francês”, Nelson Pereira dos Santos conta que, entre os Tupinambás, o inimigo deveria ser devorado, para dele poderem absorver conhecimentos e poderes (o francês foi interpretado por Arduíno Colassanti). E Ana Maria Magalhães, garota de Ipanema com jeito de índia, fazia um dos primeiros nus de nosso cinema. (Na cena abaixo, o “francês” é servido pelas índias tupinambás, enquanto lamentam os familiares mortos pelos portugueses).


Devo ter visto uns 10 filmes do sueco Ingmar Bergman, porém minha preferência recai sobre “Morangos Silvestres” (1956), uma memória oculta revivida e traz cenas infantis do passado de um médico, no filme já idoso. Tudo acontece a caminho de uma universidade onde o protagonista receberia uma homenagem, e passou a rever imagens de sua infância. Outros são “Gritos e sussurros” e uma magistral versão de “A flauta mágica”, de Mozart. Plena de elementos maçônicos (Mozart era um “irmão”), há um crítica embutida aos costumes da época. (Embaixo, ao final, o início do 1º ato da ópera).
Leitor, perto de você deve haver uma boa videolocadora com diversos desses títulos. Se não os viu, leve alguns para casa. Assista aos filmes modernos, sim, mas veja também o quanto perdeu a arte do cinema!

sexta-feira, 23 de março de 2012

A MÚSICA DE HITLER E AS ASAS DE VERDI – Parte 1 de 5

O JOVEM ADOLF HITLER E A ÓPERA

Aos 8 anos de idade, o menino Adolf foi para o internato de um convento beneditino construído no séc. 11, em Lambach, na Áustria. Mais tarde, foi matriculado por imposição pelo pai, Alois, em uma escola técnica real (Realschule) em Linz. Logo após a morte da Alois, Adolf acabou sendo expulso da escola, em 1904. Tentou uma vaga na Academia de Artes de Viena, mas foi reprovado duas vezes. O convívio com os artistas da boemia de Viena não teve o condão de lhe abrir os caminhos da arte: faltava-lhe talento. Era frequentador assíduo de óperas – sua estreia como apaixonado pelo gênero se deu aos 12 anos de idade, um tanto precoce para uma arte tão difícil, que engloba canto, orquestra, drama e poesia (por isso mesmo, Richard Wagner, o compositor-ídolo de Hitler, entendia sua ópera como uma Gesamtkunstwerk - ‘obra de arte total’. (Veja, na foto, a ironia da palavra tatuada no peito de um judeu, ao lado da estrela da David).

A MÚSICA DE HITLER E AS ASAS DE VERDI - Parte 2 de 5

HITLER, O ANTISSEMITISMO E A MÚSICA

Hitler aderiu ao antissemitismo que grassava em Viena, capital austríaca repleta de judeus ortodoxos, em sua maioria vinda dos guetos russos. (Na foto, Hitler está na primeira fila, no corredor, na ala esquerda da plateia). Passou a admirar Martinho Lutero, com cujos panfletos de ‘alerta’ contra os judeus encorpava sua argumentação antissemita. Depois, envolveu-se nas ideias do filósofo Friedrich Nietzsche, que negava tanto a fé quanto o antissemitismo. Com o advento do regime nazista, e com ele a censura como instrumento do poder absoluto, a paixão artística de Hitler tornou-se uma contradição, pois o controle da Arte pelo Estado e a liberdade da criação artística misturam-se como água e azeite: nunca. Para compensar, o Führer privilegiava sua “Juventude Nazista” apoiando e beneficiando seus músicos. Os ‘escolhidos’ da música faziam parte do Reichsmusikkammer, a ‘Câmara de Música do Reich’. Do grupo participavam o célebre regente Wilhelm Furtwängler, da Filarmônica de Berlim, e o grande compositor Richard Strauss, também admirado por Hitler e conhecido como autor de “Assim falou Zaratustra”, composição popularizada modernamente (1968) pelo filme “2001, uma odisseia no espaço” (Veja um trecho abaixo. Relembrar é preciso).

A MÚSICA DE HITLER E AS ASAS DE VERDI – Parte 3 de 5

A ‘TRINDADE MUSICAL’ DE BEETHOVEN, WAGNER E BRUCKNER E A MORTE DO FÜHRER

Hitler e Goebbels, Ministro da Propaganda nazista, construíram uma espécie de ‘Trindade’ da ‘pura’ música alemã: Beethoven, Wagner e Bruckner. Hitler via em Beethoven um espelho de si mesmo, o olhar penetrante, o brio heroico, o espírito germânico. Porém, o lugar de favorito do Führer pertencia mesmo a Wagner. E essa admiração do ditador não foi apenas musical: na metade do século 19 o compositor havia publicado um agressivo libreto antissemita: Das Judebthum in die Musik (“O judaísmo na música”). Entre 1930 e 1940, Hitler fez do Festival de Bayreuth, inaugurado por Wagner em 1876, espaço de intensa campanha contra os judeus.

Bruckner considerava-se discípulo de Wagner, com quem estudou a partir de 1863; ele havia conhecido o gênio da ópera na estreia de ‘Tristão e Isolda’ uma das mais importantes obras de todos os tempos, marco revolucionário da liberação das amarras da música tradicional (veja um trecho orquestral do Prelude und Liebestod, desta ópera, abaixo, com a Orquestra West-Eastern Divan, formada por jovens judeus e muçulmanos, tendo à frente o criador do grupo, o Maestro Daniel Barenboim).


Existem evidências de que o Adagio da 7ª Sinfonia de Bruckner tenha sido composto após uma premonição terrível – a morte de Wagner. Escrita com o porte solene de uma obra funeral, logo após Bruckner terminar o Adagio, em 1883, Wagner faleceria. Essa associação tornou-se tão forte que, assim que ecoou no mundo a notícia da morte de Hitler, em 1945, a peça foi executada em sua homenagem. (Confira abaixo o Adagio com Karajan e a Filarmônica de Viena).

A MÚSICA DE HITLER E AS ASAS DE VERDI – Parte 4 de 5

STRAUSS, A AMIZADE ‘MALDITA’ COM ZWEIG E O LIVRO DE DEONÍSO DA SILVA

Richard Strauss fora nomeado por Hitler diretor-geral do Reichsmusikkammer. Mas o compositor não via diferença entre músicos judeus e não judeus, o que obviamente lhe trazia dissabores e pressões. Não aceitava demitir músicos de origem judaica e continuou sua amizade com Stefan Zweig, escritor judeu e um de seus libretistas (escritores ou poetas que redigem os textos de uma ópera).

O recentíssimo “Lotte & Zweig” (Ed. LeYa), de Deonísio da Silva, é um depoimento sobre o escritor: fugido da Áustria com a esposa, devido à perseguição, Zweig refugiou-se em Petrópolis, na região serrana do Rio, onde, afinal, com sua amada Charlotte terminariam por cometer suicídio, um nos braços do outro. Será? Devido à negativa de uma autópsia, entende-se que o casal pode de fato ter sido assassinato, uma vez que em Petrópolis, e principalmente em Itaipava, bem próxima, havia nazistas escondidos.

Voltando a Strauss (óleo à direita), sua ligação com judeus lhe valeu a demissão de seu cargo no Reichmusikkammer, sua expulsão do grupo e a censura à sua música. Herbert Von Karajan, o maior mito da regência, tinha ligações com o partido nazista, assim como parte dos músicos de sua orquestra. Hitler lhes havia garantido que, mesmo sob bombardeio,  a música continuaria soando em Berlim.

A MÚSICA DE HITLER E AS ASAS DE VERDI - Parte 5 de 5

A CENSURA DA MÚSICA POR HITLER E STÁLIN E AS ASAS DOURADAS DE VERDI

Tanto a música ‘purificada’ de Hitler quanto aquela de Stálin, na União Soviética, depurada por Jdanov, o “Comissário do povo” (na foto, à direita de Stálin), pouco ou nada serviram à manutenção dos dois regimes ditatoriais. Pelo contrário, a música da Revolução Francesa, os temas da juventude dos anos 1968/80, obras dramáticas como a “Trenodia pelas vítimas de Hiroshima”, de Penderecki, sempre foram elementos de inspiração e memória da resistência aos opressores, mas infelizmente nunca armas com força para demoli-los... A música é um pássaro livre, e, ao se lhe cortarem as asas, essas renascem mais amplas e vigorosas. Va pensiero, sul alle dorati, da ópera “Nabucco”, de Verdi, é um hino do povo hebreu escravizado rumo à libertação: “Vai, pensamento, sobre asas douradas/ (...) traga-nos um ar de triste lamentação/ ou que o Senhor te inspire músicas/que nos infundam a força para suportar o sofrimento”. (Vale ver e ouvir – abaixo - este que é o segundo Hino da Itália! Com o Coro do Metropolitan Opera House de NY. Legendas em espanhol. A cena parece um óleo digno dos grandes pintores. Um óleo móvel e cantante! Quanta emoção!)

sexta-feira, 16 de março de 2012

1 - “BOEMIA, AQUI ME TENS DE REGRESSO”

(Óleo ao lado: "boemia carioca": Museu Virtual Pintores do Rio) A associação entre músicos e boemia é sempre inevitável, embora o contingente de adeptos deste tipo de lazer exposto aos olhos do público, entre várias outras profissões- como diplomatas, pedreiros e peões, em geral -, nada fique a dever aos primeiros. O problema é a visibilidade, uma vez que, mais exposto, o músico se torna vulnerável à observação implacável dos outros.
Noel Rosa foi um que, apesar de médico, excedia-se no copo antes, durante e depois de compor ou cantar, e tornou famosas algumas cenas que protagonizou. Certa noite, tendo a mãe dele sido sepultada pela manhã, Noel foi visto em um bar, bebendo e vestido com uma camisa de cores berrantes, o copo apoiado naquele queixo caído por causa do fórceps de um parto mal feito. Alguém o repreendeu: “Noel, meu caro, você devia estar de luto!” Ao que o sambista respondeu, improvisando: “luto preto é vaidade/ nesse turbilhão de dor/ o meu luto é a saudade/ e saudade não tem cor”.

2 - DE NELSON CAVAQUINHO A CARTOLA E O BIXIGA

Nelson Cavaquinho eu conheci em um barzinho de um antigo shopping de Copacabana – ele, com um show no Teatro Opinião, palco de muita música boa, e eu ao lado, no Teresa Raquel. Em um intervalo, inteiramente travado pela cachaça, Nelson cruzou comigo e, como eu usava barba e cabelos meio longos, como era costume na época, gritou, apontando o dedo para mim: “Zezus, é bra vozê que eu rezo doda noide!” Saí de fininho entre as risadas dos colegas. Nelson dava uma palinha (pequena participação) na gravação de “Pranto de poeta”, do Cartola (video abaixo), que termina com os lindos versos: “vivo cantando em Mangueira porque/ sei que alguém há de chorar quando eu morrer...” E ao final agradece, falando: “obrigado, Nelson!” – que responde, no fundo: “ovligado, Gardola” (ou quase isso).

No bar Telecoteco, no Bixiga paulistano, acontecia muito samba, muita bossa. Simone, Célia e Benito de Paula estão entre os que começaram a vida musical por lá. Era difícil ver músico que não gostasse de frequentar o Teleco, nos bons tempos. Foi ali que um inebriado Herivelto Martins, autor da famosa “Praça onze”, símbolo do carnaval carioca, ajoelhou-se, brindou e tomou champanhe no sapato de salto 7 de sua musa Dalva de Oliveira (foto ao lado), como fosse taça de cristal. Homérico.

3 - DE SHAKESPEARE A BEETHOVEN

Shakespeare (1564-1616, figura à direita), o bardo inglês, satirizava os violinistas (ou melhor, rabequeiros), na sua peça “Sonhos de uma noite de Verão”: uma bando de bêbados contumazes, gente que sabia apenas “quem iria pagar a próxima cerveja”. Já Beethoven era dado a rompantes quando se excedia: certa vez, em uma recepção na casa do Conde Moritz Lichnowsky, onde se apresentava com seu aluno Ries, em meio ao burburinho da festa, ficou irritado com as gargalhadas do nobre anfitrião. Tomou um último gole e fechou o teclado do piano, já se levantando para ir embora. Perguntado pelo nobre sobre o porquê de ter parado de tocar, Beethoven respondeu: “quando um Príncipe fala, todos se calam” (Ilustração abaixo).

4 - A BOEMIA ABSTÊMIA

Mas o que fazia o charme da boemia não era a bebida, em si, e muito menos somente ela, porque o bom boêmio pode até prescindir do álcool: bom mesmo era o apelo da noite, suas fantasias, seus personagens, as gargalhadas, as mulheres “da vida”, as brigas de faca, as confusões que às vezes lançavam garrafas e cadeiras ao alto. Moreira da Silva (o “Kid Morengueira”), era assíduo nos bares e botecos, nas gafieiras e prostíbulos cariocas, sempre garboso com seu terno branco, chapéu, e seus inesquecíveis ‘sambas de breque’, gênero de que se gabava de ter sido o criador (pausa o samba, e o cantor vai falando, como no “rap”). Pois bem, Morengueira bebia leite. Só leite. Veja o ‘breque’ (falado) do samba “Olha o Padilha” (vídeo abaixo). Padilha foi um terrível delegado carioca dos anos 1950, famoso caçador de playboys, boêmios e malandros: “raspe o cabelo desta fera!” (disse o delegado). “Não está direito, seu Padilha/ me deixar com o coco raspado/ já apanhei um resfriado/ (...) eu que tinha o apelido de Chico Cabeleira/ não volto mais à gafieira/ ele quer ver minha caveira/ (...) Eu, hein, se não me desguio a tempo ele me raspa até as axilas!”

5 - O DISCRETO CHARME DA BOEMIA

O discreto charme da boemia talvez resida também naquela coisa machista de o marido sair para a ‘noite’, enquanto a mulher fica em casa esperando, submissa e resignada (coisa em franca decadência: a mulher agora vai junto). Por isso, incorporando a mulher de boêmio, Caetano cantou em sua linda “Esse Cara” os versos: “(...) ele está na minha vida porque quer/ eu estou pro que der e vier/ ele chega ao anoitecer/quando vem a madrugada ele some/ ele é quem quer/ ele é o homem/ eu sou apenas uma mulher”.
Paulo Vanzolini, em sua popular “Ronda”, evoca o mesmo estilo passivo de mulher de malandro: “De noite eu rondo a cidade/ a te procurar sem te encontrar/ no meio de olhares espio/ em todos os bares/ você não está/ volto pra casa abatida/ cansada da vida...”
A famosa “A volta do boêmio”, de Adelino Moreira, é antológica. E foi de onde tomei emprestado o primeiro dos versos para o título dessa série de postagens: “Boemia, aqui me tens de regresso...” A música é associada ao vozeirão de Nelson Gonçalves (ver vídeo abaixo, com o clássico Arthur Moreira Lima ao piano!), e repisa no mesmo mote, cantando o conformismo da mulher do malaco, resignada: “Meu amor, você pode partir/ não esqueça o seu violão/ (...) vá sonhar em novas serenatas/ e abraçar seus amigos leais/ (...) pois me resta o consolo e a alegria/ de saber que depois da boemia/ é de mim que você gosta mais”.

sexta-feira, 9 de março de 2012

LULA, CHÁVEZ E A ‘VERDADE REAL’ – Parte 1

No recente julgamento de Lindemberg Alves, a advogada do réu, Ana Lúcia Assad, mandou a juíza “voltar a estudar”, por esta ter negado a existência do princípio da ‘verdade real’. Por causa dessa agressão verbal, a magistrada denunciou a defensora de Lindemberg ao Ministério Público por desacato. Eu, mesmo leigo, sei que existem em direito os conceitos de ‘verdade real’ e ‘verdade formal’. Mas pensemos além disso.
Independentemente do caso Lindemberg, a ‘verdade real’ é um conceito que, filosoficamente, deixa de fazer sentido absoluto, assim como outros conceitos semelhantes ou derivados. A própria filosofia da ciência entende que o que se considera verdade o é até que alguém prove o contrário, haja vista Copérnico, Galileu (ilustração ao lado) e as teorias do geocentrismo, exemplos clássicos.
Verdade é que –entrando agora no assunto do título- lesão pode virar tumor benigno, e este pode virar maligno; uma leve infecção pulmonar pode ser uma leve pneumonia, depois moderada, quem sabe, ou (no caso de Lula, esperamos que não!) grave, quando e se assim convier a quem dá a notícia. Lula foi o primeiro em quem pensei: a ‘verdade’ é a que é divulgada para o país, ferramenta partidária do controle hegemônico das forças políticas aliadas e do apoio do povo, que tem no ex-presidente o modelo de ascensão social e de poder que ele, o populacho, gostaria de ser. Na 2ª feira, 5 de março, a Folha publicou (‘Poder’, pág. A7): “Com pneumonia, Lula volta a ser internado”. E a versão oficial de que a febre é ‘baixa’ é simplesmente a ‘verdade’. Ponto. Mas será essa a ‘verdade real’? Será que uma febre baixa medicada é melhor sinal do que uma febre alta? Não sou médico, mas tenho minhas dúvidas por experiência de vida e lógica. Como sempre, o povo quer vê-lo nas ruas e falante.

CHÁVEZ E A ‘VERDADE DO GATO’ – Parte 2

Ao contrário de Lula, seu companheiro e fã Chávez, de nossa vizinha Venezuela, utiliza a ‘verdade-gato’: ‘o gato subiu no telhado’. Na mesma edição do jornal (Mundo, pág. A12), “Chávez confirma que ‘lesão’ era câncer”. Tudo a desmentir a arrogância anterior, típica da pretendida imagem imortalidade dos grandes ditadores. Mas que sucumbe, quando falsa, frente à ‘verdade real’, e à vista de todos. No caso de Chávez, parece que tem sido usada a ‘verdade relativa’, se é que assim que podemos chamar, até mesmo por seu ‘exílio’ hospitalar em Cuba. A manobra tenta adiar uma provável reviravolta política no país, com Henrique Capriles à frente das oposições, em outubro. Como todo caudilho merecedor dessa pecha (‘ditador latino’), Chávez cogita formas de postergar as eleições, moldando o calendário eleitoral do país conforme seu estado de saúde pessoal. “O Estado sou eu”, equivaleria dizer, repetindo Luís XIV (ilustração).
A VERDADE EM TANCREDO E JK – Parte 3
Todos temos dúvidas sobre a ‘verdade real’ do fim de Tancredo Neves; contudo, era necessário mantê-lo vivo, mesmo que, conforme reza a lenda, talvez já não estivesse mais, exatamente no dia em que o país saía do jugo militar, em 1984. Tancredo foi eleito e não tomou posse. Daí veio o Sarney e... bom, aí são outros quinhentos réis. Juscelino Kubitschek foi sentenciado por seu inimigo, o udenista Carlos Lacerda: “não será candidato; se for, não será eleito; eleito, não tomará posse”. Mesmo sob os vaticínios de Lacerda, JK recebeu a faixa presidencial sob a guarda do General Lott (foto acima) e seus comandados legalistas. Mas em 1956 houve a revolta de Jacareanga, e em 1959 mais outra, em Aragarças. Batidos nesta última, grande parte dos rebeldes fogem do país para voltar somente com Jânio Quadros (1961).
Juscelino, sob perigo iminente durante todo seu governo, também usou de uma ‘verdade irreal’: pouquíssimos sabem que JK teve e tratou de um infarto às escondidas: a imprensa estava ansiosa e desconfiada por causa da prolongada ausência da figura popular e vaidosa de JK. Para despistar, foi meu pai (à época Porta-voz do Presidente), vestido com um chapéu, quem acenou ao longe, como sempre fazia JK abanando o braço, para enfim subir no helicóptero do Palácio do Catete, deixando o país mais tranquilo e menos suscetível a rebeliões - até o retorno do Chefe da Nação, como se nada tivesse acontecido (in: Autran Dourado: ‘Gaiola Aberta’. SP: Ed. Rocco). Ou teria sido esse o caso de uma ‘mentira real’? Goebbels, ministro da propaganda de Hitler, dizia que toda mentira repetida dez vezes passa a ser entendida como verdade. No fundo, usa-se aqui e ali, sem saber, o título-tema de uma peça do dramaturgo italiano Pirandello: “Cosí è se vi pare” (“Assim é, se lhe parece”).
A VERDADE NUA E CRUA DAS TVs – Parte 4
Já entre os artistas ‘globais’ existe apenas a verdade nua e crua, uma coisa meio do gênero ‘assista ao vivo e a cores ao meu suplício ou à minha superação’ (este último, termo hoje usado e abusado por modismo ou automistificação). O ‘suplício’ foi o caso de Ana Maria Braga, felizmente recuperada, e tem sido o de Reynaldo Gianecchini, em vias de. O país aceitou a autoimolação pública de Cazuza, vítima da Aids e da sanha devoradora do público, que Chico Buarque ousou registrar em sua peça ‘Roda Viva’ (foto ao lado:1968). Em ambos os casos (Braga e Gianecchini), prevaleceu a ‘verdade real’, pois é ela que também alimenta as tardes dos ‘Datenas’ da vida, desnudando o dia como um ‘veja como a vida real é cruel’. Daí a verdade “nua e crua” – nua, porque é impossível encobrir o que já foi exposto; e crua, porque também revela a carne sangrenta: é cruel.

A VERDADE DOS VENCEDORES – Parte 5

Muitos magistrados, além da denúncia por desacato, talvez tivessem dado voz de prisão à advogada Assad, sedenta que estava por holofotes e autopromoção. (Talvez prendê-la traria mais holofotes e confusão ao processo). Mas negar que existem ‘verdades’ – sejam elas reais ou formais’ ou ainda outras - é impossível, independentemente da Doutrina do Direito. Ou ao homem de pouco serviriam a fé e a contemplação do invisível, se houvesse verdades absolutamente reais, inquestionáveis e definitivas. A ‘verdade real’ é um mito: “A história é sempre contada pelos vencedores”, disseram Marx e Engels (foto ao lado), em “A ideologia alemã”, uma das contribuições filosóficas da dupla – e talvez um de seus acertos históricos, entre tantos equívocos.

CONSERVATÓRIO: LEI DA "EXTINÇÃO" FERE A CONSTITUIÇÃO, DIZ RELATOR

“LEI DE INICIATIVA PARLAMENTAR NÃO PODERIA RETIRAR A VALIDADE JURÍDICA DE ENTIDADE DA ADMINISTRAÇÃO INDIRETA DO EXECUTIVO, SOB PENA DE FLAGRANTE VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO DOS PODERES”.
Lei do Deputado Cândido Vaccarezza (12.497/2006) não poderia ter revogado a Lei que criou o Conservatório de Tatuí. Segue abaixo o relatório (Dep. Promotor Fernando Capez, foto ao lado: AL) aprovado pela CCJR (grifos meus), favorável ao PL 654/2011, do Dep. Samuel Moreira (foto abaixo: AL). Passadas 5 sessões regimentais e aprovado pela Comissão, agora vai a plenário:


PARECER Nº  160 , DE 2012

DA COMISSÃO DE CONSTITUIÇÃO, JUSTIÇA E REDAÇÃO, SOBRE O PROJETO DE LEI Nº 654, de 2011

De autoria do nobre Deputado SAMUEL MOREIRA, o projeto em epígrafe restabelece a vigência da Lei nº 997, de 13 de abril de 1951, que criou o Conservatório Dramático e Musical de Tatuí.
Nos termos regimentais, a proposição esteve em pauta não tendo recebido emendas ou substitutivos.
Encaminhados os autos a esta Comissão, fui designado Relator para exarar voto sobre a constitucionalidade, legalidade e juridicidade da proposição, bem como quanto ao mérito.
Nos limites que cabem analisar, não vislumbro óbices à sua aprovação.
A matéria é de natureza legislativa e de iniciativa concorrente, uma vez que se trata apenas de restabelecer norma indevidamente expurgada do ordenamento jurídico, pois o órgão continua em pleno funcionamento no âmbito da Administração.
Vale dizer, uma consolidação de leis de iniciativa parlamentar não poderia retirar a validade jurídica de norma que dá sustentação à existência de entidade da administração indireta do Poder Executivo, sob pena de flagrante violação do princípio da separação dos Poderes.
Isto posto, o voto é favorável à aprovação do Projeto de lei nº 654, de 2011.

a)Fernando Capez – Relator

Aprovado como parecer o voto do relator, favorável à proposição.

AGORA, AO PLENÁRIO!!!

BLOG ATINGE MAIS DE 15 MIL ACESSOS EM 9 MESES

Média é de 1.666 acessos por mês,  55,55 por dia.
As 5 postagens mais lidas: (1) “ Apple e a maçã-símbolo do ‘pecado’” (cont.) – 2 dez 2011 (2) Filme novo? – 12 set 2011 (3) Leis que pegam e leis que não pegam – 8 nov 2011 (4) Recorde em construção de prédio: 15 dias – 11 jan 2012 (5) ‘Facebookson’: uma piada, não uma fraude – 20 out 2011.

sexta-feira, 2 de março de 2012

PEÇAS DE FANTASIA

Em música, fantasia é um gênero instrumental mais livre de formalidades, que deixa o compositor solto, mercê de sua própria imaginação e espírito de improvisação. Desde o final da Idade Média (séc. 15), já encontramos fantasias para instrumentos ancestrais como o alaúde (do árabe al-oud, que mais tarde veio a dar origem a uma série de instrumentos como o violão - ilustração à direita: Hans Memling, séc XV) e a vihuella de arco, que fazia o papel semelhante ao de uma viola ou violino.

Durante o período barroco (séc. 17/18), surgiram fantasias para teclados como o órgão litúrgico, assim como as fantasias-suíte, para órgão e instrumentos de cordas, essas com espírito de dança. O classicismo (séc. 18/19) abriu espaço para que Mozart criasse fantasias com asas ao sabor de sua inspiração irrequieta. Beethoven, em sua grandiosa “Fantasia Coral” (1808), aliou piano, coro e orquestra, enquanto Chopin, com sua “Fantasia em Fá menor”, Schubert, com uma “Fantasia para Dueto de Piano” e Schumann, com duas belas Fantasiestücke ("Peças de Fantasia"), entre diversas outras, envolveram no perfume do romantismo seus delírios criativos. Veja o vídeo abaixo, com o charme de Martha Argerich, ao piano.

A FANTASIA TRIUNFAL SOBRE O HINO NACIONAL BRASILEIRO

Louis Moreau Gottschalk, norte-americano nascido em Nova Orleans e falecido no Rio de Janeiro, em 1889 (supostamente por overdose de quinino, que usava para combater a malária que contraíra), compôs uma pomposa “Grande Fantasia Triunfal sobre o Hino Nacional Brasileiro”, dedicada à Condessa D’Eu.

A peça consiste em variações sobre a música do hino pátrio, por sua vez composto originalmente por Francisco Manuel da Silva em 1831, como “Hino da Abdicação”. Gottschalk  escreveu a obra para piano e orquestra, tendo sido gravada inúmeras vezes, notadamente pelas brasileiras Cristina Ortiz e Guiomar Novaes, à frente de grandes orquestras internacionais. (Veja abaixo a interpretação personalíssima da inesquecível Guiomar Novaes, gravada ao vivo em 1969, no Rio).



A FANTASIA NA MÚSICA POPULAR

Pensando na música popular, vem imediatamente à cabeça a linda “Sem fantasia”, do Chico: “Vem, meu menino vadio/ vem, sem mentir pra você/ vem, mas vem sem fantasia/ que da noite pro dia/ você não vai crescer” (ver no vídeo abaixo, com Nara Leão, Chico e MPB4). Já Assis Valente faz cantar a mulher que receia das loucuras do marido, em “Camisa listrada”: “agora que a batucada já vai começando/ não deixo (...) meu querido debochar de mim/ porque se ele pegar as minhas coisas/ (...) se fantasia de Antonieta e vai dançar no Bola Preta/ até o sol raiar”. E a triste “Fantasia”, de Don Becky (1971), da qual ele não parece se desprender? (“Che farei, senza questa immensa fantasia...”).


A FANTASIA DE FREUD E A MÁSCARA DA PERSONA DE JUNG

É nesse sentido que trilha a ideia de Freud e seus seguidores quanto à fantasia: a contradição entre o que é objetivo e o que é subjetivo, entre o que é a ideia de realidade e a ideia de prazer, até a busca da satisfação por intermédio da ilusão. Fica difícil ‘rasgar a fantasia’, quando ela é nossa persona, que Jung considera a ‘máscara’ que apresentamos ao outros como sendo real, mas que esconde por trás nossas mutações, quando não expõe às vezes imagens inversas do que realmente somos.

A FANTASIA DE WALT DISNEY

É impossível falar de fantasia sem falar de um filme produzido nos estúdios de Walt Disney em 1940 – aliás, uma das primeiras fitas estereofônicas da história. Com o maestro Leopold Stokovsky à frente da imponente Orquestra de Filadélfia, 8 trechos de obras da música de concerto universal travam um diálogo mágico entre sons e imagens: Bach (“Toccata e fuga em ré menor”), Tchaikovsky (“Quebra-nozes”), Dukas (“O aprendiz de feiticeiro” - com Mickey Mouse no ‘papel’ de aprendiz: ver o vídeo ao final da postagem), Stravinsky (“Sagração da Primavera”), Beethoven (Sinfonia “Pastoral”), Ponchielli (“A dança das horas” - tendo animais como personagens), Mussorgsky (“Noite em Monte Calvo”, em um halloween) e Schubert (“Ave Maria”).

Todos os 24 quadros por segundo da “Fantasia” de Disney foram feitos à mão um a um, em estúdio; cada movimento do desenho acompanha com assombrosa perfeição cada tempo, cada compasso, cada frase das músicas executadas pela orquestra. O resultado artesanal de Disney – há mais de 70 anos! - serve para colocar certo pé no freio sobre a badalada genialidade tecnológica de Spielberg e seus seguidores. Disney fez tudo isso manualmente, várias décadas antes! O filme não é difícil de ser encontrado nas locadoras – quem já viu, sempre verá de novo; quem não viu, saiba que está perdendo uma obra-prima. (Abaixo, trecho de “O Aprendiz de Feiticeiro”, com Mickey Mouse no papel de aprendiz)

DO CARNAVAL DE VENEZA À ASSOCIAÇÃO MÉDICA BRASILEIRA

Contardo Calligaris, articulista da Folha, escreveu um inteligente artigo intitulado “Pra que servem as fantasias?” (Ilustrada, 23/02/2012, pág. E10). Começa pelo cheiro de mofo das fantasias malcheirosas de sua adolescência no carnaval de Milão, passa pelas máscaras narigudas do carnaval da Veneza antiga (foto), até abordar a ideia generalizada de que, com uma fantasia, e “com o impulso da cerveja”, libertaríamos nossos desejos libidinosos reprimidos.

Calligaris traz à luz um dado científico: enquanto o Ministério da Saúde continua advertindo contra tudo e todos nas campanhas milionárias de sempre, a Revista da Associação Médica Brasileira já havia publicado uma pesquisa (vol 56, N° 4, 2010), mostrando que no Carnaval, ao menos no que se refere ao quesito sexo, não acontece nada de muito diferente do que sempre, pois “não há aumento de doenças sexualmente transmissíveis nem gravidezes indesejadas”.

Calligaris conclui que “a ideia de que o Carnaval seja um momento orgiástico é apenas um sonho de sermos um pouco diferentes do que somos – ou seja, é apenas mais uma fantasia de Carnaval”. Em miúdos: fazemos estardalhaço condenando, naqueles três dias, aquilo que boa parte do povo faz permissiva e diuturnamente o resto do ano.

CONSERVATÓRIO DE TATUÍ DÁ BOAS-VINDAS A ALUNOS


Neste ano, o Conservatório inovou com 15 dias de concertos de boas-vindas aos novos alunos, antigos e seus familiares. Foram recebidos com música aqueles que deverão labutar por ela com dedicação plena, e paixão integral. No dia 16/02, a série foi aberta com a Banda Sinfônica, tendo como regente Dario Sotelo (foto acima: Kazuo Watanabe); dia 27/02, o Jazz Combo, sob a coordenação de Paulo Flores; dia 28, o Grupo de Choro do Conservatório, sob a coordenação de Alexandre Bauab Jr.; no dia 29/02, dobradinha: às 19h, a Camerata de Violões, tendo como coordenador Edson Lopes, e às 20h30 o Grupo de Percussão do Conservatório, pilotado por Luís Marcos Caldana. Por fim, no dia 1°, a Orquestra Sinfônica do Conservatório, com a regência de João Maurício Galindo.

No Conservatório, não há “trote”, apenas boas-vindas musicais em passo lento ou galope...