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sábado, 10 de agosto de 2019

GANHOU UM STRADIVARIUS QUE FOI DA NONNA?

Parabéns. Faça-o presente para um jovem estudante

Cremona
Antonio Stradivari (1644-1737) latinizava a assinatura no interior dos instrumentos: Antonius Stradiuarius. De Cremona, Italia, trata-se do plural de Stradivare, derivado de Stradivarto, variação Lombarda para Stradiere. Já a forma Strada averta, segundo o piemontês Artegiano, autor de uma lista de nascidos na cidade até o ano 1.300, seria, no dialeto cremonês, strada aperta - estrada aberta, em italiano. Nos assentamentos da Catedral de Cremona há registro do casamento de Alessandro, filho de Giulio Cesare Stradivari, e Anna, filha de Leonardo Moroni, que viriam a ser os pais de Antonio, em 30 de agosto de 1.622. (Sem comprovação, há dúvidas sobre a naturalidade de Antonio, segundo Mandelli, pois seu primeiro casamento, com Francesca Ferraboschi, foi registrado tendo-o como residente na paróquia de Santa Cecilia¹).
Karl Davidov
O mais famoso luthier de todos os tempos só encontra rivalidade em Giuseppe Guarnieri, ‘Del Gesù’ (1698-1744), preferido por alguns dos maiores solistas do instrumento, como Paganini e Vieuxtemps, devido ao som encorpado. Mas o mito Strad reveste-se de atmosfera mágica, com direito a lendas sobre um verniz secreto. Entre seus melhores violinos existentes, parte do total de 1.116 instrumentos, os mais valiosos têm pedigree. Levam o nome do primeiro proprietário, um nobre ou um virtuose. A isso se dedicou Toby Farber, relatando a origem, a vida e o percurso de cinco deles, os violinos Messias (‘o ungido’, em aramaico), o Viotti, que já pertenceu ao colecionador Gerald Modern, a quem visitei em São Paulo e me deixou examinar um Nicolò Amati, que é tido como um dos mestres de Stradivari. Toby também discorreu sobre o Kevenhüller, o Paganini, o Lipinski e o cello Davidov².
Messias, 'O Ungido'

Catálogo Christie's de 16 de maio de 2006: venda do 'Hammer'
Alguns instrumentos de Stradivari chamam a atenção pelos números estratosféricos atingidos nos leilões: em valores atualizados, R$ 17,10 milhões pelo ‘Hammer’, de que falarei mais adiante, em 2005; R$ 35,05 mi para o ‘Winton’, em 1999, e R$ 60,42 mi pelo ‘Lady Blunt’, em 2011, todos vendidos por leiloeiros famosos como Christie’s, Tarisio e Brompton’s. Mas o que faz desses instrumentos algo tão especial? Todos têm uma história, uma espécie de currículo: o primeiro possuidor, o ano em que foi criado, o estado de conservação e os grandes solistas que os tocaram.
Certificado de Rembert Wurlitzer
Essas raridades, para alcançarem preços monumentais, possuem certificados que podem custar 3% do valor estimado pelo especialista. Ou seja, a cada milhão de dólares, paga-se 30 mil. E no mercado de grandes violinos como os Strads não basta qualquer avaliador: só servem aqueles que podem conferir o certificado até a instrumentos que sequer possuem assinatura interna ou uma marca na voluta, extremidade do braço. Entre eles, Rembert Wurlitzer e Herrmann, um berlinense radicado nos EUA, de quem se conta que, enquanto atendia um cliente, viu Pinchas Zukerman chegar e abrir um estojo sobre o balcão, a dois metros dele. Exclamou: “desde quando você tem um Strad?” Foram grandes nomes como esses, além de Jacques Français, de NY, Bein & Fushi, de Chicago, William Moennig, da Filadélfia e Henry Hill, Inglaterra, os certificadores acreditados. Com dois ou três desses papers um Strad é genuíno para qualquer mercado! Só há um problema: esses especialistas estão todos mortos, não há mais palavra definitiva como a deles. (O ‘Hammer’, que mencionei anteriormente, tinha quatro desses documentos).
Etiquetas originais de Stradivari
Após tornarem-se frequentes as demandas judiciais, os leiloeiros, diante de instrumentos não bem documentados - e sem terem a expertise para certificá-los -, usam de artifícios, anunciando-os como ascribed to, attributed to (‘atribuído a’), probably by (provavelmente por). Assim, não correm o risco de sofrer processos milionários por venderem gato por lebre, ou, juridicamente falando, estelionato. Os valores dos instrumentos que não estão na lista especial dos registrados e certificados pelos grandes nomes não alçam voos mais altos. Quantos Strads passaram pelas mãos de Luigi Tarisio (1796-1854) e conde Cozio (1755-1840), dois dos maiores colecionadores e negociantes da história, donos de feitos espetaculares e lendários3?
Tabela de medidas violinos Stradivarius, ano a ano
As principais etiquetas e detalhes dos grandes luthiers foram catalogados por Lütgendorff4, assim como cada ciclo de instrumentos com as principais medidas e padrões Strad estão no livro de Hill’s & Sons (op. cit), fora muito que já foi escrito sobre o assunto. Existe ainda em Londres um laboratório com amostras microscópicas de pó das madeiras utilizadas por Stradivari e outros grandes autores, modelos para  formar uma espécie de ‘banco de DNAs’ comparativos das origens, o que torna basicamente impossível introduzir ‘novos Strads’ no mundo.
O 'Hammer': histórico e proveniência
São incontáveis as cópias tchecas, alemãs ou, com muita sorte, as do francês Jean-Baptiste Vuillaume (1798-1875), talvez o maior copiador da história, que, utilizando a chamada ‘forma francesa’, bem mais rápida, chegou a produzir 6 mil instrumentos. Portanto, se você ganhou um Stradivarius encontrado no porão da Nonna, não se entusiasme:  ele não é original. Deve ser um instrumento de pouco ou quase nenhum grande valor. 


(1 ) HILL, Henry, Arthur & Alfred. Antonio Stradivari, His Life and Work. NY: Dover, 1963.   
(2) FABER, Toby. Stradivarius. Trad. de Clovis Marques. Rio: Record, 2006              
(3) SILVERMAN, William A. The Violin Hunter. London: W. Reeves, 1972.                         
(4) LÜTTGENDORFF, Willibald. Die Geige und Lautenmacher. Frankfurt: Anftalt A. G., 1922.

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