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sexta-feira, 30 de setembro de 2022

"DINHEIRO, PRA QUE DINHEIRO?"

 

Adam Smith

O
Reino Unido divulgou, por meio de seu Banco Central (Bank of England), que as cédulas de dinheiro circulantes deverão ser trocadas por novas em agências bancárias: uma espécie de papel feito de um polímero do tipo que já foi adotado no Brasil. O prazo para troca é bastante curto, após o que cédulas de maior valor, de 20 e 50 libras, perderão a validade, somente podendo ser trocadas em bancos e agências de correios centrais. As de 20 libras trazem a efígie do ícone do liberalismo econômico, o escocês Adam Smith (1723-1790), enquanto as de 50 estampam outros grandes nomes do Reino, Boulton & Watt, dois engenheiros que criaram a firma de equipamentos para a Marinha e motores a vapor, ainda no séc. 18. O número de cédulas a serem substituídas ultrapassa 360 milhões, cujo valor total, hoje, é de seis dezenas de bilhões de Reais.


Como já era de se esperar, as cédulas com a efígie da rainha Elizabeth II também serão substituídas, mas em respeito ao luto oficial somente após certo período será feito o anúncio da data de troca da figura da monarca pela do rei Charles III, o que inclui selos para correspondências, estampas oficiais e afins. Atualmente, levam o rosto da rainha as notas de 5, 10, 20 e 50 libras, sendo que as de 20 e 50 existem tanto em papel quanto em polímero.


E
lizabeth II reinou por 7 décadas, daí seu rosto mostrar-se estampado em quase tudo. Há 4,5 bilhões de cédulas com seu perfil, significando 80 bilhões de libras esterlinas, que se espalham até países do Commonwealth britânico, como Nova Zelândia e Canadá. O perfil do rei Charles III estará no dinheiro em circulação, processo que demorará ao menos dois anos. O jornal Bloomberg News, da Nova Zelândia, azeda a afoiteza do reino, no que se refere ao seu país: “muitos anos se passarão até que precisemos introduzir moedas exibindo o rei Charles III, tempo suficiente para que as cédulas de 20 libras tenham se exaurido”. E há, por dizer assim, outros “britanicismos” exóticos: “enquanto o perfil da rainha vira para a direita nas moedas, o de Charles tornará para a esquerda”. E a razão é simples, continua o Bloomberg: diz a tradição que “retratos, quando um novo monarca assume o trono, terão sua direção alterada”.

Réis do Brasil Colônia de Portugal

T
rocar cédulas e moedas é cerimonial britânico, nação que o faz por motivos de sucessão no trono. O Brasil começou com o Real Português (R), conhecido como Réis, que vigorou por todo o período colonial, até 1833. Com o país independente, daí até 1842, com Pedro II, o Real Brasileiro (Rs), também Réis – a segunda mais longeva moeda brasileira, perdendo apenas para a cifra colonial, 303 anos – o Réis só deixou de existir após um século, em 1942, em pleno Estado Novo, dando lugar ao Cruzeiro (Cr$).  A sobrevida de notas e moedas passou a ficar cada vez mais curta. Veio o golpe militar, e pela mão de Castelo Branco, em 1964, o governo suprimiu os centavos, maneira de explorar o fator psicológico (mudança política, novo dinheiro, mais segurança, etc.), mas a experiência durou apenas dois anos. Em 1967, apenas três depois, ainda sob um inconstante Castelo Branco, uma suposta “salvação da Pátria”, o Cruzeiro Novo (NCr$). Com Garrastazu Médici, da linha mais dura, em 1970 ressurge um Cruzeiro diferente, com uma inflação já galopante: 110%. Em 1984, J. B. Figueiredo faz a sua experiência, retirando outra vez os centavos – jogada efêmera, murchou depois de um ano.


Devolvida a rapadura” aos civis, como se dizia, quem segurou o abacaxi foi José Sarney, em 1986, com o Cruzado (Cz$), cortando os centavos montado em uma inflação a galope rápido. Dois anos depois, em 1989, em uma tentativa desesperada de segurar o foguetório dos preços, Sarney traz o Cruzado Novo (NCz$), de vida ainda mais efêmera, só um ano. Pouco mais de dois meses depois de assumir a Presidência, em 1990, Fernando Collor traz de volta o antigo Cruzeiro (Cr$), só que em paridade de valor com o Cruzado Novo. Mesmo com sua empáfia de falso “Caçador de Marajás”, a nova moeda do jovem presidente durou apenas três anos. Depois do tombo de Collor, Itamar Franco, em 1993, começou a preparar a grande revolução monetária, com o Cruzeiro Real (CR$), antecipando a mudança espetacular que aconteceria a seguir: em 1994, após a URV como transição – um  sistema híbrido variável -, em 1º de julho, por intermédio de dois diplomas legais (Leis 8.880 e 9.069) finalmente surge o Real (BRL), que há 28 anos, após treze vezes na história, é a moeda atual.


O economista canadense John Kenneth Galbraith (1908-2006) foi um grande estudioso do dinheiro, desde a origem ao capital até os tempos mais modernos. A moeda – em metal, papel ou outro – tem longa história, de quando se trocava cabras por um cavalo – a troca, base de tudo! -, passando pelo uso do ouro e da prata, metais raros e, claro, de valor proporcional à sua pureza e peso. O Brasil não chegou ao desespero da hiperinflação do período entreguerras da República de Weimar, na Alemanha, que aconteceu entre 1921 e 1923. No final de 1922, a taxa anual escalou um apavorante bilhão por cento, foram cunhadas moedas de 5 milhões de marcos e cédulas feitas papel de parede! Caricaturas da época mostravam carrinhos de mão com pilhas de dinheiro para poder comprar um maço de cigarros.

5 milhões de marcos


Papel de parede


A história do dinheiro e do capital de Galbraith está na série A Era da Incerteza (The Age of Uncertainty), uma produção fabulosa disponível na versão integral ou em capítulos no Youtube. Recomendo assistir, trata-se de diversão prazerosa e uma aula inesquecível.



 

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