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sexta-feira, 9 de dezembro de 2022

PELÉ, ALEGRIA DO MUNDO

 


Para abrir a conversa, um lindo coral de Johann Sebastian Bach chamado Jesus bleite meine Freude (“Jesus permanece minha alegria”), adaptado séculos depois com uma linda e florida poesia por Vinícius e Toquinho como “Rancho das Flores, ou “Jesus, Alegria dos Homens”. Em 1962, o cineasta Joaquim Pedro de Andrade criou uma obra-prima, “Garrincha, alegria do povo”, documentário sobre o jogador Manoel Francisco dos Santos, o famoso Mané. Partindo deste filme mas pensando em Pelé, achei de escrever algo sobre “um dos melhores jogadores do mundo”, senão “o maior jogador do mundo”, aquele que é rei por aclamação no maior de todos os esportes. Garrincha subiu ao estrelato na Copa de 1958 e, por uma contusão de Pelé, em 1962, tornou-se o principal jogador da Seleção naquela copa. Não há como tecer comparações, são diferentes os tipos físicos, as histórias, os sete anos de idade entre os dois, fora o jeito indisciplinado do Garrincha e um jogo um tanto mais cerebral do Pelé – que, além disso, tinha um par privilegiado de pernas, verdadeiros canhões. Pois passando por Bach, Vinicius e Joaquim Pedro cheguei ao título deste artigo sobre Pelé, que já foi homenageado em projeções de led em prédios, como no Catar e NY, e com um imenso “camisão” no estádio de Lusai, aclamado como um herói de todos e para todos, abençoado por todos.

Estátua de Pelé em 3 corações

P
elé nasceu tricordiano em Minas – era de Três Corações, cidade que só por ele justificaria sua existência. Com quase 80 mil habitantes, Três Corações nos deu outros grandes nomes, como Godofredo Rangel, escritor e mentor literário de meu pai, Autran Dourado, o cineasta Braz Chediak (Navalha na Carne) e o ex-presidente Carlos Luz, que sucedeu Café Filho por apenas três dias. Ali se homenageia o jogador, como na Casa Pelé, uma réplica do lugar onde o Rei passou a infância, no endereço que leva seu nome: R. Edson Arantes do Nascimento nº 1.000 (lembrança do milésimo gol do Rei).

Kelly Nascimento e Pelé

Aos 82 anos, forte como um touro, Pelé já passou por um câncer no cólon e várias metástases. Mesmo com os melhores cuidados, o atleta passou a não reagir bem à quimioterapia, e teve a medicação suspensa. Entrou em uma fase que no exterior é chamada end-of-life care (cuidado de fim de vida), um nome nada encorajador, aqui chamado “cuidados paliativos”. Mesmo assim, no sábado, dia 3, Pelé postou em uma rede social que estava “forte”, e pode ser que ele se sentia mesmo assim. Já o Hospital Albert Einstein negou que Pelé esteja sob cuidados paliativos e informou que se comunicaria apenas por meio de boletins oficiais. Declarou ainda que desde a sexta-feira (2/12) o Rei estaria sendo tratado com antibióticos para uma broncopneumonia. Uma filha de Pelé, Kelly Nascimento, sempre que convém passa informações tranquilizadoras, se é que isso é possível, e diz que pretende estar no Brasil no fim de ano. No domingo, 4/12, disse que a infecção pulmonar seria decorrente da Covid-19. Um outro filho só trouxe desgosto ao Pelé por suas relações espúrias; houve ainda uma traumática rejeição de uma filha nascida de um romance fora do casamento, Sandra, reconhecida apenas por força de exame de DNA. Com as fofocas crescendo junto ao que hoje chamam fake news, o sucesso de Pelé era tão grande que despertava olhos de inveja e cobiça, dado ainda o status de grande empresário por ele alcançado no Brasil e no exterior.  

Com a Rainha Elizabeth

T
odo grande atleta ou artista, figuras públicas por excelência, tem sua vida devassada e escarafunchada por um povo sedento como na peça Roda Viva, do Chico Buarque. Pelé amargou ainda o preconceito por um relacionamento com a loiríssima apresentadora Xuxa, e de tão popular não faltou encontrar-se com os ex-presidentes norte-americanos Gerald Ford e Bill Clinton, a rainha Elizabeth e o boxeur Mohammad Ali. Participou de nove filmes e uma telenovela - Os Estranhos, sobre ETs -, e esteve com o Papa Paulo VI.


Não contente com essa visibilidade, chegou a compor (“Perdão não tem”) para uma gravação com Elis Regina (1969), entre mais de 120 outras músicas. Com violão e voz sofríveis, ainda gravou para campanhas da SPTuris “Olha lá São Paulo”, falando de 54 bairros da cidade. O Rei fascinou personalidades pelo mundo, e isso foi o que marcou o gênio do ídolo. Parece que poderia fazer o que quisesse, em qualquer arte ou atividade, que teria seu pedestal reservado. Quando ainda jogava, defendendo o Brasil, tinha cada gol festejado, celebrado, abrindo-se aos festejos de sua equipe e deixando a plateia, o time rival e o mundo inteiro boquiaberto. Era o “estado da arte” do jogo da pelota controlada com os pés – o “foot-ball” -, arte criada pelos britânicos. Já estamos em estágio mais avançado da Copa do Qatar, sabendo que os olhos de Pelé, de seu quarto no hospital, torcem com o mesmo vigor pela nossa esquadra: “Deus salve nosso gracioso rei / vida longa ao nosso nobre rei / Deus salve o rei! / (...) longamente para nos reinar / Deus salve o Rei!” E que demore muito ainda para ouvirmos ecoar os versos da substituição de Pelé, mesmo porque não haverá alguém à altura.


O
cineasta Pier Paolo Pasolini levara Pelé ao campo da arte, assinando “No momento em que a bola lhe chega aos pés, o futebol se transforma em poesia”, enquanto pela poesia disse Carlos Drummond de Andrade: “O difícil e extraordinário não é fazer mil gols, como Pelé, mas fazer um gol como Pelé”. Para rir: “Meu nome é Ronald Regan, sou o presidente dos Estados Unidos, mas você não precisa se apresentar, todo mundo sabe quem é o Pelé”.




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