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sábado, 11 de maio de 2013

É DIA DAS MÃES, EU RESOLVI LHE PERDOAR



Matéria do Mário Prata para o Última Hora
“Vou abrir a porta / mais uma vez pode entrar / é dia das mães / eu resolvi lhe perdoar. / Deus me ensinou praticar o bem / Deus me deu essa bondade / vou abrir a porta pra você entrar / mas não demore / que a outra pode lhe encontrar...”. É basicamente apenas isso a letra de Cuidado com a Outra, de autoria do Julinho da Adelaide, compositor de súbito sucesso nos anos 1970. O jornalista (e futuro autor de telenovelas) Mário Prata pediu permissão ao redator Samuel Wainer (dono do então importante jornal carioca Última Hora) para entrevistar o novo astro. Mas não havia fotos, contatos, nada. Por fim, ele descobriu que o autor dessa música e de “Acorda, amor” entre outras, era um outro. (Quanto à “outra” da letra, ficou apenas a insinuação).

Veto a uma letra de Chico que fala da Bolsa de Valores
O “outro”, no caso do Julinho da Adelaide, respondia pelo nome de Chico Buarque, compositor muito perseguido pela censura naqueles anos: hábeis açougueiros das artes passaram a vetar sistematicamente qualquer música que tivesse a assinatura do compositor carioca. Daí, surgiram Julinho e seu Cuidado com a Outra. Prata foi encontrar-se com o Chico, que lhe apresentaria Julinho da Adelaide. Na casa do compositor, o jornalista aguardou, até que desceu, segundo costa, o próprio Chico, a caráter de malandro de chapéu panamá e tudo, para se apresentar ao Mário Prata.


Dorival Caymmi
Dorival Caymmi, baiano verdadeiro (já que existe a “falsa baiana”), cantou para outra “mãe”, a de todos os baianos, a do Gantois: “Ai, minha mãe, Menininha do Gantois (...) / A estrela mais linda, hein / tá no Gantois / e o sol mais brilhante, hein / tá no Gantois / (...) e a Oxum mais bonita, hein / tá no Gantois”. Essa Oração de Mãe Menininha está impregnada da cultura afro-religiosa, como aliás toda a cultura baiana: “Olorum quem mandou essa filha de Oxum / tomar conta da gente e de tudo cuidar / Olorum quem mandou eô ora iê iê ô...”. Mãe Menininha de Gantois (1894-1986) foi uma Iyalorixá, filha de Oxum, e seu terreiro, mesmo após sua morte, continua na mesma rua em que morou (e que hoje leva seu nome, em homenagem). Veja e ouça Caetano, Dona Canô e Bethânia em coro cantando pela mãe de todos os baianos - Oração à Mãe Menininha de Gantois:



Caetano Veloso, conterrâneo de Dorival Caymmi, deixou casa e mãe para tentar a vida: “No dia em que eu vim-me embora / minha mãe chorava em ai / minha irmã chorava em ui / e eu nem olhava pra trás”. Dona Canô, mãe de Caê e Bethânia, deve ter sentido a dor de ver ir-lhe o filho, sem destino. Aliás, com destino sim, mas sem destino de vida algum na capital, partida também descrita por Dorival em “peguei um Ita no norte / pra vir pro Rio morar / adeus, meu pai, minha mãe / adeus, Belém do Pará”.

John Lennon
Já John Lennon, em uma de suas fases de redescobertas, crises e dúvidas, todas geradas durante seu relacionamento com Yoko Ono, cantou, em “Mother”: “Mãe, você me teve / mas eu nunca tive você / eu precisei de você / mas você não precisou de mim (...) / Mamãe não se vá / Papai, volte pra casa”. John Lennon foi abandonado pelo pai, mas, embora bem tratado pela mãe, Julia, pouco conviveu com ela – houve apenas um relacionamento frequente até a morte materna em um acidente de automóvel. Julia, título de outro sucesso de Lennon, está permeada de questões: “metade do que digo não quer dizer nada / mas eu o digo apenas para alcançá-la / Julia (...) / Quando eu não posso cantar meu coração / eu posso apenas falar com minha mente, Julia”.

Outra referência de Lennon à mãe seria em “Let it be”: “quando eu me encontro em tempos de apuros / Mãe Maria vem a mim / dizendo palavras de sabedoria / deixa estar”. Segundo alguns, talvez criando sobre a letra, a referência de Lennon à “Mother Mary” seria simplesmente à marijuana, maconha. Porém, com certeza, mesmo, provavelmente não há nada.

Michael  Jackson e sua mãe
Já em seus tempos mais divertidos, mais juvenis, junto a Paul, George e Ringo, o tema aparece com outra roupagem, em “Your Mother Should Know”: “Vamos todos nos levantar / e dançar uma canção / que foi sucesso antes de sua mãe nascer / apesar de ela ter nascido há muito, muito tempo / sua mãe devia conhecer / sua mãe devia conhecer”. Michael Jackson se aproveita de “Mother”, do Pink Floyd, e despeja sua infância infeliz e angústias na sabedoria que enxergava em sua mãe:“Mãe, você acha que eles vão despejar a bomba? / Mãe, você acha que eles vão gostar dessa canção? / Mãe, você acha que eles vão destruir meus testículos? / uuuaaa, mãe, será que devo erguer um muro?”.

Antonín Dvorak
Na música clássica, não faltaram declarações, e entre as mais emblemáticas está uma de Antonín Dvorak (1841-1904), “Canções que minha mãe me ensinou”: “... nos dias já esquecidos / muitas vezes de suas pálpebras / de onde lágrimas caíram. / Agora eu ensino meus filhos / cada compasso melodioso / muitas vezes as lágrimas flutuam / muitas outras elas escorrem / do tesouro da memória”. Recomendo esta gravação antiga com a voz impecável da diva Joan Sutherland:

Boêmia e Morávia (em laranja)
Dvorak, tcheco, apesar de ter morado nos EUA por quase dez anos, nunca abandonou suas fortes raízes: sua obra revela os traços claros da Morávia e de sua Boêmia natal. No caso dessas “canções”, a influência da música cigana das tribos locais sobre Dvorak é notável. E da cultura hebraica - claro, as judias são famosas por seu instinto maternal –, vem “My Yeddish Mother” (“Minha mãe judia”), com letra de Avi Koren:
“Minha mamãe judia  / eu preciso dela mais do que nunca / minha mamãe judia / eu gostaria de beijar aquela sombrancelha vincada / (...) e pedir perdão pelas coisas / que eu fiz para fazê-la chorar”. Uma versão linda e, claro, bastante fiel à melodia, foi gravada pelo grande violinista israelense 
Itzhak Perlman, com acompanhamento de orquestra:

De todos os credos, raças e origens, celebremos, hoje, dedicando músicas dos mais diversos gêneros a todas as mães do mundo!


 

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