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sábado, 22 de junho de 2013

QUEM DITA O VALOR: A ASSINATURA OU OBRA DE ARTE?


Chase Manhattan Bank
M
eu pai dizia que, se um dia ele fosse no Chase Manhattan Bank de NY para sacar dois milhões de dólares na boca do caixa, pediriam que aguardasse, e em poucos minutos lá estaria a polícia. Porém, se o Nelson Rockefeller ligasse para o banco dizendo que precisaria sacar dez milhões, bastaria aguardar o carro-forte do banco enquanto o presidente da instituição lhe faria uma visita, entre um belo uísque 16 anos e charutos. Pois bem, isso nada mais é do que uma alegoria sobre a assinatura do autor em uma obra de arte, ou o valor que um nome agregado a uma peça ou mesmo uma apresentação pública por uma superestrela.

Joshua Bell
N
ão faltam historietas reais: há uns seis anos, o jornal “The Washington Post” preparou uma brincadeira: levou o violinista Joshua Bell, um virtuose incensado por sua música e beleza juvenil, a uma passagem do metrô da capital, D. C., para, incógnito, tocar para os transeuntes. Dito e feito, Joshua abriu sua caixa de violino no chão do lobby, e, calçando tênis, jeans, t-shirt e um boné ao contrário, como qualquer moleque, sacou seu precioso Stradivarius raríssimo e se pôs a tocar obras solo de Bach, Paganini e outros grandes compositores (veja e ouça no link abaixo). Pois bem, depois de mais de uma hora, apenas uma dúzia de pessoas havia parado para ouvi-lo durante escassos momentos. Saldo final da “apresentação”, seu estojo de violino tinha recebido caixinha de... menos de parcos 20 dólares! Curioso: no dia seguinte, Joshua se apresentou no afamado Kennedy Center de Washington D.C., com a casa lotada por um público que pagou no mínimo U$ 150 para assisti-lo.


Partitura de 4' 33", de John Cage: silêncio
John Cage (1912-1992), compositor da vanguarda americana, é autor de uma inusitada obra conceitual: 4’ 33”. Durante exatos quatro minutos e trinta e três segundos o pianista (ou músico de qualquer instrumento) fica sentado, imóvel e em absoluto silêncio. Ao final do tempo marcado no cronômetro, levanta-se e se curva para agradecer os aplausos da plateia. Quando o 4’33” de Cage é executado, costuma ser bem aceito – afinal, trata-se de um dos maiores nomes da música do século 20.

Philip Glass
J
á as peças de um outro compositor badalado, Philip Glass (1937), representante maior da chamada corrente minimalista norte-americana, volta e meia apresentam sequências intermináveis de três ou quatro notas apenas, uma música repetitiva que bem serve para algumas partes das trilhas de certos filmes de ação. Também nesse caso vale o nome, e a obra vale o quanto pesa esse nome. (Veja e ouça abaixo o prelúdio do ato I da Ópera Ahknaten, de Glass).



Haydn
E
isso não é de hoje: veja que, no passado, o nome de Haydn (1732-1809), por exemplo, foi usado para vender obras que possivelmente ficariam encalhadas. O famoso concerto em dó maior para violoncelo e orquestra de Haydn tem um coro grande de especialistas que afirma que a peça não é de autoria do austríaco, apenas foi feita para ser vendida com o nome dele. Outros defendem que a obra é, sim, de Haydn. De um jeito ou de outro, prova-se, mais uma vez, que uma assinatura pode revestir uma obra de arte em ouro – ou, ao contrário, em quase nada, a depender da mão que a fez, assina ou executa.
Um Joan Miró

Quando a criança faz alguns rabiscos, riscos, borrões, a professora elogia, mamãe fica orgulhosa e guarda a “obra” no álbum do bebê. Porém, se um quadro de traços semelhantes (estou sendo radical, para ilustrar) aparecer no leiloeiro Christie’s com a assinatura do catalão Joan Miró (1893-1983), autor de obras que são ícones de várias correntes modernas da pintura, levando um certificado de autenticidade acreditado (reconhecido), pode alcançar uns belos milhões de dólares.

Um Jackson Pollock

Os lindos “borrões” do também norte-americano Jackson Pollock (1912-1936) poderiam ter saído de algum papel de jornal usado para limpeza dos pincéis (exagero mais uma vez, a bem da clareza). Mas são obras de Pollock, expoente do expressionismo abstrato americano, e enchem as galerias de curiosos e apreciadores. Eu, cá, adoraria ter unzinho que fosse.

O "Três Mulatas", do Di Cavalcanti, na feira
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ecentemente, um grande jornal de São Paulo resolveu fazer uma campanha para divulgar uma coleção de livros com obras de pintores brasileiros que passou a vender como promoção. Um autêntico Di Cavalcanti (1897-1976), “Três Mulatas” (1953), que hoje atingiria preços estratosféricos, foi estrategicamente disposto em uma barraca da feira de antiguidades e bugigangas da Praça Benedito Calixto, em São Paulo, à vista de estimados 7 mil passantes. Pois a tela “Três Mulatas” foi ignorada, não houve uma viv’alma sequer a se interessar! Porém, fosse uma exposição em museu com obras do consagrado autor, o mesmo quadro seria uma das estrelas, com certeza.

O "Contra Relevo", de Lygia Clark, recordista
E
m leilão promovido pela Philips em NY este ano, a artista plástica brasileira Lygia Clark (1920-1988) teve sua obra “Contra Relevo (objeto nº7)”, de 1959, vendida pela bagatela de R$ 4, 5 milhões, o mais alto valor pago por um trabalho de artista brasileiro em toda a história. Trata-se de um belo, porém simplíssimo quadrado, apoiado sobre um dos cantos. O quadrado é dividido em quatro quadrados menores e idênticos: um superior, um à esquerda e outro inferior, todos negros. O quadrado da direita, que ocupa ¼ do objeto, tem a cor branca. Se fosse trabalho de logotipo de um aluno de design, seria apenas isso. Mas não. A assinatura de Lygia Clark agregou o valor de suas preciosas mãos e currículo à obra, daí o peso enorme na composição do preço de venda, alcançado após acirrada disputa entre os apostadores.

Fernando Pessoa, por Almada Negreiros
Na literatura, o maior poeta português, Fernando Pessoa (1988-1935), adotava heterônimos, nomes que representavam personalidades distintas. Os mais conhecidos foram Alberto Caieiro, Álvaro de Campos e Ricardo Reis, mas quando Pessoa assina seu próprio nome a atração é focada no autor em sua forma mais autêntica: aquele nome “que na pia lhe foi dado”, diriam os patrícios portugueses. Até coisas singelas são coroadas de genialidade quando seguem o nome de Pessoa: “O mais que isto, só Jesus Cristo, que não entendia nada de finanças nem consta que tivesse biblioteca”. Até hoje moderna, a poesia de Pessoa fica ali, ali bem perto do altar do grande e velho Camões.

Camões

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