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sábado, 4 de janeiro de 2014

MÚSICA E PAZ NO ORIENTE MÉDIO - Paralelos e paradoxos

Daniel, criança
Tudo começou em um hotel em Londres, em 1990. Ara Guzelimian, armênia (já introduzindo a pitada multirracial a esta conversa) fez questão de apresentar dois renomados e importantes hóspedes: o maestro Daniel Barenboim e o crítico, ensaísta e ativista Edward Said (1935-2003). A família de Daniel, judia russa, emigrou para Buenos Aires, onde ele nasceu e iniciou sua formação musical. Com a criação do estado de Israel, para lá se mudou com sua família, mas em virtude da carreira de músico teve de viver em Londres, Paris, Jerusalém, Chicago e Berlim. Já Edward nasceu no lado ocidental da Palestina, mas foi criado no Cairo, Egito.

Paralelos e Paradoxos (SP: Cia. das Letras - Parallels and paradoxes – London: Bloomsbury, 2002) é o título de uma coletânea de transcrições de debates públicos onde o aspecto mais sutil seria a grande intelectualidade: falavam sobre política, sociologia, guerras, Oriente Médio e as causas judaicas e palestinas.  O prefácio é da mesma Ara Guzelimian. 

Said e sua irmã
Daniel e Said fizeram entre si paralelos, ambos vindos de famílias de estados em conflito, e paradoxos, saborosas discussões em que incluem música, política, religião e sociologia, tudo costurado por um fio musical recorrente, uma espécie do que na música chamamos “idée-fixe” (ideia fixa). Principalmente Beethoven, Wagner e o pensador Adorno.

Richard Wagner
Daniel foi o primeiro nome de vulto a reger no lado ocidental da Palestina (o “West Bank”). É dos mais frequentes regentes de Wagner (1813-1883) de sua geração, fazendo profissão de fé apresentar óperas do compositor em Israel, terra do povo judeu, na Alemanha atacado por Wagner em panfletos como “O Judaísmo na Música (“Das Judentum in der Musik”, 1850). O grande gênio alemão execrou Mendelssohn, nascido judeu, mesmo depois de convertido e adquirido um sobrenome cristão (Bartoldy). Wagner achava que todos deveriam abandonar o judaísmo e defender o estado germânico palavras que, no futuro. Ideias viriam a seduzir profundamente Adolf Hitler, que via em monstros sagrados do passado, como Wagner e o filósofo Friedrich Nietzsche (1844-1900) a arte saída do mais puro sangue gerado em terra germânica.

Goethe
Em 1999, Said e Daniel organizaram um concerto em Weimar, na Alemanha, como parte dos 250 anos de nascimento do grande escritor e pensador alemão Wolfgang von Goethe (1749-1832). A orquestra era composta por músicos árabes, judeus e alguns alemães. Goethe havia sido seduzido pela cultura islâmica, e conseguiu descobrir a riqueza da poesia persa, que lhe inspirou “Westöstlicher Diwan” (“West-Eastern Divan”, em inglês). Este título deu origem ao nome “West-Eastern Divan Orchestra”, a sinfônica formada e apadrinhada por Daniel, integralmente composta por jovens palestinos e judeus. Pois não é que, antes das inúmeras guerras e divisões, ambos povos nômades viram um menino nascer judeu e palestino, trazendo como missão dada pelo Pai crescer para salvar o mundo? Veja e ouça, abaixo, um concerto histórico de Barenboim, à frente de sua orquestra, jovens palestinos e judeus.


Guerra nas Bálcãs
Aqui no Brasil, no mesmo ano de 1999 em que Daniel quebrou preconceitos com um concerto em homenagem Goethe, em Mannheim, curiosamente lancei um pequeno livro (“Pequena Estória da Música”, Ed. Vitale, 1998) dividindo a festa com o colega da USP Osvaldo Coggiola, historiador, pensador, especialista em guerras e, muito mais, nos conflitos dos Bálcãs. Osvaldo lançava “Imperialismo e Guerra na Iugoslávia – Radiografia do Conflito nos Bálcãs” (SP: Xamã, 1999). Os fatos políticos da música, a sua relação com o poder desde sempre, levaram-me a fazer uma digressão sobre alguns momentos históricos relacionados à minha arte – claro, dentro de minhas limitações diante de Coggiola, que, em sua fala, surpreendeu-nos com uma sólida erudição histórica. Como havia poucos músicos, e o momento político era de efervescência nos Bálcãs – aliás, penso eu, será que em alguma época deixou de ser? -, foi uma conversa saborosa, mas com o gosto amargo de falar sobre qualquer massacre, qualquer guerra, qualquer destruição do homem pelo homem.

Milovic na ONU
Em 148 a.C, a Iugoslávia se desagrega do Império da Macedônia. Em 1091 a Croácia é conquistada pelos húngaros, em 1180 acontece a libertação da Sérvia, em 1200 é fundado o Reino de Bósnia-Herzegovina, em 1389 os sérvios são derrotados pelos turcos em Kosovo, depois a queda de Constantinopla, e são séculos de guerras, divisões, conquistas, até este preciso 1999, quando Milosevic finalmente jogou a toalha, aceitando o plano de paz proposto pela OTAN-ONU. Desde 148 a.C., foram mais de dois milênios de conflitos.

Bálcãs é palavra que vem do turco, e quer dizer montanha. É uma vasta região, palco de conflitos enormes e alguns de grande duração. Mas  o que teriam em comum a região das Bálcãs e a disputa Israel-Palestina, um ódio cujo fim o trabalho de Daniel Barenboim e Edward Said tenta promover ensinando a todos os jovens o sonho da convivência por meio da música? (Seria apenas uma semente, mas sem plantio não se colhe). Os Bálcãs são uma região absolutamente estratégico para o óleo da OPEP, cercando toda a área petrolífera. 


Nasser
Pois que todas os últimos conflitos - falando de forma genérica – desde a 1ª Grande Guerra, e a maior parte das guerras pelo mundo não tiveram como pano de fundo o precioso óleo? Desde antes do bloqueio do Canal de Suez por Nasser (1956), envolvendo interesses de todos os cantos do mundo, isolando o porto israelense de Eilat, impedindo o acesso do país ao Mar Vermelho. Foram criadas as Forças Internacionais de Paz da Onu (Peace Forces), que com orgulho inclui o Brasil (o chamado Batalhão Suez) e outros países. No futuro, com outras fontes seguras e renováveis de energia, quem sabe, o homem terá mais esperança de paz e um mundo menos poluído? Feliz 2014!

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