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sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

CHARLIE

Um café da antiga Montmartre
“Paris é uma festa”, disse Hemingway. No passado, reunia-se em cafés e bistrôs na Montmartre  ‘la crème de la crème’, a nata dos intelectuais e artistas. Toulouse Lautrec, Stravinsky, Picasso, Dali, Chopin e sua esposa, George Sand (pseudônimo masculino de Aurore Dupin, que se vestia com roupas de homem). Tomavam do melhor cafezinho ao letal absinto (70º Gl). Era a efervescência cultural que surgiu nos ecos do iluminismo e da revolução (1789-1799).

A tomada da Bastilha, óleo de Pierre Roueff
A derrubada do regime monárquico foi conquistada à custa de muito sangue. O território da França (estado declarado apenas em 843), ao longo de milênios, foi palco de dominações, invasões e guerras. Frases do hino (marcha militar, na verdade) ‘A Marselhesa’, composto para a tomada da Bastilha (1789) cantam "a bandeira sangrando erguida" e "o sangue do inimigo há de fertilizar o nosso solo".

O 'topless' em praias francesas
Na França, há muito tempo o ‘topless’ é comum nas praias; lá, surgiram o  biquíni (1946), e o monoquíni (de 1964, EUA), maiô de peça única que deixava os seios à mostra. Como em outros países da Europa, é comum ver homens e mulheres trocarem-se em público na praia.

Dani, "o vermelho", em foto da época
1968 foi o ano de outra (breve) revolução. À frente o líder Daniel Cohn-Bendit  - “Dani, o vermelho” -, os estudantes chegaram ao poder, sob certa complacência do governo diante da expectativa de fracasso, tomando a capital e deixando o ‘poder’ em 24h. (Belo depoimento é o livro ‘Nós que amávamos tanto a revolução’, do mesmo Cohn-Bendit, hoje um político de ideias que contradizem seu passado e às vezes francamente reacionárias).

Capa de edição do Libération
Jornais como o “Libération” (1973), disseminavam ideias revolucionárias, e o país por muito tempo ditou modismos e a moda mundial (com Coco Chanel e Saint-Laurent, entre outros). No cinema de arte, eram ícones os festivais de Cannes e cineastas como Godard e Resnais, movimento renascido no Brasil como ‘Cinema Novo’.

Mais uma vez, corte para outro cenário. Nenhum livro sagrado das grandes religiões monoteístas declara ódio a outras religiões, todos são unânimes na pregação do amor e do culto a Deus. O Antigo Testamento e os Evangelhos, o Corão islâmico e o Torá judaico pregam-nos de forma semelhante. Contudo, certas irmandades terroristas islâmicas e setores radicais de Israel preparam ‘espaçonaves, guerrilhas’ (obrigado, Caetano!) e ataques contra os que divergem de suas ideias e seu poder. Mas o ódio não está nos livros sagrados nem nos diversos povos, está nos fanáticos do fundamentalismo radical, que leva terroristas a se suicidarem para massacrar inocentes.

Prof. Dr. Osvaldo Coggiola, em palestra na USP
O historiador Osvaldo Coggiola, titular de história da USP, publicou um pequeno livro que traça a história de vários conflitos e remete à origem maior de quase todas as guerras desde o início do século 20: o petróleo, fonte esgotável de energia que tudo indica será relevada a segundo plano em algumas décadas. Disse o Marx pensador: quem detém o poder econômico detém o poder político. E fontes alternativas de energia alterarão essa configuração.


[Nenhum livro sagrado prega o ódio e o terror. Bem escreveu Machado de Assis, no capítulo ‘A Ópera’, de Dom Casmurro: “Deus compôs a partitura, mas quem rege é o diabo”. Cada vez mais radical, o terror executa sua ópera de massacres e crueldade.]




Capa de edição do Charlie: versão 'light'
Novo corte: em cena uma publicação libertária, o semanário Charlie Hebdô (criado em 1970, com o apoio de Sartre), com excelentes cartunistas, como Wolinski e Gebé, de fama mundial. Caricaturas atiçaram ataques de grupos terroristas islâmicos (o primeiro, uma bomba incendiária sem vítimas, em 2011), levando-os a cometer o que esses radicais consideram sacrilégios contra Maomé, que na visão deles é mais do que Deus, é um ídolo intolerante e impiedoso.

O Papa, também em versão 'light'
E assim também Charlie fez troça do judaísmo e do catolicismo e seus líderes, entre outros. Terroristas atiçados acenderam seus pavios, e recentemente assassinaram 12 artistas em um atentado à sede do Charlie - e de quebra um ataque a um mercado judeu, espalhando mais uma vez medo e terror pelo mundo. (Interessante é lembrar que o Charlie surgiu de outro periódico do gênero, Hara-Kiri, fechado após pilhérias sobre a morte de outro Charles, o De Gaulle. É que na França pode-se tudo, menos fazer troça de seus heróis!)

Nossa Constituição assegura, em seu artigo 5º, o respeito aos direitos e garantias individuais. Ali se dispõe que é livre “a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato”, e garante a “indenização por dano material, moral ou à imagem”. A liberdade de expressão e manifestação não ampara ofensas e humilhações.


A Constituição assegura a livre manifestação artística, resguardados os direitos individuais, caminho que vem sendo construído lentamente, engatinhando rumo ao seu fiel cumprimento. O respeito a diferentes raças e credos é indissociável do Estado Democrático. A ladainha repetida nas redes sociais de que “caneta (cartum) não mata” serve para “épater la bourgeoisie” (chocar a burguesia). Mas a caneta fere, sim, de humilhação, danos pessoais, profissionais e à família, e até mata por depressão.

"Eu tive um sonhio": Martin Luther King, J. 
A ‘caneta’ é tão poderosa que assinou todos os documentos históricos, desde os principais discursos, como o  “Gettysburg Address”, de Lincoln, e “Eu tive um Sonho”, de Luther King, declarações de guerra, independência e condenações à morte. Ela assinou a histórica  carta testamento de Getúlio e um patrimônio da humanidade, o testamento de Heiligenstadt, de Beethoven.


O grande maestro judeu Daniel Barenboim (esq.) e o Palestino Edward Said,
criadores da East-Western Divan Orchestra, formada por jovens palestinos e judeus
Sou pelo caminho da paz, apoio Israel e a criação do Estado Palestino, assim como o Islamismo, o Judaísmo e todas as religiões surgidas no amor e na paz; recrimino a pena de morte e todo tipo de terrorismo. E não me rendo ao modismo que vê charme na liberdade espalhafatosa que a França permite. Ofensas até pornográficas a religiões violam direitos humanos (de cuja declaração universal a França foi um dos principais idealizadores) e colocam em risco a paz mundial. Por fim, o ódio e toda organização fundamentalista de terror devem ser combatidos até o fim. Amo os franceses, "mais Je ne suis pas Charlie”.

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