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quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

EM NOME DE DEUS

Karen Armstrong, autora de The Battle for God (A Batalha por Deus) é uma pesquisadora especialista em religiões, com ênfase especial para “o fundamentalismo no judaísmo, no cristianismo e no islamismo”, subtítulo do livro que peguei emprestado para este artigo (SP: Companhia das Letras, 2001. A publicação parece esgotada, mas existe em e-book). Karen é inglesa, OBE (Ordem do Império Britânico, alto título honorífico do Reino Unido) e entende do riscado: foi freira, mas decidiu trocar o convento pela Oxford University, entregue ao seu obcecado estudo das religiões, mantendo a fé cristã.

Karen (esq.) e religiosos
Com seu “Uma História de Deus – uma pesquisa de 4.000 anos de Judaísmo, Cristianismo e Islamismo” (1993), a autora aprofundou-se nas três grandes religiões monoteístas. Respeitada scholar, transita muito bem entre Budismo e Hinduísmo, ora pesquisando e palestrando sobre o judaísmo em Israel, ora no Concílio Religioso Islâmico em Cingapura. Lecionou em escola de formação de rabinos, passando a ser uma sumidade bem-vinda em todas as religiões.

Massacre em mesquita no Canadá, 30 jan 17: seis mortos
Matéria de uma edição da revista Veja da época do lançamento - em uníssono com várias outras resenhas - considerou Karen uma das principais autoridades sobre a história das religiões monoteístas e o fundamentalismo, que, com seus ‘braços armados’, “fuzilam devotos dentro de mesquitas, matam médicos em clínicas de aborto, assassinam presidentes e até derrubam governos”. E mais: “democracia, pluralismo, tolerância religiosa, liberdade de expressão, separação entre Igreja e Estado – nada disso lhes interessa”. A frase aparece em inúmeras resenhas sobre o livro, ilustrando o fanatismo e suas funestas consequências. É o mais importante depoimento que li sobre o assunto, e sua abrangência vai muito além das sinagogas, mesquitas e igrejas, chega ao âmago da origem e fonte dos radicalismos.

Bush piloto de caça
George Bush era ligado a alguma ala paralela da Igreja. Não seria surpresa se ele tivesse ligação com o Opus Dei, que de seu prédio milionário dos EUA preparou um golpe na Venezuela, para tentar guindar à presidência do único país da OPEP fora do Oriente Médio um dos barões do petróleo. O golpe durou dois dias. Antes de prosseguir com o Opus, cabe aqui lembrar que o próprio Bush pai - a confusão mental e o fascínio por seitas para-religiosas vêm de família! - já era aconselhado por seus assessores a separar Igreja e Estado, e que aquela espécie de proto-igreja com jeito de capela dentro da Casa Branca começava a lhe render problemas. Concordou, e passou a andar com a “separação entre Igreja e Estado” na cabeça. Certo dia, em discurso em Ohio, Bush pai, perguntado sobre a queda de seu caça da Força Aérea, quando foi obrigado a saltar de paraquedas e inflar um bote para aguardar salvamento, respondeu sobre o que lhe passava na cabeça naquele momento. Aproveitou a deixa e disse que pensava nos pais, nos filhos e... “na separação entre Igreja e Estado”! (MILLER, MARK. The Bush Dyslexicon. NY: WW Norton, 2001). Mark Miller fala abertamente sobre a dislexia dos Bush e seu envolvimento com o fundamentalismo.

O Opus Dei foi criado em 1928 pelo Pe. Josemaria Escrivá de Balaguer, com o apoio do ditador espanhol Francisco Franco, que via a oposição juntar-se à Maçonaria. Muito mais tarde, Paul Marcinkus, arcebispo-presidente do Banco do Vaticano (de 1971 a 1989), que havia se tornado um antro de corrupção, quebrou o caixa. O Opus saiu em socorro com o Banco Ambrosiano, e sufocou o rombo e o escândalo da Santa Sé. Em troca, foi entronizado o Papa Paulo II, polonês de perfil bem dócil, que criou a única Prelazia Pessoal do Vaticano para o Opus. Beatificou e canonizou Josemaria Escrivá, fundador da organização, no recorde de dois anos. Sucedeu Paulo II outro Prelado, J. Ratzinger, o Bento XVI, criacionista que condenou veementemente o jesuíta Pe. Teilhard de Chardin (1888-1955), autor de O Fenômeno Humano, já censurado pelo Vaticano décadas antes, por crer na possibilidade de convivência entre evolução, ciência e Fé. Bento XVI condenou as ideias de Chardin, pensador cristão benquisto no mundo inteiro.

"Papa Francisco 'remenda' o Banco do Vaticano, destruído por escândalo"
Com a sagração do Papa Francisco, após a renúncia de Bento XVI, começou-se a conter mais uma onda de corrupção no Banco do Vaticano. Francisco demitiu o novo presidente, tratou da saúde da instituição e se abriu para o mundo, tornando-se o maior líder religioso dos últimos tempos. O Banco se equilibrou graças a Francisco, e tudo dentro da maior discrição possível. Mas o Opus permaneceu presente no mundo, pois não há como combatê-lo, uma vez que prega um conservadorismo exacerbado, mas dentro da Fé.

Estamos à espera da indicação de um novo ministro para o STF, e o presidente do TST, Ives Gandra Martins Filho, é forte candidato. Contudo, enfrenta resistências dentro e fora da Corte, apesar do apoio declarado de gente graúda. Ives é casto e celibatário, do alto de seus 62 anos, e contra o aborto - mesmo em caso de ameaça à vida da mãe ou da criança –, pesquisas com células-tronco, união civil, pílula anticoncepcional e divórcio. Um peixe fora d’água em várias decisões técnicas do STF.

O Prelado do Opus no Brasil, o jornalista e dono da Cásper Líbero, ligada à Universidade de Navarra (financiada pelo Opus), é Carlos Alberto Di Franco, também celibatário e declaradamente adepto do cilício – prática medieval que consiste em atar uma espécie de corrente de aço com espetos ao redor da perna durante uma hora diária para lembrar o sofrimento de Cristo.

No mundo de hoje, com Trump, Brexit, EI e tantos outros, grassa o fundamentalismo, representando um retrocesso radical (ou belicista) jamais visto. Esperemos que logo a tendência tenha um fim, e prevaleça a verdadeira obra de Deus.


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