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sábado, 31 de julho de 2021

CHRISTINA AGUILERA, O INFERNO E A COVID

 


Christina Aguilera é uma premiada cantora norte-americana. Nascida há 41 anos na ilha de Staten, cujo acesso se dá por barco ou ponte a partir do Brooklin, em Manhattan, tem mais de 75 milhões de CDs vendidos e rivaliza com a texana Britney Spears, da mesma idade, ambas perfilando ombro a ombro com a também texana Beyoncé.

Dante, por Micheline Duomo (1465)

Só conhecia Aguilera de nome, nunca comprei sequer um CD dela, apenas ouvi alguma coisa aqui e ali. Mas então por que lembrá-la, se me é tão pouco familiar? Foi em um sonho de uma noite de inverno, 22 de julho, em que ela ora meio que se perdia entre as pessoas nas ruas de algum lugar, ora conversava comigo apenas com sorrisos, não me lembro se balbuciou uma palavra sequer – meio clichê de sonhos, isso, não? Acordei questionando o porquê de Aguilera ter surgido num sono dos mais profundos, se meu conhecimento dela é tão pouco. Ao passar pela sala, de manhã, vi que havia deixado sobre a mesa um livro que recebi de um sebo virtual: o volume Purgatorio, de La Divina Commedia, de Dante Alighieri (séc. 14), edição de 1963. A associação entre os sobrenomes Alighieri e Aguilera foi imediata, o sobrenome virara anagrama na sopa de letrinhas conectada ao meu inconsciente.


Comprei o Purgatorio e também não sei explicar direito o motivo, além de já ter o Inferno. Sem querer, sem Freud e sem Jung, penso que queria sair do Inferno para o Purgatório (e depois rumo ao Paradiso?). Não me precipito, chegarei à Covid oportunamente, mas preciso antes refletir sobre um trecho de Inferno, Canto I, que usei na introdução de um livro meu, há muitos anos, ajudado com a interpretação de um colega, professor de Literatura Italiana da USP (Dante foi o precursor do idioma italiano, ou digno do título por excelência). “O dia mal nos deixava e o ar cinzento cobria os animais que estão na terra (...) E eu era um que me preparava para empreender a guerra, pelo caminho” - a razão, explicou o colega – “e pela piedade” - o espírito. “Ó musas, Ó alto engenho, Ó, ajudai-me. Ó mente que escreveste o que eu vi, aqui está a tua nobreza”. (Um dia recitei do original este trecho para uma italiana de Milão, e ela, emocionada, lamentou-se: “meu Deus, o que fizeram com a nossa língua?”, referindo-se ao italiano moderno, como talvez um de nós fizesse ao ouvir Camões no original).


Na guerra que me preparei para empreender, e aqui me refiro à da Sars-Cov-2, a maldita Covid, sigo os protocolos da OMS. E, duas vezes convocado, recebi as doses da bendita vacina, desta vez associando-a a vecina - vizinha, em italiano - por uma frase homérica de “Investigação sobre um cidadão acima de qualquer suspeita”, filme de Elio Petri de 1970, auge da repressão contra os movimentos populares: Repressione è nostra vecina. Repressione è civiltà! (“Repressão é civilização!”), para delírio da plateia de policiais na cena. E arrepios nossos.

A Delta

Sem mais associações, volto à guerra, o inferno sanitário para o qual estávamos despreparados e que já passou por ao menos cinco letras do alfabeto grego - andou por variantes denominadas Alfa, Beta, Gama e agora Delta e Lambda. Se saltou Epslon não sei, mas enfrentaremos provações enormes. A Delta é a que mais apavora neste momento, ainda mais quando uma das vacinas já se mostra fraca diante dela. Não sei do rigor desta informação, segundo a qual o produto de certo laboratório oferece pouca resistência à nova cepa, então não declino a origem do produto no varejo, melhor fazê-lo no atacado: o geneticista Renan Pedra, da UFMG, diz que “imunizantes contra a Covid continuam protegendo contra casos graves, mas a cepa aumenta risco de infecção”. E prossegue: “Transmissão da variante Delta é maior inclusive entre vacinados”. Na edição de 22 de julho, o The Times of Israel noticiou que ela é responsável por 90% dos novos casos de Covid no país, e a mesma proporção é esperada para a Europa inteira, segundo a DCA da União Europeia (Euronews, 24 de junho). Nos EUA, segundo o CDC, em apenas 2 semanas o aumento do número de infecções foi de 121%, em grande parte creditado à Delta.




É inevitável que a nova cepa chegue com força no Brasil. Mas se Israel, EUA e UE não estão preparados, o que será de nós? (Ainda que tenhamos uma vantagem, um handicap nesta infeliz olimpíada: estamos entrando na arena com precioso atraso). Para evitarmos lockdowns, desabastecimento e pânico, é preciso remar contra a maré com inoculação e esclarecimentos em massa: parte da população sequer leva a sério a segunda dose e outra até mesmo as vacinas. Mal informada, não lê jornais; outros só ligam a TV depois da novela, encerrados os telejornais, horário do jantar.

(G1 Globo)

Muitos já tiveram Covid e por isso se acham protegidos: andam sem máscara desafiando decretos e leis, sem mesmo saber que é possível serem reinfectados, conforme esclarecem cientistas e mídia do mundo inteiro; promovem e frequentam sem proteção festas clandestinas de até 4 mil pessoas; buscam nas praias lotadas o sol quente de que fomos privados por castigo da natureza e vestem armaduras imaginárias dizendo até que a cachaça “mata o bicho”. Por fim, é esta população que vai determinar, em rebanho, o dano que a Delta vai trazer. Soluções laboratoriais, ao menos pelo pouco que se pode vislumbrar, ainda estão longe de se concretizarem, e, pior de tudo, há o estímulo perverso dos maus exemplos, cidadãos machistas autoproclamados atléticos. Nesse ritmo e despreparo, tão cedo não rumaremos ao purgatório, só será possível empreendermos a guerra pelos duros caminhos racionais e do espírito de que nos falou Dante Alighieri.

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