LIVROS

LIVROS
CLIQUE SOBRE UMA DAS IMAGENS ACIMA PARA ADQUIRIR O DICIONÁRIO DIRETAMENTE DA EDITORA. AVALIAÇÃO GOOGLE BOOKS: *****

sábado, 2 de março de 2013

AS PREDIÇÕES SECRETAS DO ABADE DE CHAALIS



Michel de Nostredame
Era comum, especialmente em tempos de Idade Média, religiosos e estudiosos dedicarem-se à filosofia, astronomia,astrologia e mesmo predições e ocultismo. Dos autores, o mais incensado é Nostradamus, cujas predições (e nunca profecias) servem para explicar tudo sobre nada, uma vez que traduzido a partir do francês arcaico, grego, latim e provençal originais para o francês moderno e daí para o inglês e o italiano, até chegar ao português cria-se uma Babel ocultista, conectada às predições catastróficas que andam grassando pelas redes sociais. Outro belo escrito é The Cloud of Unknowing (A Nuvem do Desconhecimento), de um monge beneditino inglês do século 14 que cuidou de se manter anônimo, livro que no Brasil já no título foi traduzido equivocadamente para o português: “A Nuvem do Não Saber” (SP: Ed. Paulus), na verdade um manual de meditação e contemplação escrito para iniciados.
Manuscrito do Abade de Chaalis
Mas vamos para a França, Ordem de Cîteaux, pontificado do Papa João XXII, no mesmo século 14. O Abade de Chaalis (povoado que hoje tem apenas 320 habitantes), na região da Picardia, embora divulgasse seus manuscritos, a um deles reservou segredo, mantendo o original escondido, temendo a Inquisição instalada duzentos anos antes em Langedoc, no sul da França. Esses originais foram encontrados no século 19 por Pierre Louis Rabbath, um pesquisador do Loire que teve a sorte de poder copiá-los manualmente, antes que os originais viessem a desaparecer anos depois. Mas vejamos como tomei conhecimento desses textos de riqueza extraordinária, e cuja “tradução” para o francês moderno me foi ditada por um filólogo da Sorbonne que tive o prazer de conhecer em uma viagem à França, há uns bons anos.
Cimetière de La Gervais
Estava em Paris. A passeio, e por simples hobby genealógico, fui ao Cimetière de La Gervais, no Departamento de Isère, coisa de 20 minutos de Paris, em busca de certa Adèle Autran, falecida em 1784, talvez o mais antigo registro de parente que pude encontrar. Fotografei o túmulo da distante ancestral, e ao sair da viela para a ala principal cruzei com um casal de pesquisadores, Jean-Marie e Therèse, e logo eles se apresentaram. Os parisienses tinham uma prosa das mais interessantes que pude ouvir em vida. Jean relatou-me sua pesquisa sobre os manuscritos do Abade de Chaalis e, como iam para aquele vilarejo na Picardia, convidaram-me para acompanhá-los.

Ruínas da Abadia de Chaalis
Era o inverno de 1987 e fazia muito frio no norte; assim mesmo, no dia seguinte pegamos o trem e chegamos depois de longa viagem e muita conversa. Fomos à Abadia, sob muita neve, e Jean revelou-me que tinha copiado de punho (o neto de Rabbath, que tinha a posse do material, não permitiu cópias reprográficas) vários trechos do manuscrito Du Traité des Prédictions (Do Tratado das Predições), do Abade, tema do pós-doutorado de Jean na Sorbonne II. Pedi-lhe para fazer anotações de alguns trechos, no que gentilmente acedeu. 
Reli minhas notas no voo de retorno ao Brasil, e achei trechos extraordinários, e agora se torna oportuno revelá-los. Ora, vejamos: “O homem se esconderá em pele animal, e transformado em besta tentará devorar seus irmãos e dominar o grande continente (N. do A.: a Europa), destruindo os que não lhe dividam o sangue com seu sangue”.
Bomba sobre Hiroshima
Mais: “A fúria do animal somente estancará ante o poder de um artefato com a força de um astro que cai do céu, um engenho mais destruidor do que um batalhão de catapultas, que causará mais mortes do que a mais negra das pestes” (claro, o Abade falava em Hitler e Hiroshima). E segue: “Uma vida depois (N. do A.: a conta de uma vida média de uns 50 e poucos anos, no pós-guerra, nos levaria ao final do século 20), o grande templo verá 8 soberanos de longos e curtos reinados.
Ao próximo, o 9º após 100 anos findos, caberá domar a ameaça das trevas, e devolverá a flâmula encarnada do escaravelho” (N. do A.: o estandarte vermelho papal (foto abaixo), cujo brasão central lembra o inseto). “E ele jogará as contas no tabuleiro, para que os novos caminhos sejam decididos por alea (dados)”. (N. do A.: aqui Jean-Marie usou promenades, passeios, mas parece que o melhor em português seria mesmo “caminhos”).
A "flâmula encarnada do escaravelho"
Sem alucinações, é claro que os 8 soberanos são os 8 papas do século 20, uns de pontificado curto, como João Paulo I, e outros de trajetória mais longa. “Jogar as contas na mesa do jogo para que os dados decidam” é tarefa que caberia a Bento XVI, o de número 9, virados 100 anos, contabilidade que também parece bastante óbvia. “O astro primeiro (a Terra, na visão geocentrista da época) não será arremessado às trevas, e menos mortes se sucederão a cada guerra”. “Grandes ‘étoilants’ (N. do A.: corpos celestes) não cravejarão o solo criado para o homem plantar e colher”, indicando que nenhum fenômeno celeste interferirá na vida sobre a terra.
Pois bem, leitor, vou pedir licença e mil desculpas. Os dados deste texto são rigorosamente corretos, os locais existem, o Abade de Chaalis existiu, mas os manuscritos, as previsões, Adèle Autran, Jean-Marie e Thèrese, Rabbath e essa viagem... nunca existiram. São pura invencionice minha. Explico. Tenho recebido na rede social da Internet traduções e interpretações hilárias das predições de Nostradamus, ou Michel de Nostredame (nome original), nascido em Saint-Rémy-de-Provence três séculos depois do “meu” Abade. Alguns textos postados e suas respectivas interpretações, compartilhadas e reproduzidas como coelhos insaciáveis, são de morrer de rir. Uma delas fala de Czares e Roma. “O homem forte de Roma cairá...”, como se o Papa Bento XVI fosse homem de Roma, e não do Vaticano. Em meu e-book, tenho duas versões (bem mais confiáveis do que essas traduções de terceira mão de Nostredame para o português). Uma delas é a de Mario Reading, em inglês, e a outra é uma bem antiga italiana, autor desconhecido. Referências a Roma, Rome, Czar ou Tzar não existem nesses textos. Quando muito, falam em romanos.
A dança dos "vampiros" de Polanski
Recentemente, houve um debate sobre a obra de Paulo Coelho, “escritor mago”, a quem eu reputo como não sendo nem uma coisa nem outra - apenas uma leitura ligeira, quando muito, diversão para quem gosta. Com alguns dados na mão, estudiosos – inclusive de magia, vampirismo e coisas afins – tiraram o Coelho da cartola, mostrando como se cria ficção a partir de dados existentes e sem aprofundamento algum, para vendê-la como mitologia e verdades herméticas, assim como nessas linhas passadas eu brinquei de tentar iludir (pela primeira e última vez). Aliás, gosto sim de vampiros: “O Vampiro de Curitiba”, livro de contos de Dalton Trevisan, M, o Vampiro de Düsseldorf, filme histórico de Fritz Lang (1931), e O Caçador de Vampiros, de Polanski (1967). São bruxarias que valem a pena.


Nenhum comentário:

Postar um comentário