LIVROS

LIVROS
CLIQUE SOBRE UMA DAS IMAGENS ACIMA PARA ADQUIRIR O DICIONÁRIO DIRETAMENTE DA EDITORA. AVALIAÇÃO GOOGLE BOOKS: *****

sábado, 9 de março de 2013

TRISTÃO E ISOLDA, DAS MAIS LINDAS HISTÓRIAS DE AMOR


(200 anos de nascimento e 130 da morte de Richard Wagner)

Richard Wagner (1813-1883) foi um compositor de espírito alemão por excelência. Carregava na bagagem toda a vasta literatura e filosofia germânica, e em especial o que de melhor existe na música. Foi um músico venerado por muitos, odiado por outros tantos, além de ter sido um literato respeitado, um artista completo. Assumiu posições radicais que o levaram, por tempos, a abraçar o vegetarianismo, o antissemitismo e atacar nomes como Felix Mendelssohn, compositor judeu convertido ao Cristianismo, assim como Meyerbeer, alvo principal do panfleto Das Judentum in der Musik (O Judaísmo na Música).
Cosima e Wagner
Gênio extremamente confuso - para não dizer um tanto quanto louco -, em suas longas óperas o compositor tratava de casos de amor tão intricados quanto aqueles que viveu em sua intensa vida pessoal. Wagner manteve um romance com Cosima, filha do grande virtuose do piano Liszt, que, adoecido, não percebeu que um “contratema” se desenrolava nos bastidores da ópera particular e sem título do coração de sua filha.
Hans Von Büllow
Cosima era casada com o grande regente Hans Von Büllow, mas acabou se apaixonando por Wagner, e dele deixou-se engravidar. Büllow, marido de Cosima, foi o primeiro regente não-compositor, à maneira da maioria dos profissionais nos dias de hoje. Ironicamente, Büllow era grande admirador de Wagner, cujas óperas regeu diversas vezes. Pois até com o maestro já doente, fervia o caso amoroso de Wagner e Cosima, aventura de alguns meses até mesmo sob o teto dos próprios esposos.
Tristão e Isolda, que tem libreto em alemão e música integralmente criados por Wagner, é um drama a que ele chamou “Ação Musical em Três Atos”. Foi estreada em Munique em 1865, sob a batuta de ninguém menos do que o próprio Von Büllow, marido de Cosima. Muito apegado às histórias e estórias das mais diversas e remotas origens, Wagner, nesta ópera (como em outras), penetrou no rico universo das lendas célticas; apesar de criticada na época por suas inovações, a obra terminou consolidada como o grande divisor de águas, o marco da libertação das regras dos clássicos e românticos que o antecederam, tomando o rumo do futuro e a direção ao atonalismo (música sem centro tonal, aberta a múltiplas novas invenções). Por sua complexidade e duração, Tristão e Isolda foi ensaiada 70 vezes durante dois anos, pela Ópera de Viena, até que houveram por bem concluir que a montagem era tarefa impossível.
O Castelo de Corwall
O Liebestod (amor-morte) de Tristão e Isolda é contaminado pelas influências de um conterrâneo de Wagner, o filósofo do pessimismo, Schoppenhauer. Assim como em O Navio Fantasma, a história de Tristão, um nobre da Bretanha, e Isolda, princesa da Irlanda, abre tendo como cenário um navio. Tristão, com a ajuda de seu criado Kurwenal, foi encarregado de levar a princesa para que ela se casasse com o Rei Marcos (King Marke), de Cornwall, seu tio.
Tristão, Isolda e a poção do amor. Waterhouse, @ 1906
Tristão, tendo matado Morold, noivo de Isolde, dela recebia apenas sentimentos de rancor pelo assassinato de seu par. Ela confia a Brangäine, criada e confidente, a preparação de uma poção mortal, para brindar com Tristão, uma despedida para a partida de ambos deste mundo rumo ao além. Porém, Brangäine não cumpriu a determinação de sua ama Isolde e, em segredo, ao invés de um veneno mortal despejou nas taças uma poção, um milagroso filtro de amor. Após o brinde, Tristão e Isolda se olham, mas a esperança de que ambos morreriam envenenados os frustrou – aguardava-os apenas o efeito da poção, que desconheciam, e que logo viria a fazer efeito.
O Rei Marcos de Cornwall finalmente desposa Isolda, mas logo durante sua primeira viagem de caça, ela e Tristão, inebriados pela magia do filtro de amor que unia seus corações, abraçam-se, beijam-se e se entregam como loucos amantes, perdidos nos belos jardins do palácio real. Chegando de suas aventuras de caçador, o Rei, já sabendo da traição de Isolde, vê Melot, seu guardião pessoal, ferir seriamente Tristão; o próprio soberano impede, por misericórdia, o golpe mortal de seu servo.
O Rei Marcos e a bela Isolda
Tristão sofre em razão do ferimento, e enquanto vai-se esvaindo, implora por Isolda e pela morte, que não lhe respondem, deixando-o alucinado e em desespero. Tristão, ao ouvir que um navio havia chegado, e que nele chegara Isolda, consegue se levantar e ao reencontrá-la se joga nos braços da amada, abrigo para seu último suspiro. Tristão cai, e Isolda desfalece sobre seu corpo. Surge em cena o Rei Marcos, que perdoa Isolda, sabendo do filtro do amor que aos amantes fora dado às ocultas pela criada Brangäine, julgando que aquela poção fora a causa da paixão entre os dois enamorados.
Morte de Tristão. Óleo sobre tela de Mariane Stokes. 1902
Abraçada ao corpo inerte de seu amado, Isolda canta uma melodia plangente e profunda, implorando pelo mundo distante em que ela e sua metade de amor um dia se encontrarão. É um canto lindíssimo, um lamento cortante, envolvente; Isolda faz ouvir, do mais profundo de seu coração, sua desesperada expressão de amor: “no fulgor da luz eterna, eu me entrego e me rejubilo”.
Relevo em Marfim: Tristão e Isolda, sob os olhos do Rei Marcos
Talvez o leitor ache curioso, mas, voltando à vida real, Cosima, esposa e paixão de Wagner, fez com ele um pacto secreto de amor: quando o compositor morresse, ela se envenenaria, para ambos partirem juntos para o além. Talvez fosse até absurdo, sim, nos dias de hoje, se não estivéssemos falando de Wagner e sua ópera Tristão e Isolda.
Há inúmeras gravações desta ópera, mas uma antiga de Furtwängler para a EMI é histórica. Para quem quer conhecer o lindíssimo Prelúdio, o Youtube disponibiliza uma gravação de Zubin Mehta à frente da Bayerische Staatsoper, coisa de tirar o fôlego.

Para ouvir o Liebestod, uma comovente gravação na voz maravilhosa de Leontyne Price, trecho em que Isolda canta com ardor seu desespero: “suave e gentilmente / como ele sorri / vocês não veem? / vocês não veem? / (...) será que sou a única a ouvir essa melodia?”. Ouça abaixo o Liebestod, com a diva. Uma experiência Inesquecível.


Nenhum comentário:

Postar um comentário